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Sinopse

O coveiro John chega à China em 1937 para preparar o funeral de um padre. Ao se dar conta de que é praticamente o único adulto entre as jovens que vivem nos arredores de um bordel, ele tenta assumir uma posição de protetor.

Crítica

Um protagonista inglês para conquistar os mercados ocidentais. Uma temática comum a todos os povos – a guerra – para ser universal. E um diretor habilidoso e com bastante experiência para revelar o melhor do cinema asiático. Assim temos a fórmula quase imbatível de Flores do Oriente, título nacional equivocado para o original Flowers of War, ou Flores da Guerra, obviamente. O nome em português tenta alertar o espectador de antemão para a nacionalidade da obra, mas o que vemos está muito acima de nações ou bandeiras – tem-se, aqui, uma trabalho de cuidado primoroso e extrema delicadeza sobre a brutalidade e a violência intrínseca aos conflitos bélicos, quando homens viram animais e o respeito pelo próximo é a primeira coisa a ser ignorada. Tudo isso contado sob a perspectiva de um dos maiores cineastas chineses da atualidade, Zhang Yimou.

Yimou chamou atenção pela primeira vez no início dos anos 1990, há mais de 20 anos, quando lançou o belo e enigmático Lanternas Vermelhas (1991). Com este trabalho foi premiado em Veneza, com o Bafta e conquistou sua primeira indicação ao Oscar, feito que repetiria com os filmes Herói (2002), O Clã das Adagas Voadoras (2004) e A Maldição da Flor Dourada (2006). Em comum, todos possuem um grande aparato técnico, uma fotografia estonteante e tramas que ajudam a contar a formação do próprio povo chinês. Em Flores do Oriente estes elementos se repetem, porém de forma menos ambiciosa, apesar de ainda ser bastante ousado. Trata-se de um episódio isolado, quase um conto, e talvez justamente por isso seu alcance seja ainda maior.

Christian Bale, o Batman da trilogia de Christopher Nolan e premiado com o Oscar por O Vencedor (2010), volta ao ambiente pelo qual foi notado pela primeira vez, em Império do Sol (1987), de Steven Spielberg: a China pré-Segunda Guerra Mundial. Em Flores do Oriente o conflito transcontinental ainda não havia começado, mas o Japão já estava em pleno ataque à capital chinesa, Pequim. Bale aparece como um agente funerário chamado para o enterro de um padre europeu. Ao chegar na igreja católica, encontra apenas um grupo de alunas do internato, relegadas à própria sorte. Do pároco não sobrou nem o corpo após um bombardeio. Mas a calma não dura muito, e no dia seguinte um grupo de mulheres da zona do meretrício encontra ali o mesmo refúgio buscado por muitos. E caberá ao rosto do homem ocidental defende-las, mesmo que entre elas a convivência não seja a mais pacífica.

O perigo é constante: o Japão está com todo seu exército e fará o que quiser dos chineses que encontrar pelo caminho. O ocidental está, ao menos aparentemente, protegido. Mas o que será de todas estas meninas? Quando um oficial japonês as ouve cantando, decide que as quer na festa da vitória. Mas será apenas para celebração artística? Abusos, estupros, assassinatos e outras agressões já se tornaram comum, então por que elas deveriam esperar pelo melhor? Neste ponto a dinâmica entre os dois grupos de mulheres – as santas e as putas, as ingênuas e as vividas – assume outro contexto. E caberá ao forasteiro, já no papel de padre e conselheiro, tomar a melhor decisão.

Flores do Oriente foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, e perdeu, com justiça, para o arrebatador A Separação. No entanto a lembrança é válida, pois trata-se de uma obra que não deve passar desapercebida para qualquer cinéfilo ou mesmo mero curioso. Muito bem realizado, possui um que outro problema de edição – a longa duração pode incomodar – e mesmo o cenário geral de destruição pode soar repetitivo. Mas no fim é um trabalho que se justifica, não por tudo que ambiciona, mas sim pelo muito que comove. Quando o mundo parece não fazer mais sentido, será da bondade de estranhos que iremos depender. Já dizia Tennessee Williams há mais de 50 anos, e essa verdade cada dia se torna mais atual.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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