Crítica
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Sinopse
Isolados numa casa de campo, jovens amigos decidem escrever e enterrar cartas destinadas a eles mesmos para serem abertas dez anos depois. Porém, após uma tragédia ocorrida naquele mesmo dia, eles ficam anos sem se ver. Agora, este reencontro irá trazer à tona antigas paixões, novas frustrações e um segredo mal enterrado.
Crítica
Reunidos em uma casa de campo, um grupo de jovens alimenta a expectativa que a idade lhes permite: modelar o futuro. Envoltos pelo hedonismo proporcionado pela angústia da boa formação, aproveitam o momento com a sensação da imediatez eterna. Entre Nós os coloca em um mundo que é esboço do que virá a ser, e por isso confundem desejo e amor; expectativa e medo. O momento alto desses encontros vem na forma de um ritual. Decidem enterrar cartas para serem lidas dentro de dez anos. Entretanto, se depararão com um revés. Nada foi feito diferente. A irresponsabilidade de agora é a mesma de antes, quando bêbados, Rafa (Lee Taylor) e Felipe (Caio Blat) pegam o carro em direção à cidade. Dela, Felipe retornará completamente mudado; o amigo sequer retornará. O acidente interrompe a amizade por uma década.
Se Entre Nós focasse apenas na segunda parte, no reencontro dez anos após a tragédia, o filme estaria inserido de maneira alargada no gênero memorialístico, do qual são bons exemplos Juventude (2008), A História que me Contam (2012) e o clássico As Invasões Bárbaras (2003). Contudo, a proposta de Paulo Morelli, diretor de Viva Voz (2003) e Cidade dos Homens (2007), faz uso da revisão do passado e o manipula de forma a transformá-lo em agente do filme. Fisicamente ausente, é a morte de Rafa a protagonista. O reencontro marca a leitura das cartas. Durante três dias, tempo suficiente para se sentirem entre velhos amigos e novos desconhecidos, relembrarão quem foram, sentirão saudades de quem são.
Apesar das cenas em que recupera o acidente, recuso que agrega pouco e não intensifica a culpa do personagem de Blat, o roteiro de Morelli traz segurança ao enredo. Bem desenvolvidos, os personagens evoluem e se complexificam com destreza. O trabalho da linguagem é apurado. Poucos filmes usam o tom coloquial de forma tão natural, sem pecar pela artificialidade, como o que vemos aqui. Virtude que deve ser dividida com a escolha do elenco. Seria sublinhar o óbvio, mas o óbvio nem sempre é recorrente, que a homogeneidade das atuações é essencial, especialmente em um drama de característica tão intensas. Se Julio Andrade, Caio Blat e Maria Ribeiro estão muito bem, é Martha Nowill, no papel de Drica, quem brilha incansavelmente.
As atuações não caminham sozinhas, mas seguem acompanhadas pela fotografia do talentoso Gustavo Hadba. Havíamos comprovado sua qualidade na composição e iluminação em O Caminho das Nuvens (2003) e Malu de Bicicleta (2010). Aqui, o que se soma às qualidades é o movimento de câmera - combinado com a boa montagem de transições e ritmo - que contribui para a construção marcante da estrutura psicológica. O resultado da fotografia luminosa, com ênfase na definição e limpidez, lembra a de Roger Deakins, de Foi Apenas Um Sonho (2008). Para que não se cometa injustiça, a captação de som, tanto nas cenas internas quanto externas, é um alento frente à deficiência sonora do cinema brasileiro.
A narrativa consegue prender o público por seus vários pontos de tensão. Nem a arquitetura imperfeita do drama de Felipe e Lúcia ofusca o principal, a culpa deste pela morte do amigo e o possível plágio da obra que o consagrou. Esperava-se, porém, um final menos suntuoso. O deslumbramento inicial dos jovens parece reverberar agora, em um fechamento carregado de som e closes, como que com medo do espectador não assimilar a seriedade e a intensidade do que acabara de assistir. Detalhe que se definitivamente não colabora, por outro lado não arranha o belo resultado alcançado por Morelli.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 8 |
Robledo Milani | 6 |
Diego Benevides | 7 |
MÉDIA | 7 |
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