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Sinopse

Retrato franco da democracia brasileira em um de seus momentos mais tristes: o injusto impeachment de uma presidente eleita pelo povo. O início desse processo até o momento em que o novo presidente jurou propor o slogan o: “Não pense em crise: trabalhe”.

Crítica

“O povo brasileiro tem memória curta”. Nos últimos anos, tal afirmação, que cada vez mais ganha status de consenso, parece servir como válvula propulsora para que muitos documentaristas se proponham a revisitar passagens recentes da história do país, refletindo certa ânsia por compreender de modo mais aprofundado nosso atual, e altamente conturbado, cenário sociopolítico. Excelentíssimos, dirigido por Douglas Duarte, é mais uma obra a se voltar para as raízes da polarização que toma conta de grande parte da sociedade brasileira, adotando como evento central o impeachment de Dilma Rousseff. Contando com uma permissão concedida no primeiro semestre de 2016 para acompanhar o cotidiano do Congresso Nacional, o cineasta e sua equipe terminaram por presenciar justamente a ebulição do processo de derrubada da presidente, tendo acesso aos meandros de todas as etapas e às figuras que protagonizaram o episódio.

A sensação inicial de recorte histórico incompleto presente na premissa é compartilhada pelo próprio cineasta, que, como forma de contextualização, decide regressar um pouco no tempo, mais precisamente para as eleições de 2014, repassando cada movimento, de oposição e aliados, até a decisão pelo impeachment. A divisão em capítulos e a narração em off feita por Duarte, resumindo os tópicos mais relevantes, conferem um caráter bastante didático a esse primeiro momento do longa, algo atenuado apenas ligeiramente conforme avança para o mergulho nos registros feitos em 2016, no calor dos acontecimentos. A intenção clara do diretor é a de aproximar o público ainda mais de algo já conhecido, talvez, pela maioria – graças à exposição midiática massiva do caso à época – ao mesmo tempo em que procura extrair alguma especificidade que possa ser inédita ou reveladora do extenso material que tem em mãos.

Essa busca de Duarte, contudo, resulta quase sempre infrutífera, pois a familiaridade domina a maior parte da projeção, trazendo imagens, falas e gestos que já estão cravados nas páginas da história do Brasil, muitos assumindo um viés quase folclórico – como os embates e as justificativas dadas pelos deputados durante a surreal sessão de votação para a aprovação do impeachment. Por mais que o povo possa realmente se esquecer rapidamente dos fatos, estes, especificamente, ainda ressoam com grande intensidade, fazendo com que aquilo que o documentário tem de particular – como, por exemplo, os vislumbres próximos das articulações das lideranças dos três principais partidos do país (PMDB, PT e PSDB), bem como entrevistas individuais que se supõem mais informais e francas com alguns parlamentares – empalideça em comparação, não obtendo o impacto almejado.

Optando por, a partir de determinado ponto, abandonar quase por completo a narração explicativa, assumindo de vez o posto de observador passivo e deixando que as ações de seus personagens falem por si, Duarte tenta inserir o máximo de conteúdo possível – talvez ainda na esperança de se deparar com uma possível fagulha revelatória – dilatando consideravelmente a duração da obra, que chega a quase duas horas e trinta minutos. Tal inchaço deixa a sensação de falta de direcionamento, bem como da necessidade de uma decupagem mais minuciosa e, nesse aspecto, O Processo (2018), de Maria Augusta Ramos, com o qual Excelentíssimos acaba inevitavelmente comparado devido ao tema abordado, se mostra mais bem-sucedido, apresentando uma estruturação narrativa melhor definida, de foco claro – ainda que tenha quase a mesma duração – além de assumir mais abertamente seu discurso.

No caso do longa de Duarte, a colagem das imagens, ainda que siga uma ordem, a cronológica, em muitos momentos deixa transparecer certa arbitrariedade, sem que seja transmitido um sentido mais forte de fluxo de ideias. Em termos de composição estética dessas imagens, o longa também não encontra um olhar particularmente marcante, com planos quase sempre funcionais e práticos, sem maior elaboração – exceção feita a algumas poucas tomadas externas que acompanham as manifestações pró e contra o impeachment. Dessa forma, Excelentíssimos termina por se contentar com o papel de registro urgente da história, expondo um retrato bastante familiar – seja da polarização popular ou dos disparates de nossos governantes – que, mesmo tendo seu valor, apenas reforça conceitos pré-estabelecidos de todos os lados, sem conseguir inserir os fatos apresentados em uma esfera mais analítica e reflexiva.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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