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Sinopse

O sonho dos alimentos que moram no supermercado é serem escolhidos pelos compradores. Mas, eles nem suspeitam que serão cortados, ralados, fatiados e cozidos. Tudo muda quando uma salsicha descobre a terrível verdade sobre o consumo dos humanos.

Crítica

Festa da Salsicha surgiu como uma piada dita por Seth Rogen em entrevistas quando promovia um novo filme. Quando perguntando qual seria seu novo projeto, ele logo dava esse título como uma forma de chocar ou fazer uma piada com os jornalistas. A ideia, no entanto, acabou saindo do papel quando o ator (que também é roteirista e diretor) pensou nas possibilidades hilárias em fazer uma animação adulta com produtos triviais como salsichas, pães, bebidas e quaisquer alimentos que se encontram no supermercado. Para levar sua visão à frente, ele recrutou vários de seus amigos para que dessem voz aos personagens e convidou os diretores Greg Tiernan e Conrad Vernon para comandar a animação. Os cineastas, ambos envolvidos com produtos infantis como a série Thomas e Seus Amigos e Madagascar, adoraram a chance de fazer algo voltado para adultos e embarcaram no projeto sem pestanejar. Uma pena que chamar Festa da Salsicha de “filme adulto” é superestimá-lo demasiadamente. O humor é apenas juvenil, com a maior parte das piadas estando ancoradas apenas nos palavrões ou em trocadilhos sexuais. Onde O Gato Fritz (1972) e South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes (1999) foram extremamente bem-sucedidos, este novo título se mostra apenas uma grande decepção.

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Na trama, Frank (voz de Seth Rogen) é uma salsicha que, assim como todos os demais produtos do supermercado onde está, sonha a respeito do dia em que será levado por um dos consumidores do local (chamados por eles de Deuses) para o paraíso. Eles não sabem que seu destino é, na verdade, serem descascados, cozidos, cortados e comidos (não necessariamente nessa ordem). Enamorado com a bisnaga Brenda (Kristen Wiig), ele deseja ser levado para o paraíso para poder consumar seu amor carnal por aquele pão. Quando um pote de mostarda e mel (Danny McBride) é devolvido ao mercado, ele conta a dura verdade a todos seus colegas, mas é desacreditado. Isso, no entanto, coloca uma pulga atrás da orelha de Frank. Depois de um acidente que deixa aquela salsicha longe de seus amigos de pacote e fora do “paraíso”, ele se junta à Brenda, ao pão armênio Kareem (David Krumholtz) e ao bagel Sammy (Edward Norton) para tentarem retornar ao seu local de origem no mercado a fim de serem escolhidos novamente. Nessa jornada, Frank começará a questionar suas certezas e se perguntar se realmente o pós-vida é um bom negócio para uma salsicha.

Os pôsteres e os trailers avisaram, mas não custa reforçar: Festa da Salsicha não é uma animação para crianças. As piadas envolvem linguajar chulo, alto teor sexual e alguma violência. Aos pais que pensaram em levar seus filhos para assistir à Ted (2012) por causa do protagonismo de um ursinho de pelúcia, vale acrescentar que este longa de animação é ainda mais pesado, mesmo tendo salsichas, pães e rosquinhas falantes. A versão brasileira, adaptada pela trupe do Porta dos Fundos, mantém os palavrões da versão original – e faz um bom trabalho, mediante o material original que recebe. Algo que vale elogiar é a presença de dubladores profissionais defendendo os personagens principais, com a turma dos humoristas recebendo papéis menores – Gregório Duvivier e Luis Lobianco são os que ganham mais tempo, vivendo a salsicha Barry e a Ducha La Xuca, respectivamente.

O filme busca um óbvio paralelo com a fé cega, fazendo críticas às crenças da vida após a morte, da existência de seres superiores, do pecado e do livre arbítrio. As ideias são interessantes e poderiam gerar uma comédia com um pouco mais de substância. O problema é que todas as piadas têm o mesmo punchline: um palavrão. Se por ventura o espectador achar graça em ver personagens soltando impropérios à esmo, vai gargalhar durante a sessão. Se não for o caso, as risadas serão contadas à dedo. Ao que parece, Rogen e companhia pensavam que estavam fazendo algo novo apenas em colocar seus personagens bonitinhos e animados xingando a todo momento. Mas South Park já faz isso muito bem há vinte anos, com críticas muito mais contundentes e bocas tão sujas quanto.

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Felizmente, algumas partes se salvam em Festa da Salsicha. A cena que emula O Resgate do Soldado Ryan (1998) é brilhante, a sequência da cozinha é um verdadeiro filme de terror, a referência ao músico Meat Loaf é bem bolada, assim como o terceiro ato, que se transforma em um inesperado Calígula (1979). A deixa para uma continuação também é interessante, nos fazendo questionar como eles seguirão naquela trilha metalinguística. Uma pena que a soma das partes boas não valha os 90 minutos investidos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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