Crítica
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Sinopse
Depois de 10 anos de ausência, Marina decide voltar ao Rio de Janeiro após receber um cartão postal. Ela não sabe exatamente o motivo do retorno: buscar respostas para acontecimentos estranhos? A cidade parece estar sob feitiço.
Crítica
A vida não acontece na superfície e Marina, a protagonista de O Rio nos pertence, sente isso. Como o empuxo, em uma das primeiras cenas na praia, a nos conduzir para dentro e para o fundo, a jovem abre mão da estabilidade que se estruturava ao lado do namorado para retornar ao Rio de Janeiro. Presa à correnteza, a narração em off - indireta, metafórica e melancólica - aponta o monstro que Marina precisa eliminar antes de seguir: o passado.
Escrito e dirigido por Ricardo Pretti (Estrada para Ythaca, 2010, e No Lugar Errado, 2011), O Rio nos pertence trabalha a partir do psicológico da protagonista, procurando transmitir ao espectador o intenso drama de uma história extremamente sensorial. Ao retornar para o Rio, Marina reencontra a irmã e o ex-namorado. As pessoas, porém, são apenas coadjuvantes, propulsoras de um estado que desencadeia dor, culpa e angústia - os sentimentos sim, protagonistas do enredo.
A perda não bem resolvida da mãe - visível na cena em que a irmã vivida por Mariana Ximenes inventa uma desculpa para a morte - é um dos acontecimentos que ecoam na narrativa. A relação com o ex-namorado Mauro e o filho deste igualmente são peças partícipes do tormento. Junta-se a isso o postal, homônimo ao título do filme, que surge em tela para assombrar a protagonista.
Com um roteiro extremamente frágil e limitado, Pretti busca compensá-lo na construção da forma. Se não é possível que o espectador capte o drama de Marina pelas situações desenvolvidas - não há tempo para desenvolver a separação do namorado, por exemplo -, então aposta-se em criar uma atmosfera que as substituam. Para isso, o diretor faz uso recorrente do som e de imagens não naturalistas, refletidas diretamente do interior transtornado da garota. A cidade ensolarada do Rio de Janeiro transforma-se, então, em uma paisagem abandonada e assustadora.
O comprometimento com a forma, entretanto, esbarra na insuficiência da mesma. Restrita a um espetáculo de som e imagens agonizantes, o recurso não ascende a enfermidade íntima da personagem, mas apenas banaliza a trama. Leandra Leal faz o máximo para dar corpo e voz a um quebra-cabeça nitidamente desfigurado, impossível de ser arranjado com precisão. Portanto, a técnica expressiva da atriz, destacada em filmes como Nome Próprio (2007), acaba por atuar no vazio, para clamor e desespero de um filme que, como a cidade retratada, está apagado pela névoa.
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