Crítica
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Sinopse
Após a morte do pai, Alexander vê fantasmas e descobre a verdade sobre o novo marido da mãe.
Crítica
Analista incansável dos medos, anseios e enigmas do homem, Ingmar Bergman tem em sua extensa filmografia títulos que abordam os temas, muitas vezes, de forma pessimista. Como encerramento de sua carreira cinematográfica, o cineasta realizou seu longa mais autobiográfico e, ao mesmo tempo, o mais otimista, com Fanny e Alexander, considerado por muitos uma de suas maiores obras-primas. O filme com mais de três horas centra suas atenções nas crianças do título, em especial o garoto, um alterego do diretor sueco. No primeiro terço do longa, acompanha-se toda a felicidade das crianças ao lado da família, composta por atores e artistas envolvidos com teatro. Os cenários são coloridos, com atenção especial ao vermelho, especialmente nas paredes da casa onde moram. É época de Natal e a festa em torno da data reúne os parentes que há muito não se veem. Bergman mostra todo o charme dessa família, sem julgamentos, especialmente no que tange à sexualidade, tão aflorada em seus membros.
Quando o pai de Fanny e Alexander morre, a fotografia torna-se mais opaca. O medo da morte, de envelhecer, tão explícito na figura da avó e suas discussões, ganha contornos ainda mais palpáveis quando a mãe se casa com um bispo rígido, por quem não há afeição alguma. De ambas as partes. A rigorosa educação religiosa inclui punições severas, deixando as crianças presas boa parte do tempo a um quarto branco, mas sem vida, com poucos móveis, tendo apenas a janela (gradeada) como ponto de referência para o mundo lá fora
O padrasto do filme é como a figura do pai real de Bergman: um pastor luterano autoritário que deixaria o cineasta quase que traumatizado sobre culpas e pecados. Não à toa sua relação chegou ao fim na vida real, o que no longa se reflete com a morte trágica do padrasto, causada aparentemente por um acidente, mas também pelo desejo interno de Alexander, que cria (será?) um duplo na sua mente. Duplo este que causaria a tal morte de longe.
Alexander é como qualquer garoto pequeno, mas também o Bergman de muitos: alguém que cria uma fuga da realidade através da imaginação fértil, de personagens excêntricos (que variam de estátuas vivas, palhaços, fantasmas) e cenários exóticos. Um remédio para lidar com a dor da separação da família, dos amigos e dos castigos impostos pela religião. A direção de arte e os efeitos visuais de Fanny e Alexander retratam de forma minuciosa essa dualidade entre ficção e realidade, deixando a cargo do público, ora com situações dramáticas, ora com a sensível comédia, o que se aplica melhor ao momento.
O longa ganhou uma versão estendida para a televisão (veículo onde Bergman trabalharia desde então até sua morte) onde os sonhos e a imaginação de Alexander ganham ainda mais contornos, como a cena do deserto, talvez uma analogia à falta de rumo que a vida dos pequenos e de sua mãe tomou após o equivocado casamento com o bispo. Ainda assim, apesar deste clima sombrio que a segunda parte do filme toma para si, é no terceiro ato, em que a confusão interna do protagonista toma forma por meio das escadarias da casa onde ele e a irmã se refugiam, dos livros e bonecos espalhados pelas paredes e pelo chão. O que aparenta ser um caminho para a escuridão (realçado pela fotografia), na verdade é o caminho de volta para a luz, a família, a representação de que as situações estão para melhorar.
Ao final, com um Alexander adormecido no colo, sua avó lê para ele e o público um trecho da obra O Sonho, de August Strindberg: “Mentira e realidade são uma coisa só. Tudo pode acontecer. Tudo é sonho e verdade. Tempo e espaço não existem. Sobre a frágil base da realidade, a imaginação tece sua teia e desenha novas formas, novos destinos”. Um resumo da obra do próprio Bergman, na qual a ilusão e o imaginário tomam forma concretas para exprimir suas ideias e, especialmente, seus sentimentos sobre a vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 10 |
Bianca Zasso | 9 |
Francisco Carbone | 9 |
Chico Fireman | 10 |
MÉDIA | 9.5 |
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