Crítica
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Sinopse
A rotina e as ferramentas de desenvolvimento de modelos de uma agência localizada numa favela do Rio de Janeiro. Abraçando o conceito Moda Resistência, esse grupo coloca em xeque os padrões do mercado da moda do Brasil.
Crítica
O cineasta Emilio Domingos já tinha utilizado uma forma de expressão como catalisadora de discussões sócio-político-históricas. No ótimo A Batalha do Passinho (2012), observou danças peculiares das comunidades periféricas do Rio de Janeiro e, as tendo e vista, construiu um painel coletivo potente, inclusive de compreensão cultural. Em Favela é Moda, ele faz um movimento diferente, ainda que o resultado seja parecido em vários sentidos. Em vez de observar um fenômeno nascido nas favelas, ou seja, que traz consigo diversos elementos inerentes às estruturas delas, o realizador lança luz sobre a moda, começando com a quebra de estereótipos sintomáticos. O foco é a Jacaré Modas, agência sediada no Jacarezinho, bairro da Zona Norte da Cidade Maravilhosa, cujo lema é orientar-se pela ideia ampla de resistência como estratégia para oferecer outros tipos de percepções dentro da área. As pautas de interesse surgem em meio às lógicas intrínsecas a cada etapa, da seleção de jovens interessados em modelar ao desenvolvimento de capacidades.
A moda constitui um mundo no qual palavras como tendência, estilo e atitude são onipresentes. O que de melhor Favela é Moda tem é a possibilidade de entender tais conceitos a partir de perspectivas geralmente marginalizadas pelo elitismo dos desfiles e ensaios fotográficos. Emilio lança mão de entrevistas formalmente conservadoras, pinçando das falas os insumos ao desenho de um discurso de empoderamento. Em vários instantes, porém, se contenta com as manifestações dos personagens, dando espaço para que pequenos e vigoroso monólogos ecoem essa vontade de subverter preconcepções acerca da moda, mas não se preocupa tanto em incrementar os enunciados, por exemplo, com alguns expedientes ilustrativos mais instigantes. Curiosamente, são poucos os instantes em que a câmera vai às ruas da comunidade para dialogar com a realidade, no mais das vezes, discutida entre quatro paredes. As bem-vindas exceções confirmam a regra.
Em busca de expor uma imagem ampla, Emílio conjuga histórias semelhantes, contudo atrelando-as em prol da compreensão da necessidade da resiliência e da positividade cotidianas. Em diversos momentos de Favela é Moda, Júlio César, fundador do projeto e líder comunitário no Jacarezinho, performa diante de seus pupilos como se fosse uma espécie de mentor motivacional. Ele discorre sobre a sua origem humilde e o contato incomum com a moda durante o exercício da profissão de porteiro, buscando incutir coragem em jovens repletos de dúvidas quanto às possibilidades de futuro. Ainda que seja contagiante a forma como o sujeito aguerrido partilha generosamente suas experiências de vida, Emilio perde a oportunidade de tornar as explanações dinâmicas, apresentando as situações em que isso acontece de maneiras demasiadamente equivalentes. Entretanto, é louvável o terreno conferido aos debates sobre racismo, homofobia, discriminação, e, principalmente, acerca de que jeitos a moda pode ser utilizada como instrumento de subversão e força.
Por um lado, ao escrutinar apenas uma amostra, Emilio limita o contato com a (r)existência da moda em comunidades marginalizadas, o que fica evidente nas repetições vistas nos pouco mais de 70 minutos do longa. Porém, se trata obviamente de um recorte, ciente das limitações por ele naturalmente impostas. Tendo esse entendimento no horizonte, bem como as ressalvas feitas, Favela é Moda ainda assim possui potência considerável como incentivador de reflexões sobre padrões, estereótipos, ocupação de espaço e a primordialidade da transformação de determinados paradigmas. Pena que Emilio não aprofunde tanto certas coisas, como quando Júlio César fala do questionamento aos produtores do São Paulo Fashion Week por buscarem fenótipos que, de alguma forma, acabam redundando em moldes disseminados como via única. O desejo de criar uma imagem disruptiva geral, que desafia a vigente, prevalece sobre os valores existentes nas nuances das trajetórias compartilhadas. Mas, isso não impede o filme de ter impacto e instigar ponderações.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Sarah Lyra | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
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