Crítica


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Sinopse

Intimado pelo chefe para ir ao México buscar uma carga de maconha, um traficante pede a uma stripper e dois adolescentes para acompanhá-lo e fingir que formam uma família em férias.

Crítica

A trama de Família do Bagulho – infeliz, porém apropriado, título nacional para a comédia We’re the Millers (algo como Somos os Millers) – não chega a ser propriamente original, porém tem seus elementos curiosos. David (Jason Sudeikis) é um traficante pé-de-chinelo que, após ser assaltado, recebe uma missão suicida do mafioso (Ed Helms) a quem deve uma grana alta: ir até o México buscar um carregamento de drogas. Para não levantar suspeitas na aduana, ele contrata uma stripper da vizinhança (Jennifer Aniston), a garota sem teto que mora na calçada em frente ao seu prédio (Emma Roberts) e o garoto nerd filho da zeladora (Will Poulter) para, juntos, fingirem ser uma família convencional, viajando de férias em um motorhome. Toda essa função – receber a tarefa, montar a farsa, cruzar a fronteira, pegar a maconha e voltar são e salvos para os Estados Unidos acontece em menos de 30 minutos. Só que o filme tem, ao todo, quase duas horas de duração. O que acontece no restante do tempo? Encheção de linguiça.

Os reais problemas para esse grupo de desajustados fingindo serem normais – ou o que a América tradicional convencionou chamar de ‘normal’ – começam na volta para casa. A van quebra, colegas de passeio os forçam a não levantar nenhum tipo de suspeita, um bandido mexicano enganado surge no encalço deles para reaver o conteúdo ilegal e até as próprias questões entre eles precisarão ser resolvidas. Claro que, neste processo, irão se conhecer melhor até que, no fim, esse grupo de estranhos formará uma “família de verdade”. Por mais absurdo que isso possa parecer, até com direito a discurso edificante no final.

Todos os clichês mais óbvios do gênero estão presentes em Família do Bagulho, reforçando que, apesar do competente elenco reunido, há pouco a se fazer diante de um roteiro fraco nas mãos de um realizador de imaginação limitada. Rawson Marshall Thurber (Com a Bola Toda, 2004) trafega por um caminho conhecido, sem ousar em nenhum momento. Com um tema que combina drogas, prostituição, abandono familiar e virgindade, seria de se esperar algo arriscado, repleto de humor negro e criatividade. Porém é justamente o contrário que acontece. Adivinha-se o final de cada sequência já nos seus instantes iniciais, obrigando o realizador a apelar até para piadas infames envolvendo órgãos genitais numa tentativa desesperada de provocar riso de qualquer forma, ainda que as trancos e barrancos.

Quando as únicas risadas ouvidas na sala de cinema acontecem após os créditos finais, no momento em que erros de gravação ocupam a tela (e disponíveis no YouTube), é porque algo de muito errado há com o filme. O sucesso de bilheteria (mais de US$ 220 milhões arrecadados até o momento) de Família do Bagulho é só um reflexo de como o público se comporta quando lhe é oferecido mais do mesmo com segurança, principalmente quando aparece numa bandeja de fingida transgressão. Jennifer Aniston pode ter mais de 40 anos, mas continua muito em forma, e Jason Sudeikis possui um excelente timing cômico. Isso, no entanto, é pouco para segurar um filme inteiro. O que, de fato, não aconteceu dessa vez.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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