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Crítica


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Sinopse

Amberson é um nerd que tenta encontrar espaço (e voz) na peculiar sociedade do colégio interno em que está matriculado. Ele vê uma oportunidade de ascender localmente ao ajudar o garoto mais bonito e influente das redondezas a conquistar o coração de uma sonhadora jovem recém-chegada à vizinhança.

Crítica

Fluentes no Amor é uma versão moderna, embora um bocado antiquada, de Cyrano de Bergerac, peça teatral de Edmond Rostand que, por sua vez, é baseada na vida do escritor Hector Savinien de Cyrano de Bergerac. A premissa básica é a mesma do original dos palcos. O jovem não encaixado nos padrões de beleza vigentes, Amberson (Alex Lawther), faz uso de sua sensibilidade para auxiliar o colega garboso, Winchester (Jonah Hauer-King), a conquistar o amor da forasteira afeita a poesias, Agnes (Pauline Etienne). Porém, a sensação de “já vi este filme” deriva não desse decalque, mas da condução da trama por caminhos bem convencionais, a despeito de elementos que a tornam particularmente cativante, como a boa utilização dos desenhos acelerados, o que cria uma bonita ilusão de animação. O dado anacrônico fica por conta do contorno dos personagens, da sobressalente inocência que não combina muito com a atualidade. E isso está impresso nos envolvimentos.

Os garotos são alunos de uma escola interna sem a frequência de mulheres. Portanto, a presença de Agnes nas cercanias – ela é a filha do mais novo professor de francês da instituição – aparece como uma lufada de frescor no horizonte. Todavia, o cineasta Toby MacDonald praticamente esconde o entorno, estreitando demasiadamente o foco nos personagens centrais dessa ciranda amorosa para lá de previsível, ainda que a mesma guarde um tom delicado e peculiar. Os coadjuvantes viram meros instrumentos para sublinhar características pontuais dessas figuras principais, sendo então esvaziados de importância, cujos gestos têm pouca ou nenhuma significância. Ou seja, os demais estudantes são vistos desproporcionalmente como apêndices da amizade se formando na medida em que os vínculos amorosos ganham matizes particulares. Agnes obviamente não se apaixona pela beleza de Winchester, mas pela profundidade do acanhado Amberson.

Há componentes soltos em Fluentes no Amor, tais como a dificuldade para relacionar-se com as expectativas paternas. Ainda que seja dada ênfase à comunicação hesitante de Amberson com seu genitor, isso pouco impacta o enredo. De forma semelhante, a dificuldade de Agnes para desvencilhar-se da dependência exagerada do pai, escritor frustrado que acredita na proximidade da filha como fator imprescindível à erupção de sua suposta criatividade, é tratada de maneira muito inconsistente. Esses desperdícios se acumulam, não eclipsando integralmente o longa-metragem, mas retirando do conjunto a possibilidade de iluminar-se por outras dinâmicas. O próprio delineamento do tradicionalismo da escola, vide a recorrência de certos signos militares e a valorização de um esporte considerado praticamente sagrado na instituição, acaba minimizado diante de questões românticas, tipo a necessidade do protagonista criar coragem para emancipar-se e crescer.

A leveza da produção, cuja intenção está longe, por exemplo, de uma investigação densa das vicissitudes amorosas, não pode, todavia, servir para encobrir determinadas debilidades da concepção de Fluentes no Amor. Agnes se enamora por Winchester simplesmente porque o testemunha declamando uma poesia em francês. Entretanto, é difícil acreditar na intensidade e na veracidade desse sentimento vital. A jovem e o pai são alocados convenientemente próximos à escola e apenas depois de um contratempo são transferidos para onde residem os demais professores e suas respectivas famílias, a julgar pela aproximação do docente que ensaia transformar o triângulo amoroso em quadrilátero. O carisma do elenco trata de, em vários momentos, salvar o filme de ancorar-se nos lugares-comuns. Alex Lawther está confortável no arquétipo, criando um Cyrano que encontra no amor a possibilidade de evadir divisas, tanto as literais quanto, e principalmente, as emocionais e afetivas. O aprendizado é sublinhado repetidamente, ao ponto de deixar pouco espaço ao resto.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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