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Sinopse

A história de amor praticamente imortal entre dois vampiros. Ele, um músico deprimido com os rumos que as sociedades tomaram, vai ficar ainda mais perturbado com a chegada da irmã mais nova.

Crítica

Adam e Eve são casados, mas vivem em países diferentes. Ela está radicada em Tânger, onde lê toneladas de livros em línguas diferentes e ocasionalmente sai às ruas com seu hijab à procura de um amigo num típico café marroquino. Ele mora numa casa antiga em Detroit, coleciona guitarras históricas e aparelhos eletrônicos vintage, como uma televisão dos anos 1950 e um telefone da mesma época. Além da distância geográfica e o fuso-horário, outra complicação torna a relação de Adam e Eve um tanto quanto incomum: eles são vampiros. Vampiros muito cool ou hipsters, dependendo da perspectiva.

A partir de uma abordagem levemente mais acessível do que seus demais filmes, ainda que guiada por ritmo semelhante, Jim Jarmusch conduz Amantes Eternos longe das convenções muito conhecidas de produções do subgênero vampiresco. Nada de crucifixo, alho ou estacas no coração; o foco do diretor está nos dramas íntimos de um amor que atravessa séculos e tenta sobreviver ao tédio. Das lembranças preciosas de sua história, Adam e Eve, que numa concepção bíblica podem até ter composto o primeiro casal do universo, recordam de amigos de outros tempos, como Schubert, Mary Shelley e Lord Byron. Enquanto jogam xadrez e provam picolés de sangue, a câmera de Jarmusch passeia lentamente pelos limitados espaços no ritmo dos discos que seu protagonista tanto gosta de ouvir. Os enquadramentos e planos do cineasta, em especial aqueles que introduzem os personagens, também emulam a rotação dos long-plays.

Ainda que apresente certa originalidade, o problema essencial de Amantes Eternos está em sua dupla de personagens, que transmite seu aborrecimento para o espectador, passível do mesmo tédio que assola a narrativa que acompanha. Este último está obviamente sujeito a uma recepção subjetiva e até pode se conectar ou ficar intrigado com o casal. No entanto, a impressão recorrente – inclusive na exibição do Festival de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro – aponta a alienação dos personagens transposta para um roteiro vazio, com temas interessantes pouco explorados – como a sociedade contemporânea zumbificada e a inserção dos vampiros neste meio.

A presença indesejada da irmã irresponsável de Eve, Ava, interpretada por Mia Wasikowska, ajuda a trazer alguma luz para um filme intencionalmente lúgubre, porém sua participação é rápida e esquecível. As performances de Tilda Swinton como a etérea Eve e de Tom Hiddleston como Adam são superiores ao filme; quem cultua os atores poderá atingir uma melhor experiência com o todo. No entanto, a narrativa sem vida de Jarmusch é tão fraca quanto a vida de uma vítima nas presas de seus vampiros.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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