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Crítica


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Sinopse

Raquel tem nove anos de idade e sua vida não vai lá muito bem. Ela tem poucos amigos e recebe uma educação autoritária dos pais. Mas, as coisas mudam de figura quando ela conhece a solar Valérie.

Crítica

Em plena década de oitenta do século passado, Rachel está em frente a sua máquina de escrever, redigindo uma mensagem para sua terapeuta, relatando as diferenças do seu momento atual para seu passado jovial. A cena não seria de forma alguma estranha não fosse a idade desta pessoa em questão: apenas nove anos. Logo saberemos, no entanto, que mesmo na flor da juventude, Rachel passou por diversas experiências e que uma conversa franca com sua terapeuta não seria algo realmente estranho. A pequena protagonista é um dos belos personagens que a cineasta Carine Tardieu apresenta em Feito Gente Grande, uma dramédia familiar que deve conquistar o espectador ao apresentar de forma cândida os tropeços da vida real.

Com roteiro da cineasta, ao lado de Raphaele Moussafir (também quem assina o livro em que se baseia o filme), o longa-metragem conta as peripécias da supracitada Rachel (a novata Juliette Gombert), uma garota esperta, sonhadora, mas um tanto solitária e triste, que em um novo colégio, conhece a espoleta Valérie (a também estreante Anna Lemarchand), com quem começa uma amizade. Os pais de Rachel, Colette (Agnès Jaoui, de Enquanto o Sol não Vem, 2008) e Michel (Denis Podalydès, de Vocês Ainda Não Viram Nada, 2012), preocupam-se com a situação da filha – visto que em seu aniversário de nove anos, apenas uma criança aparece na festinha – Valèrie, ao lado de sua bela mãe, Catherine (Isabelle Carré, de Românticos Anônimos, 2010). Entre o dia a dia na escola, a convivência com os pais e as descobertas da juventude, Rachel começará a conhecer o significado de palavras como amizade, felicidade – e outras tantas não tão bonitas.

Ainda que tenha certa leveza na história em boa parte do filme, Feito Gente Grande aborda algumas temáticas bastante sérias. A perda é uma delas. Uma das colegas de aula de Rachel é órfã e acaba tendo um tratamento diferenciado por parte dos professores e colegas, algo que impressiona por demais a jovem protagonista. A morte é um conceito desconhecido para aquela menina, ainda que seja algo que desperte muita curiosidade. Sua avó, por exemplo, é motivo de preocupação para a família desde que sofreu um acidente vascular cerebral, dormindo no mesmo quarto da neta. Esta, por sua vez, checa a cada manhã a respiração de sua velha companheira de dormitório, perguntando para si mesma se o momento final chegou. Ainda que não apareça de forma esperada, a morte é uma visitante indesejada que acaba dando as caras no filme em um dos momentos mais pungentes de Feito Gente Grande. Outros temas como a sexualidade, a fidelidade e a insegurança são abordados com igual competência pela cineasta Carine Tardieu, dirigindo apenas seu segundo longa-metragem - o anterior, A Cabeça de Mamãe, foi lançado em 2007.

Para conseguir construir um bom trabalho com personagens mirins, são necessários bons atores para carregar o filme. E a dupla de meninas encontrada para viver Rachel e Valèrie não poderia ser mais adorável. Juliette Gombert e Anna Lemarchand são de uma naturalidade incrível em frente às câmeras. A primeira possui um desafio maior, visto que seu personagem possui um arco bem delineado durante a história. A jovem atriz consegue ir da tristeza à alegria com grande facilidade e sua dobradinha com os atores veteranos Agnès Jaoui e Denis Podalydès é digna de nota. O casal na tela, inclusive, possui uma trama só sua, colocando marido e mulher em uma situação delicada devido a um interesse amoroso externo que se apresenta na forma da bela Catherine.

Equilibrando de forma competente a alegria da juventude com as dores do amadurecimento, Feito Gente Grande é um daqueles pequenos grandes filmes que, volta e meia, surgem nos cinemas para nos surpreender. Com personagens humanos e situações corriqueiras, o filme tem tudo para cativar o espectador. Seja ele um adulto de nove anos ou uma criança de 80.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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