Crítica
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Sinopse
Em busca de um amigo desaparecido, dois jovens são guiados por um hacker misterioso. A cada vez mais complicada trama envolve sinais enormes em plantações, aparições e desaparecimentos e uma possível conexão alienígena.
Crítica
Existir é um dos destaques latino-americanos do 13º Cinefantasy. E o seu prólogo alimenta as falsas expectativas de que teremos pela frente uma história grandiosa envolvendo viagens, enigmas e planos extraterrestres. Isso tudo por conta das luzes descendo do céu sobre sete pessoas ao redor do mundo, algo que sugere o vínculo profundo entre um sujeito da cidade de Córdoba, na Argentina, e uma europeia fazendo ioga em Paris, na França, por exemplo. Pensou em Sense 8 (2015-2018)? A estrutura das existências interligadas remete imediatamente à série. Mas, calma lá, pois as coisas são muito diferentes nesta realização com bem menos recursos. Rapidamente, somos lembrados de estarmos diante de uma produção com baixo orçamento, daquelas que precisam se esforçar para transformar a precariedade numa aliada. O cineasta Gabriel Grieco deixa de lado a pretensa grandiosidade e revela a existência de duas camadas narrativas. A história envolvendo estranhos conectados e alienígenas é a ilustração de um roteiro em processo de escrita – aliás, o próprio Grieco interpreta o autor. Nesse tipo de filme com dois (ou mais) níveis narrativos, geralmente é de suma importância compreender como um interfere no outro ou, ao menos, de que modos eles provocam sentidos quando tensionados.
No entanto, é estritamente no encerramento que a comunicação entre as camadas narrativas será importante. Em grande parte do tempo, o fato de termos alguém escrevendo a trama absurda e fantasiosa é uma desculpa à utilização de lugares-comuns. Essa lógica também serve de estratégia para desviar a atenção do espectador das fragilidades. Assim, o mistério é uma bomba de fumaça. O escritor diz “e encontram o militar e o cientista estereotipados das produções B norte-americanas”, assim demonstrando consciência sobre clichês e repetições nas quais incorre. Como não existe relevância nas transições entre a vida rotineira do roteirista e a reprodução da história sobre visitantes cósmicos, fica a sensação de que a metalinguagem é apenas um artifício para engolirmos mais facilmente as inconsistências do filme. No enredo dos ETs, Sofia (Sofía Gala Castiglione) é a namorada de um sujeito repentinamente desaparecido. Enquanto espera o retorno do rapaz de quem ninguém tem qualquer notícia, ela se envolve com o melhor amigo dele. Essa dinâmica retirada diretamente da tradição dos folhetins melodramáticos é trabalhada bastante superficialmente. Elementos fundamentais do cenário, como dúvida, culpa, hesitação e o desejo obviamente investido, não geram comoção nenhuma.
Existir alterna vislumbres repetitivos do roteirista criando e a materialização da trama. Por um lado, não há nada digno de nota nas pequenas crises do contador de histórias; por outro, a jornada de Sofia e do seu novo amor, Renzo (Victorio D'Alessandro), é tão desajeitada quanto a construção do suspense em torno de símbolos misteriosos em grandes plantações, entidades não corpóreas e a vilania do exército. Os dilemas sentimentais de Sofia não são cozinhados; as dúvidas do apaixonado Renzo, menos ainda; os homens do exército parecem figurantes de um programa humorístico; o enigma é desvendado aos poucos, mas de uma forma excessivamente burocrática (pistas que levam a outras pistas que, por sua vez, apontam às pessoas que podem dar novas pistas ou explicar exatamente o que acontece para ninguém ficar com dúvidas). Evidentemente, Gabriel Grieco parte de um lugar de admiração por esse tipo de intriga, mas para que o amor cinéfilo gerasse algo cativante, até mesmo em torno das precariedades, seria mais indicado que ele abraçasse a ideia do pastiche. E, curiosamente, será preciso o espectador aguentar as pontas até o encerramento de tudo se quiser compreender totalmente porque essa representação é estereotipada e tosca. O que falta é um desenvolvimento mais indicativo disso.
Pode-se dizer que o plot twist, grande aliado de Existir, também é o seu maior vilão. Aliado, pois realmente a surpresa revelada no encerramento ajuda a compreender melhor do que se trata tudo aquilo, como e porquê acompanhamos uma jornada que flerta constantemente com a caricatura e, às vezes, até com a comédia involuntária. Vilão, pois Gabriel Grieco cobre todos os rastros da verdade para garantir que a virada tenha um ponto de impacto. Para isso, ele não constrói um percurso engenhoso em que a forma – imagem, encenação, trilha sonora, montagem, etc. – contenha sugestões sobre diferenças e simetrias entre as camadas narrativas. Durante boa parte do longa argentino, prevalece a sensação de assistirmos a uma produção, no máximo, esforçada para fazer ficção científica dentro de um cenário econômico desfavorável. Não há atuações de destaque, situações memoráveis e um adequado incentivo da expectativa. Aí quando vem a surpresa, as coisas não ficam tão mais exuberantes ou dignas de empolgação, mas, ao menos, se tornam claros os caminhos tomados pelo roteiro e pela direção. No fim das contas, se trata de um exercício cinematográfico curioso de ficção científica realizada com poucos recursos, uma ligeiramente envergonhada (desajeitada?) homenagem às produções B.
Filme assistido durante o 13ª Cinefantasy, em junho de 2022.
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