Crítica
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Crítica
A questão da identidade sexual de cada indivíduo tem aberto diversas portas, para as mais possíveis interpretações. O que tem sido um prato cheio para os cineastas de ocasião, aquele tipo de profissional invariavelmente dando seus primeiros passos enquanto realizador e que precisa, ao mesmo tempo, de espaço para exercitar sua técnica como, também, de atenção suficiente para viabilizar a continuidade de sua carreira. Este deve ter sido o maior atrativo de Eu, Ele e Ela para o diretor e roteirista Max Landis. Afinal, ele até pode ter sobrenome famoso, mas, como se sabe, talento não é hereditário.
Max Landis, para quem não sabe, é filho de John Landis, realizador de sucessos como Os Irmãos Cara de Pau (1980) e Um Príncipe em Nova York (1988), além dos dois videoclipes de maior sucesso da carreira de Michael Jackson: Thriller (1983) e Black or White (1991). Até então ele vinha levando uma carreira irregular como roteirista de filmes como Poder Sem Limites (2012), American Ultra: Armados e Alucinados (2015) e Victor Frankenstein (2015), mas depois de alguns curtas optou por se aventurar por trás das câmeras justamente com esse Eu, Ele e Ela, uma comédia romântica que busca emular o humor non sense e as situações absurdas tão características do cinema paterno, mas falha miseravelmente em cada uma destas tentativas. E mesmo assim, ele segue na cola do pai: seu próximo projeto, já anunciado, será um remake de Um Lobisomem Americano em Londres (1981), outro destaque da filmografia do seu progenitor.
Eu, Ele e Ela é um título que promete uma coisa, mas entrega outra nem remotamente tão interessante quando à gerada pela expectativa associada. Pra começar, Cory (Dustin Milligan, de Um Homem de Família, 2016) é um cara medíocre e sem grandes perspectivas que recebe um chamado de seu melhor amigo, o astro da televisão Brendan Ehrlick (Luke Bracey), em Los Angeles. O que este quer é uma ajuda para, enfim, sair do armário e se assumir gay. Só que Cory, na primeira noite após ter chegado, abandona sem pensar duas vezes aquele que estava precisando dele ao se envolver com Gabbi (Emily Meade, de Nerve: Um Jogo Sem Regras, 2016), uma garota lésbica que acabou de ser deixada pela namorada, a insensível Heather (Angela Sarafyan, de A Promessa, 2016).
“Eu”, portanto, é um rapaz sem eira nem beira, alguém que não é digno de confiança e ressentido pelo sucesso do amigo em relação ao seu próprio ocaso, que se torna obcecado por uma jovem que nem mesmo parece estar muito interessada nele. “Ele” é uma figura completamente estereotipada, um homossexual que o machão Bracey (que adora compor tipos atléticos, como o militar de Até o Último Homem, 2016, e o policial esportista de Caçadores de Emoção: Além do Limite, 2015) constrói fazendo uso dos clichês mais desgastados do gênero, dado à chiliques e de comportamento insensato. E “Ela” é uma menina de baixa-autoestima, que parece ter preferência por ser maltratada por seus amantes e vive se envolvendo em relações destrutivas e sem futuro. Diante tipos como esses, como criar identificação com o público?
Com participações descartáveis dos veteranos Scott Bakula – que teve melhor sorte em produções de temática LGBT como Sobre Viagens e Amores (2016), Minha Vida com Liberace (2013) e a série Looking (2014-2015) – e Geena Davis – que apesar do Oscar conquistado por O Turista Acidental (1988) há anos não tem um bom papel nas telas – e três protagonistas irritantes e dramaticamente pouco atraentes, este é um filme que atira para muitos lados, sem nunca chegar perto de qualquer alvo. Ao invés de um triângulo amoroso (o que talvez justificasse o título) ou mesmo uma atitude mais ousada a respeito do assunto abordado, Eu, Ele e Ela é convencional do início ao fim, apresentando uma visão até mesmo recatada e sem novidades a respeito de um tema que poderia ser melhor explorado se ao menos fosse visto por olhos curiosos ou meramente interessados. Esquizofrênico, volta e meia aposta em um tipo de humor deslocado e até mesmo ultrajante. Assim, mais constrange do que provoca, desperdiçando oportunidades e reduzindo-se a um mero pastiche de uma discussão que não merece ser tratada com tamanho desrespeito.
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