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Crítica


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Sinopse

Em Marechal Deodoro, o ensino musical faz parte da tradição local. O município alagoano viu diversas bandas surgirem e até mesmo uma filarmônica.

Crítica

Aqui em Marechal Deodoro, quando uma criança nasce, a mãe joga um punhado de lama na parede. Se o barro cai, é porque vai ser pescador. Agora, se fica preso, é porque será músico!”. É assim que o documentário Faz Sol Lá Sim começa sua narrativa, deixando claro que estará mais interessado, obviamente, naqueles que ficaram grudados no cimento do que nos que se espatifaram no chão. E os motivos para tanto não tardam a aparecer: a pequena cidade no interior de Alagoas é considerado patrimônio Histórico Nacional e há mais de cem anos viu ali ser fundada a primeira banda filarmônica da região. Atualmente, cinco associações similares atuam por lá, como se um dom natural fosse passado de pai para filho. Claufe Rodrigues, portanto, não tem muito o que fazer além de registrar essa movimentação e deixar que os cidadãos locais soltem o verbo. Um resultado cativante, ainda que não necessariamente original.

E como isso acontece? Muito pela escolha dos personagens. São figuras que, por si só, já se demonstram bastante peculiares. O que o diretor acaba se incumbindo, portanto, é de determinar o espaço certo para cada um deles, além de organizá-los de acordo com os temas que vão sendo abordados, os assuntos que ocupam o centro da narrativa e os elementos resgatados pelos diversos depoentes. O resultado é como um mosaico bastante colorido e dinâmico, ainda que trate de temas relativamente simples, como a escolha a vocação, o desenrolar profissional e como tais atividades vão se encaixando nas rotinas e nos cotidianos destes que aqui acabam participando de passagens de maior destaque.

O título, aliás, já parte de uma brincadeira. Estamos no Nordeste brasileiro, região de verão intenso e, portanto, de muita luz e calor. Ou seja, não há dúvidas de que lá o acesso à nossa estrela-mãe seja constante na maior parte dos dias. Mas, além disso, há também a questão fonética: “faz”, “sol”, “lá” e “sim” é muito próximo das notas “fá”, “sol”, “lá” e “si”. Ou seja, o diálogo se estabelece, portanto, de imediato. A ordem do dia está voltada ao universo musical, e assim vai se estabelecendo também o discurso a ser empregado. A música, ali, está presente do amanhecer ao instante antes de dormir. É uma questão de vida que se vai conectando a todas as demais atividades, das obrigações e responsabilidades aos momentos de prazer e descanso.

Há notas sobre os bastidores que vão renovando o interesse do público no desenrolar da trama. Das orquestras que que atuam uma em oposição à outra, a concorrência natural que acaba ocorrendo entre elas, dos códigos rígidos que são estabelecidos para guiar os jovens músicos ainda em formação, dos esforços dos mais velhos para preservarem essas tradições e das contestações mais óbvias levantadas pelos que estão agora adentrando por este mundo, tudo acaba sendo analisado sem pressa, nem atropelo. Estes exemplos se tornam concretos quando um casal que está iniciando uma vida em conjunto transborda a emoção que os une, indo até o senhor octogenário que segue na praça tocando ao ar livre, ou mesmo naqueles que levaram uma existência inteira dedicados a um instrumento que está longe de ser o mais óbvio. Entre todos, há muito a ser ouvido, ensinado, aprendido e, principalmente, debatido.

No entanto, se Faz Sol Lá Sim parte da ideia de que a minúscula Marechal Deodoro é por algum motivo especial em sua relação com a música, talvez fizesse sentido uma investigação maior e mais profunda a respeito das possíveis causas que levaram o município a se tornar um ‘celeiro de instrumentistas’ que pode – e deve – ser visto como referência para o resto do país. A questão, dada como ponto pacífico – afinal, os casos estão ao lado da informação exposta em cena – também poderia soar mais sólida se acompanhada de algumas hipóteses levantadas e questionamentos pertinentes. À despeito destes pormenores que podem incomodar os mais céticos, é inegável a percepção de um conjunto justo, válido enquanto resultado dos esforços reunidos e também espelho de um caminho a ser tomado, tanto por aqueles que aqui encontrarem uma inspiração válida, como também aos que estão em busca de motivos para agradecer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
7
Alysson Oliveira
5
MÉDIA
6

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