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Crítica


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Sinopse

Professor universitário na casa dos 70 anos, David é o típico caçador no quesito envolvimento amoroso. Mas ele vai experimentar um revés nessa posição ao envolver-se com Consuela Castillo, uma jovem aluna de 24 anos.

Crítica

A tradução literal de elegy, o título original, é elegia, ou seja,“sentimento queixoso, de dó ou de tristeza”. E esta denominação é realmente melhor apropriada a este filme que aborda muito mais a dor da perda do que a felicidade da conquista ou a plenitude do desfrutar. Mas esta interpretação é tão subjetiva e delicada que só poderia ser de uma artista como a espanhola Isabel Coixet, responsável por obras tão sensíveis, belas e sofridas como A Vida Secreta das Palavras (2005) e Minha Vida Sem Mim (2003).

O novo filme talvez seja o pior desta trilogia, o que está longe ter um significado negativo. Fatal não tem tantas camadas de leituras e nem é de cortar corações como os trabalhos anteriores, mas provavelmente seja por isso mesmo o longa mais maduro desta realizadora. É uma obra de aparência simples, econômica, mas que esconde um enredo complexo, que merece ser sentido, ao invés de somente compreendido. É uma trama que fala com a alma e com o coração mais do que com o cérebro, abordando com muito cuidado sentimentos, percepções e reações identificáveis em qualquer um de nós.

Apesar do alarde feito em cima da participação de Penélope Cruz (que está, realmente, maravilhosa, marcando de vez esta fase fantástica que a atriz vem passando, após Volver e antes do delicioso Vicky Cristina Barcelona), o verdadeiro protagonista de Fatal é sir Ben Kingsley (vencedor do Oscar em 1983 por Gandhi), um professor universitário e crítico de teatro que leva a vida solitariamente, dividido entre uma amante regular (Patricia Clarkson, também presente em Vicky Cristina Barcelona) que aparece de tempos em tempos e as alunas que volta e meia conquista, mas que nunca significam para ele mais do que uma mera diversão ocasional. Porém, um dia entra em sua classe uma mulher diferente (Penélope), pela qual se apaixonará e o fará rever todas as suas certezas.

É, então, Fatal uma história de amor? Sim e não. Porque é óbvio que a atração e o relacionamento que surge entre os dois ocupa grande parte do roteiro, mas isso está longe de ser tudo. Muito mais interessante aqui é discutir, questionar e raciocinar a respeito dos motivos que fazem uma pessoa se aproximar da outra e, principalmente, dos porquês que as afastam. Como podemos ser tão sozinhos num mundo tão vasto e como uma única pessoa pode nos completar com tamanha intensidade. Quais as razões que nos levam aos ciúmes, aos descontroles e à insegurança desmedida, ao mesmo tempo em que incidentes completamente alheios ao nosso controle podem alterar todos os nossos ideais e crenças.

Baseado no romance O Animal Agonizante, de Philip Roth, Fatal conserva muito do estilo deste que é um dos mais importantes escritores em língua inglesa da atualidade. Mas adiciona também um viés feminino a este olhar, combinando uma sensibilidade poucas vezes vista no habitualmente rígido discurso dele. E Coixet é a grande responsável por isso. Em cena assistimos a este mesmo embate de duas oposições – a latina Cruz ao lado do britânico Kingsley. E o melhor é que tudo acaba funcionando em perfeita harmonia. Fatal vai direto ao ponto, mas não sem antes ter condescendência neste entendimento de como somos todos tão tolos a ponto e deixarmos passar os melhores momentos de nossas vidas nos preocupando com o futuro, e quando este chega tudo o que nos resta é lamentar o que já passou. Será que um dia aprenderemos? Esta mensagem aqui talvez seja um bom começo de aprendizado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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