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Crítica


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Sinopse

Quatro adolescentes precisam unir forças e vencer seus medos para salvar o planeta de uma invasão alienígena.

Crítica

Aventura infantojuvenil com toques de filme-catástrofe, Fim do Mundo começa delineando apressadamente a personalidade de Alex (Jack Gore), jovem inteligente com severas dificuldades de interação social. O passado marcado por uma tragédia familiar ajuda a explicar sua hesitação diante de situações perigosas, mas, assim como as características fundamentais das demais figuras, essa não passa de uma desculpa esfarrapada para gerar momentos de superação canhestra. Os personagens se encontram num acampamento de verão. ZhenZhen (Jack Gore), apesar da esperteza de, por exemplo, viajar desacompanhada, mesmo sem idade suficiente para isso, não sustenta durante muito tempo seu silêncio misterioso, logo abrindo a matraca para demarcar cada passo dado a fim de escapar de uma invasão alienígena que ameaça o mundo. Gradativamente, o cineasta McG descarta as singularidades das pessoas em função das várias convenções narrativas.

Assim sendo, a missão a ser cumprida em grupo, a de levar um pendrive literalmente caído dos céus para uma base governamental, é recheada de passagens forçadas, como o deslocamento dos moleques por mais de 100 quilômetros, trajeto praticamente impune, isso enquanto soldados treinados e outros adultos mal conseguem dobrar a esquina. A falta de consistência da lógica interna estabelecida tem menos a ver com a puerilidade dos pré-adolescentes que protagonizam essa quase impossível empreitada do que com um esvaziamento constante e não deliberado das possibilidades dramáticas. Dariush (Benjamin Flores Jr.) está em cena apenas para servir de alívio cômico, não raro enfileirando citações de filmes como se tal bagagem fosse suficiente para estofá-lo. Gabriel (Alessio Scalzotto) é ancorado numa mal enjambrada história pregressa de infortúnios e solidão, sendo outro exemplo da frouxidão que prevalece na construção da essência dos quatro personagens principais.

Aparentemente não levando muito a sério os perigos que ameaçam a integridade física dos garotos e da única menina entre eles, McG recorre a uma sucessão de falseamentos e encaixes a fórceps numa realidade constituída visualmente de efeitos especiais de qualidade duvidosa, além de mediada por uma luz amarelada que, nem sempre de modo uniforme, deflagra a mudança da atmosfera quando o ataque não pode ser ignorado em virtude da constância. O amadurecimento de Alex é apresentado com displicência, o que torna seu crescente encorajamento algo destituído de densidade. De forma semelhante, é uma mera curiosidade a “química” citada entre ele e a intrépida ZhenZhen, cujo mutismo anterior é absolutamente esquecido em prol de trivialidades. O trânsito dessa turma que detém nas mãos a última esperança da Terra é recheado de incongruências, como o monstro que não desperta devidamente tão logo próximo de Dariush, mas bem adiante, atendendo a uma estrutura esquemática de roteiro, então expondo uma fragilidade bem evidente.

Fim do Mundo, portanto, não demonstra, fora das obviedades, o crescimento dos personagens no decurso de seu encargo insólito. Há sequências que triscam o constrangedor, como a que mostra o desmaio conveniente do garoto ferido por um extraterrestre, seu despertar canhestro apenas para anotar números de uma sequência vital e a subsequente síncope que inviabiliza o plano de extermínio dos inimigos. Sem, ao menos, conservar um gosto bem-vindo de aventura descompromissada e abertamente absurda, McG conduz cenas desprovidas de potência, em parte porque mal articuladas do ponto de vista puramente técnico. A sucessão de infortúnios é incapaz de gerar a tensão necessária, sobretudo quando os protagonistas estão diante do improvável e precisam vencer seus medos para garantir o futuro da humanidade. O elenco infantil até que tem carisma, mas os atores e as atrizes são limitados por uma direção mais perdida que crianças numa invasão alienígena.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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