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Sinopse

Uma mãe fica radiante após a filha lhe telefonar para dizer que encontrou alguém especial. Porém, a euforia logo se transforma em apreensão quando ela percebe semelhanças entre o pretendente e uma figura nociva do passado.

Crítica

Jason Blum começou sua carreira em 1995. No entanto, faz pouco mais de uma década, mais precisamente desde o lançamento de Atividade Paranormal (2007), que se consagrou como um novo Midas de Hollywood. De lá pra cá acumulou três indicações ao Oscar, diversos sucessos de bilheteria e só no momento, em meio à pandemia e à situação atípica enfrentada pelo cinema mundial em 2020, conta com mais de vinte projetos diferentes em desenvolvimento. Isso não quer dizer que seja infalível: o segredo da sua fórmula ser tão bem-sucedida está em conseguir disfarçar também aqueles trabalhos não muito elaborados. Afinal, com tanta coisa andando em paralelo, é de se esperar que uma ou outra acabe saindo dos trilhos, por assim dizer. Mais ou menos como aconteceu com os títulos selecionados para o que se determinou chamar Welcome to the Blumhouse, uma seleção de filmes que contam com seus envolvimento e que prometem mais do que entregam. Exatamente o que se verifica em Mau-Olhado.

Welcome to the Blumhouse consiste em um pacote que Blum fechou com a Amazon Prime Video para lançamento exclusivo em streaming, sem passar pelos cinemas, de alguns dos seus títulos. À primeira vista, parece algo especial, pensado para a ocasião. No entanto, um olhar apurado denota que, talvez, as coisas não tenham sido pensadas assim desde o começo. Para começar, um dos escolhidos é Mentira Incondicional (2018), que chegou a ser exibido no Festival de Toronto, uma das mais tradicionais plataformas de lançamentos cinematográficos. Depois, tem a justificativa escolhida para a iniciativa, que busca se validar mais pelas origens dos cineastas envolvidos – somente realizadores de origens emergentes e minoritárias, sem chance para homens brancos heteros cis norte-americanos – e menos pela qualidade das ideias por trás de cada empreitada. Ou seja, no papel é, de fato, muito bonito e louvável. Pena que o resultado na tela não esteja à altura do previsto.

Mau-Olhado, por exemplo, poderia, no máximo, ter rendido um curta-metragem bacaninha – e olhe lá. Afinal, os irmãos Elan e Rajeev Dassani até possuíam alguma experiência como técnicos de efeitos especiais, mas esta é uma das primeiras tentativas deles na condução de uma história do início ao fim. Partindo do roteiro do estreante Madhuri Shekar, procuram conduzir uma trama cuja reviravolta é anunciada desde o começo, e o clima de “deixa disso, talvez não seja tão grave” nunca consegue se sustentar – afinal, sabe-se de antemão que este é um filme de suspense/terror. Há algo de errado em cena, portanto, e qualquer dissimulação no sentido de gerar uma dúvida a respeito é falha, pois caso contrário tal conjunto sequer haveria razão de ser. É uma sinuca de difícil saída, e uma vez que é conduzida por profissionais quase amadores, a conclusão tem tudo para ser desastrosa – como, de fato, é.

Usha (Sarita Choudhury, de A Dama na Água, 2006) passou por um relacionamento abusivo quando jovem, um incidente que ainda lhe deixa marcas, principalmente por ter acabado em tragédia. Tantos anos depois, bem casada e com uma família feliz, tudo o que pode desejar à única filha, Pallavi (Sunita Mani, de GLOW, 2017-2019), é o mesmo destino. Por isso está tão preocupada em arrumar um marido para a garota, que já se aproxima dos 30 anos. Porém, assim que essa consegue, por conta própria, um namorado, a situação se inverte. Se antes a mãe torcia para vê-la apaixonada, agora passa a se preocupar com a rapidez do romance. E o motivo não poderia ser mais absurdo: ela começa a desconfiar que Sandeep (Omar Maskati, de Inacreditável, 2019) é a reencarnação do seu antigo namorado, que voltou para mais uma vez atormentá-la até tê-la somente para si.

Bom, não há muito mais a ser discutido a partir do momento em que tal cenário se arma. Mais da metade da trama se passa entre mãe e filha, cada uma num continente – Usha e o marido voltaram para a Índia, enquanto que a jovem seguiu morando nos Estados Unidos – falando pelo telefone. Quando, enfim, se reúnem, não causará espanto perceber que há uma agenda dissimulada para esse reencontro, que visa desmascarar o farsante e colocar um fim em tal maldição. Se bem que nada é para sempre em casos como esse, principalmente quando nem a morte parece ser algo eterno. Pallavi chega a ser desenhada como uma mulher interessante, mas logo se transforma em não mais do que uma desculpa. Sandeep é somente o clichê do gênero, e estará nas costas de Usha a responsabilidade de tornar o conjunto minimamente digno de atenção – tarefa essa fadada a não dar certo. Enfim, Jason Blum não se tornou um dos maiores produtores da atualidade ao acaso, e o fato de despertar curiosidade a respeito de uma obra tão problemática como Mau-Olhado deixa claro que, antes de qualquer coisa, ele é mesmo um ótimo marqueteiro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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