Farrapo Humano
Crítica
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Sinopse
Em Nova York, Don Birman (Ray Milland) sonhava ser escritor, mas não consegue seu objetivo por estar sofrendo de um bloqueio. Assim, completamente dominado pelo álcool e passa a ter como única meta obter dinheiro para continuar se embriagando, se esquecendo que as pessoas que o rodeiam sofrem por vê-lo neste estado e tudo fazem para afastá-lo da bebida. Mas enquanto a namorada, Helen St. James (Jane Wyman), editora de uma revista, quer ajudá-lo, ele bebe cada vez mais.
Crítica
O título nacional de The Lost Weekend, apesar de não ter nada a ver com o original, parece até mais adequado devido à sua crítica social. Farrapo Humano (1945) foi um dos pioneiros filmes de Hollywood a tocar na polêmica do alcoolismo, da forma mais crua possível, dentro de uma realidade em que beber (e fumar também, apesar de não ser este o foco da produção) parecia algo glamourizado. Coube ao cineasta Billy Wilder apresentar o tema nesta obra que, de suas sete indicações ao Oscar, levou quatro prêmios para casa (Melhor Filme, Direção, Roteiro e Ator).
Baseado no livro homônimo de Charles R. Jackson, o filme é protagonizado por Don Birnam (Ray Milland), um fracassado escritor que não consegue terminar um livro sequer. Seu irmão planeja levá-lo para uma viagem no fim de semana (aí o título original) como oportunidade de fuga do álcool, problema que o acomete há anos. À espera do fim da tarde e a consequente viagem, Don se perde em si mesmo, vai ao bar mais próximo, bebe todas, perde a hora e o embarque, tentando se desconstruir nos dias seguintes, tendo como suporte apenas Helen (Jane Wyman), sua paixão renegada, a única que lhe dá um fio de confiança que o mal seja resolvido.
Billy Wilder mostra toda sua genialidade ao compor um filme permeado por tons de cinza que mostram em contraplanos as escolhas (a)morais do protagonista, como a hesitação em beber o primeiro copo do dia num bar, mostrada através do espelho com um olhar recriminador do garçom. Ray Milland se entrega ao personagem de forma fenomenal, com pequenos detalhes que evidenciam a dependência descontrolada de Don pela bebida, seja a tensão com que vai tomar sua primeira dose pela manhã (num olhar que mistura desespero e raiva pelo que está prestes a fazer), a irritabilidade pela falta do álcool ou os acessos de culpa. O ator se perde dentro do personagem, mostrando uma pessoa real, palatável, longe dos grandes heróis ou vilões que o cinema clássico insistia em produzir na época em tons de preto ou branco.
O filme não é fiel à obra literária na qual é baseado, pois nela o conflito principal do personagem é sua homossexualidade reprimida. Algo que, obviamente, não era do interesse de produção hollywoodiano na época. Ainda assim, só o tema alcoolismo por si rendeu um dos filmes mais interessantes sobre o assunto até hoje, um clássico absoluto que mostra um cineasta na sua melhor forma e um elenco primoroso, com um roteiro cru e que não dá espaço para o romantismo barato. Farrapo Humano é daqueles filmes que deve ser revisto por qualquer cinéfilo e até utilizado em grupos de apoio como o Alcoólatras Anônimos. Imperdível.
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