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Crítica


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Sinopse

O mundo animado de Fantástica está um perigo. Um grupo de ladrões de elite é enviado ao local para roubar o Tesouro Dourado, um dos itens mais preciosos do universo. Mas nem tudo está perdido: a robô Coco se junta aos irmão Boonie Bears, ao caçador Vicky e a uma guerreira da floresta para impedir os avanços dos criminosos e salvar seu lar da destruição total.

Crítica

A disputa entre mocinhos e bandidos em Fantástica ocorre ao redor da lenda de uma terra especial onde repousaria um par de chifres mágicos. Apoiada, portanto, na procura de uma Eldorado, a premissa desta genérica animação chinesa não é minimamente insólita. Já vimos esse filme um sem número de vezes, certamente com desenvolvimento mais criativo do que o levado adiante pela trinca de diretores Huida Lin, Leon Ding e Yongchang Lin. No começo, há uma dupla de exploradores seguindo pistas em busca de um valioso mapa. Sua tarefa é facilitada pela presença da robô Coco, visualmente, um decalque do Wall-E da Pixar. Num momento de fuga, resposta à sanha ambiciosa de capangas malfeitores, ela se perde dos companheiros e dá de cara com a briga entre um serralheiro e dois ursos falantes, os Bonnie Bears. Um indício da frouxidão do roteiro é a volatilidade dos elos. Em nenhum momento, por exemplo, vemos novamente os antigos colegas da exploradora de metal. Eles somem e pronto.

Outra prova cabal da mínima atenção que os realizadores conferem às figuras em cena, bem como aos laços que invariavelmente estabelecem, está no uso da amizade. Ela surge forçosamente entre os ursos e seu antigo algoz. Num instante, eles divergem como se não pudessem conviver, sendo completamente antagônicos. No subsequente, sem mais aquela, estão confabulando de que maneira poderão encontrar a terra chamada Fantástica. Do ponto de vista puramente técnico, a animação é bastante pobre, com clara discrepância de qualidade entre quadros próximos. Especialmente quando os humanos estão na telona, essa precariedade salta aos olhos. No mais, se percebe uma série de ecos (plágios?) de filmes similares, aqui não utilizados como substrato, mas instrumentalizados enquanto muletas. Há o time improvável; o vilão que possui um passado doído, supostamente encarregado de justificar sua vilania; os asseclas que dão conta do trabalho braçal; o humano de índole ambígua que pode trair amigos; e por aí vai. Existe até uma alusão ao Homem de Ferro.

Fantástica acumula banalidades e procedimentos batidos. No que tange aos personagens, eles têm poucas características que possam tornar marcantes as suas subjetividades. Dos ursos, apenas o espalhafatoso sobressai – negativamente, pois é excessivo e ruidoso –, já que seu colega é basicamente uma figura vazia, cuja expressão se limita a pontuações bem ocasionais. Não bastasse toda a fragilidade de execução, quando a ação chega à terra mítica surge uma fotocópia miniaturizada da Pocahontas, o que aponta de forma ainda mais gritante à cópia de visuais e conceitos como procedimento. Essa menina, que deveria guia-los por um mundo absolutamente novo, em que há o respeito por todas as formas de vida, funciona como um papagaio de pirata, sendo muito secundária, fazendo comentários que pretensamente ampliam a mítica do paraíso. E dá-lhe reminiscência do vilão bem-sucedido profissionalmente, mas que foi uma criança frustrada pelos excessos.

Quase nada se salva em Fantástica. A vocação pela reprodução de expedientes surrados, somada à debilidade técnica, desenha um panorama anódino, em que as circunstâncias se desenrolam sem o mínimo de força dramática e/ou cômica. A ausência de carisma dos personagens também é um problema severo. Logrando êxito somente na construção da lealdade de Coco nessa jornada modorrenta e multicolorida, Huida Lin, Leon Ding e Yongchang Lin oferecem um espetáculo sem emoção e imageticamente vulgar. As lições de moral estão escancaradas, mas nem elas são exploradas a contento, vide o arrependimento que deflagra a prevalência da amizade e o ensinamento da instância extraordinária ao malvado que, então, tem sua malignidade atenuada como indício de um trauma. Ele não pôde ser criança, por isso se voltou contra a bondade. Se a observação tivesse um efetivo viés crítico, atenuaria o resultado ruim, mas nem isso ganha espaço real no filme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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