Crítica
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Sinopse
O produtor hollywoodiano Barry 'Dutch' Detweile tenta convencer uma estrela do passado a desistir da aposentadoria. Mas, Fedora não parece disposta a ceder. A insistência do sujeito leva a trágicas consequências.
Crítica
Assim como em Crepúsculo dos Deuses (1950), Billy Wilder inicia Fedora (1978), sua penúltima realização, com uma morte. Uma lenda-viva do cinema se atira debaixo de um trem, em cena que reproduz o final do romance Anna Karenina, de Liev Tolstói, ao mesmo tempo em que faz alusão ao nascimento do próprio cinema, cujo primeiro filme foi justamente o registro da chegada de um trem à estação. O velório suntuoso da atriz, com direito a violinos lúgubres e uma pompa digna das grandes produções de outrora, está repleto de admiradores para o último adeus. Entre eles, o produtor Barry "Dutch" Detweiler (William Holden), cujo relato fará a história voltar duas semanas no tempo, aos dias em que ele foi procurar Fedora (Marthe Keller) na Grécia para tentar convencê-la a atuar justo numa nova adaptação cinematográfica de Anna Karenina.
Chegar a Fedora não será fácil, pois ela vive enclausurada numa ilha particular afastada, sob cuidados no mínimo suspeitos dos empregados de uma Condessa autoritária. Dutch acredita que Fedora é uma espécie de prisioneira, sem direito ao menos de ir à cidade desacompanhada. Tudo soa muito estranho nas relações da atriz aposentada com aqueles que com ela moram, e assim permanecerá até que a narrativa dê uma volta sobre si mesma, completando um percurso circular que trará a verdade acerca de um drama familiar pesado e de contornos completamente insuspeitos. Mais uma vez, Billy Wilder mostra o mundo do cinema com tintas melancólicas, sendo a necessidade patética da protagonista de retardar seu envelhecimento uma das muitas críticas aos bastidores, sobretudo hollywoodianos, que podemos ver em Fedora.
Nas mãos de um diretor menos competente, a trama do livro que inspirou Fedora poderia muito bem resultar num dramalhão piegas, pois tem todos os ingredientes para isso, principalmente no que diz respeito ao drama familiar central. Billy Wilder, porém, conduz a trama sustentado numa visão contundente acerca dos mitos cinematográficos, dos sacrifícios que a indústria impõe para que astros e estrelas permaneçam no firmamento. Tratamentos estéticos, manobras escusas, tudo parece válido para que imagens continuem ilibadas. Nesse cenário, o produtor independente interpretado por Holden, ainda que com muitos anos de cinema, é quase apenas um romântico (mesmo que tenha lá sua dose de cinismo) em busca não apenas da atriz que garantiria o financiamento de seu projeto, mas das lembranças de certo fragmento do passado, de quando passou uma noite de amor com aquela que todos desejavam.
Fedora é um filme debruçado sobre o fenômeno da encenação. Desde a verdadeira natureza da relação da protagonista com seus tutores até o velório da mesma, tudo no filme se dirige aos espetáculos montados a fim de envernizar o real, dos quais, aliás, a máquina hollywoodiana é especialista. A necessidade da (falsa) juventude eterna é apenas um dos sintomas denunciados por Wilder, nesse que é mais um dos trabalhos que evidenciam sua necessidade artística de desconstruir imagens romantizadas a respeito de seus ofícios, o antigo e o atual, respectivamente jornalismo e cinema. Se em obras como A Montanha dos Sete Abutres (1951) e A Primeira Página (1974), ele expõe os meandros jornalísticos, no já citado Crepúsculo dos Deuses e neste Fedora, o que importa é mostrar a nocividade das engrenagens da velha Hollywood, que, talvez não tão distante assim da nova Hollywood, alimenta o ego de suas crias com o vício em sucesso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Chico Fireman | 8 |
Bianca Zasso | 9 |
MÉDIA | 8.3 |
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