Crítica
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Sinopse
Elisabete viveu sua infância na paradisíaca praia de Tabatinga, no Nordeste do Brasil. Devido a um misterioso trauma, ela abandonou o lar e nunca mais conseguiu se encontrar. Aos trinta anos, anseia por identidade, pois não se sente confortável em sua própria pele, sendo uma estrangeira em seu mundo.
Crítica
São vários os instantes de Estrangeiro em que a beleza dos planos impressiona. A composição fotográfica, assinada por Raphael Aragão, Julia Sartori e Charliane Rodrigues, é o que de melhor o longa de Edson Lemos Akatony tem. Aliás, para fazer jus aos predicados do filme, é bom pontuar que há qualidades evidentes não apenas no que tange à construção das imagens, mas também ao desenho de som, trabalho a cargo de Janaína Lacerda, Leonardo Gonçalves e Charliane Rodrigues. Há um cuidado para que essa associação ajude a espelhar e/ou projetar determinados estados de espírito. Um bom exemplo disso é o barulho incessante do mar quando a protagonista, Elisabete (Cecilia Retamoza), retorna à velha faixa litorânea na qual passou sua infância marcada pela introspecção. Filha única, ela encontrava numa amiga o respiro à sua solidão. Isso é apresentado por meio de flashbacks situados como estilhaços de memória vindo à tona e se espatifando na superfície.
A despeito da artesania, do esmero para tornar o conjunto menos dependente de expedientes expositivos, Estrangeiro é asfixiado sobremaneira justamente pelos pontos que mais o destacam positivamente. Tal paradoxo se dá porque o cineasta não consegue estabelecer uma ponte suficientemente expressiva entre a concepção dos personagens, suas buscas e intenções, das mais recônditas às escancaradas, e essa delineação da atmosfera que flerta constantemente com o onírico. A associação com a lenda de uma índia que parte de seu território em busca de algo proveniente da lua é um dos sintomas dessas tentativas de instaurar um par de esferas no limiar nem sempre claro entre o sonho e a realidade. Há uma busca, também, pela projeção da paisagem interna da personagem principal na geografia externa e vice-versa. O resultado é uma obra engessada, confusa, em que a falta de apoios ao espectador advém da ineficiência para orquestrar o todo.
Nos dois primeiros capítulos, Edson Lemos Akatony investe nos vislumbres dos cenários, no estabelecimento da lenda no horizonte lírico, na valorização dos meneios da natureza que adquirem novos contornos. Em meio a isso, Elisabete trava diálogos tolos com uma mulher num aeroporto. Sua interlocutora está ali, mas não sabe para onde vai, parece à espera de um vento que sopre e lhe carregue. Essa dinâmica poderia adensar a angústia da protagonista pela ausência de uma real conexão, inclusive territorial, uma vez que ela não sabe se pertence a algum lugar. Mas isso somente deflagra certas dificuldades dramatúrgicas que, quando somadas, acabam criando um peso demasiado. O filme, então, se torna enfadonho, refém de ocorrências esparsas que movimentam a trama. Há um divórcio entre a dimensão formal, bem construída, e a equivalente ao frouxo conteúdo. As duas deveriam caminhar conjuntamente, se retroalimentando, mas acabam disputando espaço.
Estrangeiro, ao menos numa cena específica, reverencia o cineasta norte-americano Terrence Malick, especialmente a estética bastante peculiar por ele assumida a partir de A Árvore da Vida (2011). Elisabete e sua amiga, com quem flerta numa dinâmica absolutamente destituída de viço e pujança, se deslocam pela praia ao som de uma música opulenta, como se algo estivesse operando misteriosa e efetivamente em suas vidas naquele momento. Não há indício de uma simbologia concernente à conexão com o divino, como nos filmes de Malick, mas o elo perseguido com a natureza é semelhante em solenidade. Sobra pouco terreno para compreender como legítima a angústia que faz a protagonista ruminar questões parcamente formuladas por meio de uma narração rarefeita em que a língua espanhola demarca a distância de uma raiz fundamental. Todavia, Edson Lemos Akatony perde-se nesse caminho belo e intrincado, mas insosso e confuso. Uma pena.
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