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Sinopse

Companheiros há mais de 40 anos, Gatto e Barbot passam a viver e a ensaiar com sua companhia de dança no centro do Rio de Janeiro, mais especificamente num casarão antes abandonado.

Crítica

Gatto Larsen e Rubens Barbot estão juntos enquanto casal há mais de quatro décadas. Isso, ao menos, é o que afirma o material de divulgação de Esse Amor Que Nos Consome, filme de estreia em longa-metragem de Allan Ribeiro, até então um premiado curta-metragista com mais de 70 prêmios no currículo. No entanto, ao observar esse seu mais recente trabalho, a conclusão que chegamos é que talvez essa mudança no formato tenha vindo cedo demais. Afinal, a diferença entre estes dois produtos não está apenas em sua duração, mas também no modo como se estrutura o roteiro, no desenvolvimento dos personagens e no olhar do realizador, que precisa aspirar por algo além do óbvio. Objetivos, que, infelizmente, aqui não ganham espaço.

É de se questionar a que paixão se refere o título do filme. O relacionamento entre os dois protagonistas, por exemplo, é tratado com muita displicência, e o único indício que temos a respeito do afeto que existe entre eles se dá através de diálogos triviais do dia-a-dia, como ao decidir o que comprar na feira ou na necessidade de arrumarem o chuveiro estragado. Aproximação acontece em único momento durante toda a projeção, e ainda assim é para um abraço forçado. Trata-se de um amor calmo, sereno, sem arroubos. Mas a que – ou a quem – esse sentimento consome?

O filme começa com Rubens indo a uma mãe de santo pedir ajuda para o próximo desafio do casal: ocupar um casarão há muito abandonado e que se encontra para alugar. O local é precário, sem melhores condições de uso e necessita uma reforma dispendiosa. A senhora afirma, através dos búzios, que apesar de ser um empréstimo aquela casa será deles. Ali poderão não somente se instalar, mas também recriar a companhia de dança que ambos administram. Sem apoios ou patrocínios, aproveitarão essa oportunidade para idealizar novos espetáculos em suas lutas tímidas em nome da arte que neles impera.

Assim como em Pina, documentário de Wim Wenders indicado ao Oscar sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch, Esse Amor Que Nos Consome também faz uso do lirismo da dança para ocupar a cidade onde estes artistas moram. Assim, entre cenas sobre o cotidiano destes personagens, registradas de modo discreto e minimamente intrusivo, acompanhamos apresentações de bailarinos à beira do cais, embaixo do viaduto ou em qualquer outro espaço urbano disponível. São eles fazendo uso do Rio de Janeiro de cada um, vencendo a opressão imobiliária num esforço quase inútil, porém nunca desprovido de beleza.

No entanto, há um grande problema: apesar do tom nitidamente documental, Esse Amor Que Nos Consome foi apresentado na mostra competitiva de longas de ficção do 45° Festival de Brasília. Essa classificação provoca sérios questionamentos. Seria isso apenas uma encenação? Nada é de fato conforme está sendo entregue? Essa luta pela sobrevivência artística e pessoal é apenas uma fantasia ou acontece de fato? Todos os “atores” possuem o mesmo nome dos seus personagens – ou vice-versa. Os episódios aqui narrados são assumidos por seus protagonistas como fatos de suas vidas reais. Então onde está a criação fictícia? O que aqui foi imaginado e ensaiado e o que foi apenas registrado de forma espontânea? Essa confusão de limites mais incomoda do que provoca, prejudicando seriamente uma melhor percepção da obra.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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