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Crítica


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Sinopse

Violet Jones é uma mulher bem-sucedida que considera sua vida perfeita. Um ótimo namorado e uma rotina organizada meticulosamente para conseguir estar sempre impecável. Quando seu namorado se mostra não ser quem ela esperava, Violet muda sua vida radicalmente, descobrindo que a maneira que estava vivendo não era a ideal.

Crítica

A mensagem central de Felicidade Por Um Fio é urgente. O discurso afirmativo, de fato, se faz necessário. O cabelo da protagonista, Violet (Sanaa Lathan), sempre foi motivo de angústia. Mulher negra, ela teve de conviver desde a mais tenra idade com uma grande parcela da sociedade apregoando que seu crespo era feio, que alisa-lo era inevitável para apresentar-se bonita. Um flashback dá conta de mostrar que essa opressão cresceu na família, especialmente com sua mãe, Pauletta (Lynn Whitfield), reforçando tais estereótipos do quais também foi vítima. A cineasta Haifaa Al-Mansour não recorre a sutilezas para demonstrar a construção social, pelo contrário, acaba incorrendo em repetições desnecessárias (pela falta de variações), numa encenação que não prima pelas minúcias. Todavia, ainda assim, vide a óbvia prevalência da ideia contida na essência da trama, as coisas decorrem relativamente bem, com a deflagração da gritante futilidade vista, de leve, como outro subproduto da coletividade cultora de aparências.

Felicidade Por Um Fio se foca totalmente no percurso que leva Violet a mudar sua concepção de mundo. De novo recorrendo ao lugar-comum, a trama – baseada no livro Nappily Ever After, de Trisha Thomas – coloca sua figura essencial como bem-sucedida executiva de uma agência de publicidade que, vejam, cria anúncios e propagandas para produtos de beleza. Portanto, ela não apenas precisa aceitar-se, mas também entender que é parte de uma engrenagem encarregada de disseminar distorções, como as que a fazem ser rude com uma menina de cabelo graciosamente rebelde. Essa crítica, contudo, não vem à tona com força suficiente para ser um dado imprescindível. É tudo bastante raso nessa observação que ocasionalmente acerta alvos significativos, mas que, no geral, permanece num local bem confortável, empilhando lições de moral, oferecendo ocasiões que expõem abertamente a alienação de Violet. Em noite de bebedeira e tristeza, ela simplesmente raspa a cabeça e inicia um processo.

Cada capítulo do filme é um estado do cabelo de Violet. As transformações de sua consciência, então, acompanham os estágios de paulatino crescimento capilar. Há, embutida, uma discussão sobre autoestima feminina, acerca de como durante muito tempo as mulheres se sacrificaram, supostamente, para alcançar um ideal de perfeição essencial aos homens. Felicidade Por Um Fio é incapaz de expressar o torpor desse pensamento, bem como de trabalhar as contradições de personagens que, num primeiro momento, parecem alheios a essas distorções, mas que, num segundo instante, proferem falas retrógradas. Falta um ímpeto de investigação mais profundo à diretora que, uma pena, se contenta com testemunhos e conjecturas simplórios. Outro componente que perpassa a narrativa como um todo é a suposição quanto aos lugares que determinadas pessoas, a priori, poderiam ou não ocupar. Indício disso, o cabeleireiro Will (Lyriq Bent), e o pai sessentão, Richard (Ernie Hudson), requisitado modelo de cuecas. Mas o estranhamento é artificial, conveniente.

Estruturalmente, Felicidade Por Um Fio exibe uma série de inconsistências, mas, ainda assim, o recado fundamental tem nitidez suficiente para ressoar. Na medida em que Violet entende melhor a relação de seu corpo com os ambientes, deixando de guiar-se por regras absurdas e princípios castradores, o longa-metragem reforça a celebração da diversidade, a noção de que a mulher deve ter orgulho de sua beleza singular. Pena que, por exemplo, acabe escorregando em passagens bobas, como ao mostrar homens notando acintosamente a protagonista já de cabelo crespo, ou seja, de certa forma validando-a. A despeito da diferença circunstancial, a dinâmica viciada é retroalimentada, pois Violet parece feliz apenas porque, novamente, se vê chancelada por outrem. É libertador o caminho percorrido, a quebra de grilhões que atormentavam a existência dela, mas insuficientes a queda em si, a renúncia ao partido e ao emprego “ideais” como sintomas de uma verdadeira mudança de paradigmas internos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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