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Sinopse

Acidentalmente, a família de Kevin McCallister o esquece em casa nas férias de Natal. Sozinho e sem ter ninguém a quem recorrer, o menino de apenas oito anos terá que resolver seus problemas: ir às compras, cozinhar, lavar a roupa e até espantar os ladrões que tentam invadir sua casa.

Crítica

Na virada para os anos 1990, Chris Columbus era um nome que começa a despontar em Hollywood, ao mesmo tempo em que John Hughes já estava consagrado como o Midas do cinema adolescentes da década anterior. Afinal, se o primeiro havia dirigido apenas o movimentado Uma Noite de Aventuras (1987) e o pouco visto Uma Noite com o Rei do Rock (1988), ao mesmo tempo havia assinado os roteiros de fenômenos como Gremlins (1984) e Os Goonies (1985). Isso lhe credenciou para se aproximar de Hughes, responsável por obras icônicas, como Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986). O que nenhum dos dois tinha feito até o momento, no entanto, era criar uma narrativa focada quase que exclusivamente nas crianças. E foi dessa ousadia, portanto, que nasceu Esqueceram de Mim, talvez a mais bem-sucedida de todas as empreitadas da dupla.

O enredo é bastante simples. A família McCallister vai para Paris passar os feriados de fim de ano. E entre as dezenas de filhos, sobrinhos e parentes, um despertador atrasado e uma correria de última hora acaba gerando uma falha quase imperdoável: eles saem de casa – e embarcam no avião – sem levarem consigo um dos filhos, justamente o pequeno Kevin, que havia ficado de castigo e mandado dormir no sótão. Macaulay Culkin, no papel do protagonista, deita e rola com um carisma singular. É o legítimo caso de estrela que brilha muito cedo e, infelizmente, não consegue se repetir ao longo de uma carreira. O garoto passa grande parte da trama praticamente sozinho em cena, e em nenhum momento deixa transparecer essa responsabilidade, levando com leveza e muita habilidade tudo o que dele se espera. Afinal, ele não foi apenas deixado para trás. Como o único representante no lar, terá ainda que defender a propriedade das investidas dos ‘Ladrões Molhados’, dois bandidos de meia-tigela que farão de tudo para invadir a residência na noite de Natal, acreditando que os donos estão bem distantes. Mal sabem eles com o que terão que lidar.

Depois desse filme, Culkin capitalizou como poucos o súbito estrelato. Apareceu não apenas na sequência – Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York (1992) – como ficou à frente de sucessos como Meu Primeiro Amor (1991) e Riquinho (1994). Porém, à medida em que a adolescência chegava, o charme infantil lhe abandonava. E Hollywood sabe ser particularmente cruel nestes casos. Foram anos sem trabalho – envolvido em polêmicas como drogas e problemas em casa, como o próprio pai, que foi acusado de roubar os ganhos do filho – até surgir em títulos independentes como Party Monster (2003) e Galera do Mal (2004). Infelizmente, nunca mais se recuperou. Diante dessa visão, Esqueceram de Mim ganha um ar ainda mais especial, pois funciona também como uma cápsula do tempo: todo o talento e a graça de uma revelação que surgia envolta em grandes apostas segue preservada, fazendo com que o filme funcione tão bem hoje como quando foi lançado, há quase três décadas.

Columbus, que posteriormente voltaria a trabalhar com astros mirins em Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), se revela o parceiro ideal para o Kevin de Macaulay Culkin. O garoto faz de sua casa uma verdadeira montanha russa de emoções, com armadilhas que vão desde piche pelas escadas e um ferro de passar ligado, maçanetas aquecidas a aranhas soltas, bonequinhos de chumbo espalhados pelo chão até travesseiros de pena em frente à ventiladores. Algumas das artimanhas podem parecer um pouco elaboradas demais para alguém tão pequeno, mas são pecados menores diante de uma engrenagem que beira à perfeição. Joe Pesci – no seu primeiro trabalho após ter ganho o Oscar por Os Bons Companheiros (1990) – e Daniel Stern formam uma dupla e tanto, e a sintonia que estabelecem com o garoto é preciosa. Eles literalmente abraçam a causa, sofrendo nas mãos do valente defensor aquilo que poucos ousariam tornar realidade.

Mas também não é motivo de alertar os politicamente corretos. Afinal, a violência que se vê em Esqueceram de Mim é a mais cartunesca possível, típica dos desenhos animados. É quase uma versão live action dos embates clássicos vistos entre Tom & Jerry, Frajola & Piu-Piu ou Papa-Léguas e o Coiote. As reações são extremas, sempre exageradas, mas funcionam dentro de uma lógica que os renova a cada momento, deixando-os constantemente prontos para a prova seguinte. E elementos que terminam por se desenrolar em paralelo, como a jornada da mãe de volta ao filho, ou o velho senhor da casa da frente, que passa de ameaça a grande aliado, terminam por completar o pacote de aventuras, sem nunca deixar de delimitar uma porção generosa de afeto e calor humano. Um daqueles conjuntos em que o acerto se torna imortal e inesquecível, resultando em uma referência de como fazer uma comédia natalina disposta a durar por gerações.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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