Crítica


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Sinopse

Aos 22 anos, Oscar acorda no dia 31 de dezembro de 2008 decidido a ser uma pessoa melhor. No entanto, uma tragédia afeta drasticamente a continuidade desses planos.

Crítica

Na virada de 2008 para 2009, Oscar Grant foi abordado pela polícia, após uma discussão dentro do metrô que usava para voltar para casa depois de assistir aos fogos de artifício em São Francisco, nos Estados Unidos, e assassinado à sangue frio, com um tiro nas costas dado por um dos oficiais. A cena, chocante, foi registrada por dezenas de pessoas, muitas presentes também no trem e cientes da falta de culpa do rapaz de apenas 22 anos. A gratuidade da ação policial e o excesso de violência oferecido pelos oficiais chocou a população, gerando uma série de protestos na região. O caso aconteceu na estação que dá nome ao filme Fruitvale Station: A Última Parada, uma das obras mais poderosas do cinema americano em 2013.

A ação do longa escrito e dirigido por Ryan Coogler se dá durante o último dia do ano, quando somos convidados a acompanhar a rotina de Oscar, um jovem recém saído da prisão por tráfico de drogas. Determinado a se endireitar, abandona o consumo e a venda de substâncias ilegais, vai atrás do ex-patrão para conseguir seu antigo emprego de volta, tenta reatar com a namorada após traí-la com uma garota qualquer, se esforça para ser um bom pai para a pequena Tatiana e atende aos pedidos da mãe, que comemorará seu aniversário com um jantar naquela mesma noite. É interessante como o cineasta não tenta santificar seu protagonista, revelando suas falhas ao mesmo tempo em que dá destaque aos seus esforços. Temos um homem comum, de fácil identificação, que talvez não tenha tido melhor sorte na vida por um único detalhe: a cor de sua pele.

A câmera de Coogler e da diretora de fotografia Rachel Morrison (Um Dia Qualquer, 2012) não tem pressa, e com calma vai revelando o homem por trás do estereótipo. Seria fácil enquadrar o protagonista em um único tipo, mas assim como qualquer pessoa de verdade, ele era muito mais do que uma percepção inicial poderia determinar. Conta também para isso o excepcional trabalho de Michael B. Jordan (Poder Sem Limites, 2012), que se destaca sobremaneira. Não será surpresa alguma vê-lo nas listas de melhores do ano, assim como chama igualmente atenção a participação de Octavia Spencer (vencedora do Oscar por Histórias Cruzadas, 2011), que aparece como a mãe numa interpretação contida e sofrida, que levará muitos da plateia às lágrimas. Este filme, aliás, tem tudo para ser o Indomável Sonhadora (2012) da temporada 2013, pois além da temática polêmica e da abordagem séria e comprometida, possui uma execução primorosa, envolvente e defendida com muito afinco por toda a equipe.

Aliás, é importante esta percepção. Este texto começa narrando o final do filme, pois é também dessa forma que o longa tem início – com imagens dos fatos reais nos quais esta história se baseou. Fruitvale Station: A Última Parada incomoda pela realidade que traz à tona, e o destino dos principais envolvidos, apontados durante os créditos finais, provoca revolta e indignação. Aqui o cinema cumpre seu maior intento, estimulando o debate e a reflexão sem o uso de palavras vazias ou artifícios dispensáveis. A direção econômica, as atuações precisas e o senso de oportunidade da realização indica estarmos diante de um trabalho que poderá, de fato, fazer diferença. O importante para tanto é não deixar que essa discussão morra na sala de exibição. Elementos para tanto a obra possui de sobra.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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