Falando com Deuses
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Guillermo Arriaga, Hector Babenco, Álex de la Iglesia, Bahman Ghobadi, Amos Gitai, Emir Kusturica, Mira Nair, Hideo Nakata, Warwick Thornton
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Words with Gods
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2014
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México
Crítica
Leitores
Sinopse
Vários realizadores espalhados pelo mundo são convidados a falar de religião.
Crítica
Falando com Deuses é o primeiro filme de uma iniciativa imaginada por Guillermo Arriaga, cineasta mexicano indicado ao Oscar pelo roteiro de Babel (2006). Batizado como Heartbeat of the World (algo como ‘Batidas do Coração do Mundo’, em tradução literal), este projeto tem ambição global e pretende reunir cineastas dos mais diversos países e origens para falar sobre temas em comum a respeito do planeta que hoje habitamos. Os temas dos longas seguintes, a princípio, deverão ser Sexualidade, Política e o envolvimento com Drogas Ilícitas. Neste episódio inicial, a questão escolhida é a Religião. Para tanto, foram selecionados oito realizadores, cada um responsável por um curta independente, que se comunica com os demais apenas pela temática em comum. E como já é corriqueiro em obras deste tipo, a irregularidade é outra característica marcante.
O australiano Warwick Thornton é quem abre os trabalhos com True Gods, a história de uma mulher que precisa retornar às suas origens primitivas num dos momentos mais sagrados de sua existência: a hora de dar à luz ao filho prestes a nascer. O diretor de Samson and Delilah (2009), romance aborígene premiado no Festival de Cannes, conduz uma narrativa linear que impressiona pela fotografia estonteante e pela força da protagonista, que praticamente sem usar palavra alguma mostra o quanto somos ligados à natureza quando nos dispomos a abrir mão de todas as invencionices modernas numa busca pela terra de onde viemos. O início é forte, e abre caminho para outros segmentos interessantes.
Como o do argentino/brasileiro Hector Babenco, substituindo José Padilha, que em O Homem que Roubou o Pato coloca Bárbara Paz como a responsável pela danação do agora mendigo vivido por Chico Diaz, em desempenho impressionante. A peregrinação dele pelas ruas de uma cidade que não o acolhe e só encontra abrigo em um ritual de fé é um tanto fria, porém com qualidades inegáveis. Diferente do que a indiana Mira Nair alcança em God Room, sobre uma família que precisa decidir qual espaço do novo apartamento ficará reservado para os momentos de reza, e tudo o que consegue é realizar um teste de paciência com o espectador, que não tem como não se irritar com as futilidades de cada personagem. A forma, também, é mais interessante do que o conteúdo de The Book of Amos, do israelense Amos Gitai, que em um plano-sequência procura revelar as diversas facetas que habitam seu país, indicando que talvez elas não sejam tão diferentes entre si quanto se imaginaria num primeiro instante.
Os dois melhores capítulos são latinos e ficaram reservados para o final. O espanhol Alex de la Iglesia brinca com o catolicismo em The Confession, sobre o encontro de um homem à beira da morte com aquele que pode – ou não – ser o responsável por ela, numa trama de encontros e desencontros com passagens hilárias, enquanto que o próprio Arriaga faz literalmente chover sangue do céu em La Sangre de Dios, curta do qual se destaca a participação de Demian Bichir representando a pequeneza do homem diante do inexplicável. O sérvio Emir Kusturica, o iraniano Bahman Ghobadi e o japonês Hideo Nakata completam o conjunto com histórias curiosas, porém não mais do que isso. No total, oito religiões são abordadas – espiritualidade aborígene, catolicismo, islamismo, judaísmo, budismo, cristianismo ortodoxo, umbanda e hinduísmo, além, como não poderia deixar de ter, do ateísmo (Arriga é um ateu confesso).
Com uma emocionante trilha sonora composta por Peter Gabriel e curadoria do escritor Mario Vargas Llosa – que determinou a ordem de exibição dos curtas – Falando com Deuses é um filme ao qual assistimos com curiosidade e interesse, mas que no final permanece com o espectador mais por alguns destaques individuais do que pelo conjunto em si. A relevância dos elementos abordados faz com eles não soem tão distantes uns dos outros, o que talvez indique uma conclusão apropriada: os deuses podem ser muitos, mas o que importa mesmo é como lidamos com eles e, acima de tudo, entre nós mesmos. Talvez com mais humor (o espanhol é o único realmente divertido) e uma melhor sintonia entre imagem (em sua maioria belíssima) e discurso (muitas vezes vazio e repetitivo) o filme pudesse se sustentar como algo único. No entanto, o que temos são partes que se destacam mais que o todo. Resta agora esperar que o projeto continue e os próximos longas consigam superar essas pontuais dificuldades.
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