Crítica
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Sinopse
O público tornou-se apaixonado por assistir à degradação de outros na televisão e na internet. Eles desejam um argumento selvagem, uma luta sangrenta ou um escândalo publicitário. Essa se tornou a principal fonte de entretenimento. Mas quando parece que os limites não podem ser mais ultrapassados, o apresentador de um game show, Adam Rogers, decide quebrar as barreiras ao colocar no ar um jogo no qual os concorrentes arriscam suas vidas pela chance de ganhar dinheiro.
Crítica
Muitos intérpretes, quando questionados, afirmam que o que geralmente os leva a se aventuraram por trás das câmeras é a busca por melhores papeis. Ou seja, se não os convidam para interpretarem grandes personagens, eles mesmos decidem criar essas oportunidades para si. Essa, obviamente, deve ter sido a motivação maior de Giancarlo Esposito ao se envolver com esse Esta é a Sua Morte: O Show, um filme apelativo e equivocado sob diversos aspectos, mas que lhe proporciona a chance de defender uma figura que, ao menos em teoria, soa mais consistente do que os tipos genéricos aos quais ele vinha emprestando seu talento em produções como Jogo do Dinheiro (2016) ou Maze Runner: Prova de Fogo (2015). Isso, como dito, apenas enquanto conceito, pois sua evidente falta de experiência enquanto realizador transformou esse conjunto em um produto redundante e tão anacrônico quanto a crítica que busca registrar.
Esposito, no entanto, não é o protagonista de Esta é a Sua Morte – ainda que reserve para si o clímax da trama (tornando óbvia uma indecisão quanto a quais rumos seguir com o roteiro). No centro da história está Adam Rogers (o inexpressivo Josh Duhamel, um dos pontos mais fracos do filme), um apresentador de reality shows que entra em choque quando uma participante de um programa de casamentos, ao ser rejeitada, se suicida ao vivo, não sem antes assassinar seu até então pretendente. Após um momento de epifania – em uma participação desnecessária de James Franco – em que assume seu verdadeiro sentimento a respeito do ocorrido, Rogers decide lidar com o fato enfrentando-o – e, por que não, lucrando com ele. É quando tem a ideia de um novo show, chamado apropriadamente Esta é a Sua Morte. Nele, suicidas em potencial são encorajados a se matarem diante uma plateia incrédula. Como estímulo maior, o público é convidado a fazer doações em nome do futuro falecido, com o acréscimo de que a emissora irá dobrar o valor arrecadado. Qualquer um com problemas financeiros, portanto, tem aqui a chance de ajudar sua família e entes queridos, “saindo de cena” em grande estilo, digamos.
Este, como logo percebemos, é o caso de Mason (Esposito), um faxineiro prestes a ficar desempregado e sem recursos para cuidar da esposa sobrecarregada e dos dois filhos menores – como desgraça pouca é bobagem, o menino é, ainda por cima, deficiente, e precisa de muletas para se locomover. Diálogos expositivos e didáticos fazem dessa parte do enredo a mais entediante, e ao invés de aproximar o público ao drama destes em necessidade, o que consegue é gerar um sentimento de antipatia, tamanha é a artificialidade dos elementos envolvidos. Outro segmento que não funciona é a relação de Rogers com sua irmã, Karina (Sarah Wayne Callies, de No Olho do Tornado, 2014), uma ex-viciada em recuperação que hoje trabalha como enfermeira em uma ala infantil. Ele, tão atencioso com ela, passa a se envolver com o programa a ponto de negligenciá-la e a ignorar qualquer pedido de ajuda. A maneira que ela irá encontrar para voltar a ter a atenção dele não só será óbvia como acrescenta um novo nível de distúrbio a um contexto já bastante problemático.
E por que isso acontece? Porque Esposito, se sem uma mão firme o conduzindo já deixa evidente uma irregularidade enquanto ator, sendo incapaz de oferecer as nuances que seu personagem exige, como realizador o resultado é ainda mais tortuoso. Ele tem em mãos no mínimo três caminhos a seguir – o programa de televisão sensacionalista que se alimenta daquilo que pretendia denunciar, a família em crise prestes a cometer um sacrifício maior e os irmãos fragilizados com dificuldades de se conectar – e não consegue trilhar nenhuma destas rotas com segurança. Além disso, outros acréscimos são providenciados, como a executiva sedenta por audiência (Famke Janssen, não indo além do estereótipo) e a produtora indecisa entre fazer o que lhe pedem ou o que sua consciência manda (Caitlin Fitzgerald, de Brilho Eterno, 2016). Todos acabam se conhecendo de um modo ou de outro, porém sem muita relevância além de um “ah, eu já o vi antes”. E nada mais.
Fica claro durante o desenrolar das ações de Esta é a Sua Morte: O Show que Giancarlo Esposito queria fazer do seu filme mais do que um simples protesto, mas lhe falta tanto material para conseguir elevar o que tem diante de si além da pura e simples mediocridade que o mais aconselhável seria resignar-se à condição de coadjuvante em projetos de cineastas mais competentes, ou buscar exercícios cinematográficos menos audaciosos e mais condizentes com sua falta de habilidade. Atores nada carismáticos – Duhamel parece mais preocupado com o topete do que com as barbaridades que seu discurso promove – e um texto que ignora análises mais profundas formam um conjunto nada atraente. E assim, ao invés de apontar absurdos, tudo o que consegue é afundar-se na própria confusão que arma, sem que nenhum dos seus elementos consiga se elevar a ponto de provocar um mínimo de reflexão. E, com um argumento como esse em cena, a única conclusão possível é que este, sim, é o verdadeiro crime por aqui.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Roberto Cunha | 6 |
Leonardo Ribeiro | 2 |
MÉDIA | 3.7 |
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