Crítica
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Sinopse
Crítica
À primeira vista parece que embarcaremos numa viagem repetida e genérica. Jason Statham interpretando um brutamontes considerado essencial para o êxito de uma missão ultrassecreta e Guy Ritchie reafirmando suas credenciais como diretor capaz de fazer mirabolantes cenas de ação, às vezes muito mais estilosas e exibicionistas do que outra coisa. Pois bem, por essas e outras não é aconselhável julgar os livros estritamente pelas capas ou confinar prematuramente os artistas nas caixinhas que tantas vezes são criadas para separa-los comercialmente. Esquema de Risco: Operação Fortune é um filme de espionagem com tons e elementos clássicos: governos saqueados por inimigos sorrateiros e absolutamente cirúrgicos em suas ações; um protagonista tão genioso quanto habilidoso; coadjuvantes carismáticos que dinamizam o desenvolvimento da história; e executivos desalmados puxando as cordinhas como se os demais agentes do plano fossem marionetes úteis a serem descartadas depois. No entanto, não contemplamos um longa-metragem que somente reutiliza velhas fórmulas e estereótipos do filão, mas um motivado por evidente autoconsciência. Do mesmo modo, não estamos no campo da paródia e da sátira, mas no da reprodução proposital de componentes e tiques em prol de algo surgido a partir de uma tradição. Trata-se de uma divertida viagem pelas curvas consolidadas dos filmes de espionagem.
Se esperávamos de Jason Statham apenas mais uma performance funcional como herói de ação, nos surpreendemos com a exploração de seu insuspeito talento cômico. Claro que há cenas de seu personagem, Orson Fortune, mostrando quem manda realmente na corrida por algo que foi roubado do governo britânico. O astro é perito nessas sequências que demandam coreografias e a representação de força brutal, mas talvez poucos diretores anteriores utilizaram de modo tão eficiente a sua capacidade como artista cômico. Condizente com o tom brando e de certa forma refinado do humor presente em Esquema de Risco: Operação Fortune, Statham oferece ao espectador o núcleo nervoso dessa reprodução de clichês solidificados ao longo dos anos nos filmes de espionagem. Ele esbanja o dinheiro do contratante em vinhos caros, não se faz de rogado ao gastar outras quantias proibitivas durante a missão e exerce com certo desdém a sua vocação pela aniquilação dos oponentes. É como se agisse sempre respaldado pela certeza de que nada de grave acontecerá consigo e tampouco com os seus companheiros, afinal de contas ele representa o bem lutando contra o mal. Guy Ritchie igualmente faz jus à fama quando as cenas pedem ação empolgante, mas também subverte expectativas ao dar bastante atenção ao modo como as sutilezas atribuídas ao humor respaldam a grande e bem-humorada homenagem.
Quanto à trama, é um museu de grandes novidades, como diria Cazuza. Orson é incumbido de impedir que um instrumento misterioso e potencialmente destrutivo caia nas mãos erradas, tem a ajuda de uma equipe de notáveis e se depara com diversos inimigos. No entanto, essa corrida contra o tempo acaba se tornando uma desculpa para Guy Ritchie brincar com os códigos do filme de espionagem, ora observando-os no que eles têm de mais ridículo em contato com a realidade, ora oferecendo decalques carregados por um senso de celebração. A certa altura pensamos “dane-se o que é o tal dispositivo e pouco importa a identidade do verdadeiro vilão”, pois a viagem passa a ser fundamental e não os destinos. E essa jornada é repleta de homens falastrões, endinheirados que utilizam a caridade como disfarce para as suas maldades, festas nababescas em que negociatas ilegais são fechadas, homenzarrões que existem basicamente para movimentar os trechos de ação e, claro, deslocamentos pelo mundo no melhor estilo James Bond. Entre os coadjuvantes, o destaque é Sarah Fidel (Aubrey Plaza), especialista em quebrar sistemas de segurança, dona das sacadas mais cáusticas do filme. A atriz norte-americana rouba a cena sempre que aparece, seja como a mulher fatal clássica das histórias de espionagem ou mesmo encarnando um contraponto considerável à predominância masculina nesse universo.
Esquema de Risco: Operação Fortune não alcança voos ainda maiores por conta de alguns buracos no roteiro assinado por Ivan Atkinson, Marn Davies e Guy Ritchie, vide o sumiço de personagens durante um período de tempo extenso demais. Além disso, há conveniências que passam um pouco do ponto, mesmo tendo em vista o gesto de dar uma banana para a realidade e abraçar o absurdo como elemento essencial e canônico dos filmes de espionagem. Diálogos propositalmente cafonas como “não se coloca gasolina barata numa Ferrari“ – Orson se referindo ao colega de elite bebendo vinho caro – caem como uma luva na progressão que não visa a resolução do crime, mas a criação de uma experiência cheia de pontos de identificação. Desse modo, a sensação de “já vi esse filme antes” não é inimiga, mas uma enorme aliada. Guy Ritchie mergulha num universo conhecido e demonstra consciência de seu funcionamento. Por isso, empresta, na cara dura, de exemplares anteriores e distorce levemente seus componentes em busca de um resultado entre o tributo e a empolgante tiração de onda. Outro membro do elenco que merece destaque especial é Hugh Grant, que deita e rola como o mercador de armas exagerado e com um fraco pelo astro de cinema vivido por Josh Hartnett. Aliás, a brincadeira entre a realidade e a representação poderia ser melhor aproveitada, mas ainda assim rende boas sacadas num filme compromissado com a manutenção da chama do puro entretenimento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
Victor Hugo Furtado | 7 |
Celso Sabadin | 5 |
Arthur Gadelha | 6 |
MÉDIA | 6.2 |
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