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Crítica


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Sinopse

Max decide tirar um final de semana de folga em sua casa de praia, inclusive para livrar-se de certas preocupações. Uma festa surpresa de aniversário coloca um balde de água fria nesses planos.

Crítica

Max (François Cluzet), protagonista de Estaremos Sempre Juntos, está numa encruzilhada pessoal por conta de sua difícil situação financeira. O roteiro não aprofunda a questão, se contentando em citar um par de vezes que o sujeito deve uma quantia considerável, tanto que os compromissos com os credores o empurram à venda de sua querida casa de campo. A questão é que esse espaço guarda lembranças valiosas, não apenas as dele, mas as de um numeroso grupo de amigos que ao longo dos anos passou bons momentos por ali. Portanto, a dívida afeta a todos. A partir dessa premissa dá para esperar reviravoltas salvadoras no último segundo e dramas aparentemente limítrofes antecedendo mudanças de rumo em direção a uma recuperação/redenção. É justamente isso que o cineasta Guillaume Canet oferta, conduzindo questões importantes como se as mesmas fossem platitudes e não se esforçando para presentear o elenco estelar com papeis à altura de seus talentos.

Estaremos Sempre Juntos conserva um parentesco com As Invasões Bárbaras (2003), igualmente em torno da reunião de velhos amigos. Todavia, diferentemente do longa-metragem excepcionai do canadense Denys Arcand, ele não investe adequadamente nas tensões e nos afetos que interligam os personagens como argamassa. Por exemplo, é praticamente irrelevante a atividade de cada um. Pouco importa se Eric (Gilles Lellouche) é um ator famoso, senão como explicação à capacidade de locar uma mansão em determinando instante mais dramático. Marie (Marion Cotillard) tampouco é desenhada a partir de suas singularidades, funcionando tão e somente de acordo com o que circunstancialmente representa dentro dessa dinâmica coletiva. Nem as possíveis contendas pessoais, como a centralizada em Vincent (Benoît Magimel), atraído pela ex-esposa, ainda que acompanhado do novo namorado, são aproveitadas no desenvolvimento bastante morno.

Sequência direta de Até a Eternidade, Estaremos Sempre Juntos quer elogiar a união em detrimento das potencialidades/atuações individuais. Há uma aproximação simplória dos desdobramentos de rusgas, desamores mal curados, frustrações e saudades. Quando não detido no processo tortuoso de autocomiseração de Max ou apelando a acontecimentos paralelos, como o flerte de um rival com sua ex-esposa – um dos segmentos mais descartáveis do longa –, o conjunto tenta, em vão, substanciar essa lógica de resistência asseverada pela unidade. Há um esquema bem definido, do qual Canet pouco escapa, ao bem da verdade. São previsíveis as declinadas de última hora, os desfechos relativamente conciliáveis, a superação de barreiras cotidianas (tais como a criação da filha sem a ajuda da babá) e toda sorte de ocasiões que apontam para algo esperado. Há uma sensação de estagnação, como se pouco efetivamente acontecesse nas mais de duas horas.

A residência é apontada como templo das amizades construídas e refeitas. Porém, a não ser nos minutos derradeiros, quando surgem fastasmagorias que confirmam a importância do imóvel ao protagonista prestes a se desfazer dele por falta de opção, existe pouca vontade de explorar esse verdadeiro totem, senão como um abrigo puro e simples. Provavelmente essa debilidade narrativa tenha a ver com a necessidade de recorrer ao predecessor para entender integralmente os vínculos e as questões ali postas. Estaremos Sempre Juntos passa ao largo de sustentar-se sozinho, mas não somente por confiar completamente ao anterior a missão de delinear os personagens, pois nem só do outrora vive essa conjuntura de carinhos e relacionamentos diversos. Guillaume Canet lança luzes em vários sentidos, mas perde a oportunidade de fazer da valorização dos elos o núcleo duro desse filme que, então, transcorre em banho-maria, sem nada muito memorável ou mobilizador.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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