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Crítica


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Sinopse

Os primos Thiago e Guilherme não querem presenciar o enterro do seu avô. Por isso, eles fogem para o sítio da família para ter um dia leve com a amiga Priscilla. Porém, aquele lugar traz a ambos uma série de lembranças.

Crítica

O estilo de filmagem amadora com câmeras digitais, em que os próprios personagens registram as imagens apresentadas, se tornou um recurso muito utilizado por produções de baixo orçamento. O longa nacional Eu Nunca é mais um a se aproveitar desta técnica, e apesar de não chegar a se apresentar como um filme do subgênero found footage – a exemplo de sucessos como A Bruxa de Blair (1999) ou a série Atividade Paranormal – já que em nenhum momento tenta se passar por um falso documentário, o registro “caseiro” serve não só para driblar as restrições orçamentárias de uma produção totalmente independente, como também possui funções dramáticas definidas: elevar o realismo das atuações e trabalhar a metalinguagem.

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A história acompanha os primos Guilherme (Kauê Telloli) e Thiago (Francisco Miguez, de As Melhores Coisas do Mundo, 2010), que acabam de perder o avô. Ainda abalados pelo acontecimento e não querendo encarar as formalidades do enterro e do velório, os jovens decidem viajar para o sítio da família na companhia de duas amigas. O plano não sai exatamente como o esperado, e apenas uma das garotas, Priscila (Samya Pascotto), aceita o convite. A incompatibilidade numérica gera imediatamente uma disputa entre os primos, que apostam para ver quem ficará com a garota. Inicia-se então uma série de jogos de sedução (regados a álcool) entre o trio, que irá despertar velhas recordações nem sempre agradáveis. Além de atuar, Kauê Telloli também assina o roteiro e estreia na direção, demonstrando ter boas ideias. Os dois primeiros atos do longa são interessantes, mantendo a atenção do espectador pela boa dinâmica entre os três protagonistas. Mesmo com algumas repetições no aparente improviso do texto, os atores conseguem segurar bem a tensão dos duelos psicológicos e provocações mútuas, em especial Samya Pascotto como Priscila. Por ser o objeto de desejo, a garota acaba sendo também o lado mais forte neste triângulo, tendo consciência de seu poder sobre os dois pretendentes e assumindo o controle na maior parte do tempo, mesmo que Guilherme e Thiago não se deem conta deste fato.

A brincadeira metalinguística proposta por Telloli também é inserida de modo convincente na trama, quando para desestabilizar o adversário e denegrir sua imagem diante de Priscila, os primos começam a relembrar histórias constrangedoras ocorridas no sítio, que são “encenadas” com a ajuda da garota e registradas em preto e branco pela câmera, para deixar claro que se trata de algo fora dessa realidade e pertencente a outra época. O surgimento destas lembranças – como o caso extraconjugal do pai de Guilherme com a empregada do sítio ou a gravidez da ex-namorada de Thiago – altera o comportamento dos personagens e também sua relação com o ambiente. O sítio se transforma em uma espécie de quarto personagem, sendo o catalisador destas memórias e exercendo outros papéis, como o de refúgio para os problemas dos garotos. Sem internet, TV ou qualquer outro sinal de modernidade, este local preso no tempo funciona como ponte entre o passado e o presente de Guilherme e Thiago – apresentando paralelos, como os dos primos que antes jogavam videogames e agora continuam a jogar para enfrentar as dificuldades.

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É no ato final que o longa perde bastante de seu foco, quando uma reviravolta envolvendo a figura –nunca mostrada – de um velho e misterioso vizinho conduz a história para o caminho do suspense. Este acontecimento faz com que as atitudes e a interação entre os personagens fiquem confusas, por vezes contraditórias. A ambientação possui elementos com grande potencial para este suspense, mas que não são tão bem aproveitados quanto poderiam. E se o estilo de filmagem amadora foi consagrado justamente neste gênero, o posicionamento estratégico da câmera em determinadas cenas soa demasiadamente planejado e não natural, cortando muito de seu efeito dramático. O longa caminha para sua conclusão, apresentando uma reflexão sobre conflitos de gerações que infelizmente não encontra a densidade necessária nos fatos mostrados anteriormente para se fazer válida por completo. Ainda assim, Telloli acerta ao manter no ar a dúvida sobre a veracidade dos acontecimentos deste último ato, e mesmo realizando um trabalho com irregularidades, deixa uma porta aberta para a possibilidade real de evolução no futuro.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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