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Crítica


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Sinopse

Léo passou a vida inteira tentando se tornar um jogador de futebol famoso e bem-sucedido, mas a rotina suburbana nunca aliviou o seu lado. No entanto, mesmo com todos os problemas, faz o mesmo que todo bom brasileiro: não desiste e continua tentando. Na intenção de dar a volta por cima, vai para o tudo ou nada e arrisca uma última grande chance.

Crítica

Há um sufocante tom de autoajuda em Eu Sou Brasileiro. Flertando com o piegas, o cineasta Alessandro Barros sublinha a inclinação de Leo (Daniel Rocha) pela superação de obstáculos, como diz o chavão atrelado aos nascidos no Brasil, por “não desistir nunca”. O protagonista é um aspirante a célebre futebolista, por ora lotado na quarta divisão do estadual paulista. Os vislumbres da mãe (vivida por Cristiana Oliveira) costurando bandeiras são reforços dessa ideia de um povo incansável, que faz o possível e o necessário para vencer as dificuldades. Desde o princípio, porém, um excesso de sentimentalismo torna os elementos absolutamente banais, sintomas grosseiros de uma história fadada a apresentar altos e baixos de modo formulaico, ao ponto de determinadas conjunturas simplesmente cumprirem uma função tola nesse esqueleto frágil. Essa debilidade dramatúrgica é acentuada pela encenação frouxa e a utilização desbragada de estereótipos.

Para começo de conversa, Leo é o típico jovem ávido por dar uma vida melhor à mãe que lhe criou sozinha. Todavia, o realizador passa longe de substanciar o estrato social em que a família está inserida, tampouco dotando de personalidade o entorno, assim fazendo com que a pequena cidade seja praticamente genérica. A esfera sentimental também é vítima desse pendor por personagens rotuláveis, sem nuances ou mesmo densidade. Lu (Fernanda Vasconcellos), a amiga de infância de Leo, por ele completamente apaixonada, é deliberadamente contraposta à atual namorada do craque, esta considerada torpemente uma Maria-chuteira, vide as demonstrações de todos os comportamentos atrelados a esse clichê, como a necessidade de aparecer para as amigas simplesmente por conta do relacionamento com um boleiro. A oposição é corroborada pelo figurino provocativo de uma em detrimento das vestes recatadas da outra. O choque é bastante vulgar.

Em meio a uma partida definidora, capturada com o desleixo prevalente em Eu Sou Brasileiro, Alessandro Barros confere ao enredo uma guinada. O acidente (mal encenado) leva a interrupção da carreira promissora. Dali em diante, especialmente após a elipse que reconfigura o cenário, as mensagens edificantes se sucedem até asfixiar as possibilidades de complexidade. Todos os esforços são colocados em função da lição de moral, da construção de uma ideia de recompensa à perseverança. Para isso, a fórmula é aditivada constantemente de reveses, tais como o assalto do valor resultante da venda do carro – é impressionante como as consequências desse ato são sumariamente deixadas de lado –, a demissão em virtude de um episódio de descontrole, bem com a falta de dinheiro que gera as turbulências diante de uma caixa de supermercado. Tendo em vista a carta guardada na manga, revelada apenas adiante, essas estranhezas poderiam ser trabalhadas como indícios.

Eu Sou Brasileiro apresenta fraquezas em praticamente todos os departamentos. Da fotografia descuidada à negligência diretiva quanto às modulações das intensidades do elenco, tudo aponta para essa fragilidade que passa, inclusive, pela montagem de execução aproximada do amadorismo. Justamente pela falta de habilidade para engendrar quebras, como a sequela que interrompeu o sonho do protagonista, as recorrentes visões da mãe tentando o resgatar de um poço e até as incongruências gritantes, Alessandro Barros desperdiça as potencialidades do plot twist que reconfigura novamente a trama de maneira desastrada. Trazendo personalidades importantes, tais como Zezé Motta, em papeis beirando a figuração, com falas e interações artificiais ao ponto de quebrar o fluxo narrativo, o roteiro é uma colcha de retalhos mal cerzida. A obsessão em voga é pelo enaltecimento da resiliência de Leo. À direção nada mais importa, todo o resto é menosprezado.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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