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Crítica


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Sinopse

Em delicada situação financeira, o gerente de uma revendedora automobilística elabora o sequestro da própria esposa. Para isso, faz um acordo com dois marginais. Todavia, uma série de acontecimentos não previstos cria uma série de assassinatos a serem desvendados por uma policial grávida.

Crítica

Os diálogos são o principal motor de qualquer obra assinada pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Não à toa seus roteiros são sempre elogiados, não importa em qual gênero a dupla está inserida, e se é uma obra maior, como Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), ou um filme menos celebrado, caso de O Amor Custa Caro (2003). Fargo, longa de 1996, faz parte do início de uma série de produções que só atestariam o talento da dupla, e seu crescente sucesso perante público e crítica é apenas uma das provas disto.

A história, baseada em um caso real, como já avisa o letreiro, acontece na pequena cidade de Fargo, na Dakota do Norte. Jerry Lundegaard (William H. Macy) é um homem desesperado que forja o sequestro de sua esposa, filha de um milionário arrogante, para cobrar um milhão de dólares como resgate e, para tal, contrata dois bandidos. O esquema dá errado, três pessoas acabam mortas e a chefe de polícia Marge Gunderson (Frances McDormand) precisa solucionar o crime.

A estratégia dos irmãos Coen é bem clara com esta história. O que interessa não é apenas a resolução dos acontecimentos, mas como eles mexem com a estrutura da cidade e de seus habitantes. No caso, dos personagens que pipocam na tela. Por isso a protagonista, papel que concedeu, merecidamente, o Oscar de Melhor Atriz para McDormand, acaba brilhando, seja por suas tiradas impagáveis, o bom humor constante, mesmo perante um crime tão absurdo, sua sensibilidade por estar grávida ou, especialmente, pela humanidade com que reúne todos estes elementos em uma pessoa só.

Não atrás fica o perdido personagem de Macy, um homem confuso que vai se afundando ainda mais na farsa que criou. Sua falta de noção é pontuada pelo olhar ora vazio, ora preocupado, de quem não faz a menor ideia de como proceder com os caminhos criados pelo seu crime. Peter Stormare e Steve Buscemi, intérpretes dos dois bandidos responsáveis pelo “trabalho”, também têm sua vez neste conto dividido em três narrativas paralelas, aumentando ainda mais a dose de humor negro já presente por si só. O fato de tudo acontecer em uma “cidade caipira” eleva a diversão.

Todos estes personagens são minunciosamente bem construídos, ainda que os Coen tentem manter um olhar mais distante sobre eles. Não falta ação, afinal, a história é uma narrativa policial. E o roteiro vai fazendo aquilo que todos já conhecem hoje em dia: se enrolando em uma teia que parece não ter fim, aliando comédia e tragédia de forma quase absurda, ainda que com uma inteligência acima da média.

Fargo não é uma comédia de risadas rasgadas. É daquelas que o espectador ri de nervoso, preocupado com o que vai ocorrer com personagens tão interessantes. Afinal, se há algo em que os Coen são mestres é em fazer o público achar graça na própria tragédia. Ou, como diz o subtítulo em português de filme, em crer nesta comédia de erros. Erros tão além da compreensão, mas que nem por isso deixam de ser aquilo que os aproxima da realidade: humanos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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