Crítica
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Sinopse
O professor e artista Fernando, um brasileiro de 74 anos, é provocado a interpretar sua própria vida e rotina. E, mesmo passando por um momento em que sua saúde está gravemente abalada, toca o seu cotidiano e projetos artísticos sem interrupção.
Crítica
Claro que ter à disposição um personagem como Fernando Bohrer ajuda. Ator, diretor e professor teatral, ele é um artista nato, que leva para o dia a dia as múltiplas ferramentas desenvolvidas nos palcos. Toda vez que a câmera dos cineastas Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela focaliza o protagonista é para dar relevo a alguma questão importante, advinda de suas interações ou de meras observações do cotidiano. E isso é um sintoma do filtro que esses olhares oferecem a uma trajetória rica e, portanto, convidativa tanto à grandeza quanto à dispersão. É preciso não se deslumbrar diante das possibilidades ofertadas por alguém como Fernando, e os realizadores sabem exatamente como aproveitar suas manifestações, fazendo delas pequenas peças de um todo desenhado com vagar e habilidade. Fernando é um documentário sensível que aborda seu protagonista com reverência e zelo.
Vemos Fernando nas mais diversas atividades, desde as aulas de expressão corporal à rotina com o marido, César (Rubens Barbot). Bonita a maneira como a narrativa é sintetizada pela conversa deles na cama, num plano longo que flagra a espontaneidade só possível aos relacionamentos resistentes. Aliás, Fernando possui muitos desses momentos ressaltados emocional ou dramaticamente pelo tempo das tomadas. O corte, assim, não se apresenta como uma obsessão, necessidade para supostamente criar ritmo. A cadência advém justamente do equilíbrio entre duração e justaposição. Já a intimidade criada por Fernando, com os alunos que absorvem seu método ou qualquer pessoa que atravesse diariamente o seu caminho, é utilizada como um bem pelo trio de cineastas que, assim, potencializam as falas cinematograficamente, não se escorando nelas.
Há diversas passagens de evidente beleza em Fernando. Uma delas é o registro dos ensaios da peça que o protagonista está fazendo. Novamente num plano longo, o personagem e sua companheira de cena são capturados falando acerca de velhice e decrepitude. Embora distinto em tom e finalidade da visita à médica que diagnostica uma disritmia cardíaca, esse fragmento oferece-lhe complementariedade lírica, pois igualmente fundado na proximidade da morte. O bate-papo com os amigos de outros carnavais numa mesa de bar expõe uma convicção inabalável no poder da educação e da arte como forma de provocar transformações sociais verdadeiras, a começar pela formação das crianças. Ainda entre cervejas e risadas, os interlocutores ampliam o debate, mencionando inconformidade com a dependência do incentivo estatal para poderem trabalhar. Informalmente, surge uma consistente discussão.
Fernando é um filme calcado na observação atenta dos detalhes e das sutilezas do comportamento de seu protagonista, mas não somente. Logo depois que ele recebe a notícia do problema no coração, percebemos a preocupação marcada em seu semblante em meio a conversa com o marido, antes de dormir. A cumplicidade entre os dois é outra recorrência ressaltada por Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela, utilizada com extrema sensibilidade no encerramento. Ao som de música clássica, sem dizer sequer uma palavra, eles montam um mosaico colorido, primeiramente alternando a colocação das peças, depois estabelecendo padrões distintos, mas com um propósito comum e inabalável. Acaba se tornando uma metáfora belíssima desse relacionamento, que diz muito sobre a vocação de ambos. Sem a ânsia bastante prosaica de tentar esgotar o personagem, o trio esquadrinha o essencial.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Bruno Carmelo | 9 |
Francisco Carbone | 7 |
Cecilia Barroso | 6 |
Adriana Androvandi | 7 |
Chico Fireman | 10 |
Adriana Androvandi | 7 |
MÉDIA | 7.7 |
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