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Sinopse

Em busca da fórmula da imortalidade para salvar o amor de sua vida, Tom viaja através do tempo. Fonte da juventude, cura do câncer, os mistérios da vida escondidos no espaço. Ele segue à procura de uma resposta.

Crítica

Darren Aronofsky não possui o mais característico dos estilos, ainda que para filmar seus projetos conte invariavelmente com o ótimo diretor de fotografia Matthew Libatique. Alguns planos, movimentos e enquadramentos podem até se repetir aqui e ali, porém sua unidade encontra-se mesmo é nos temas que aborda; Trazendo quase sempre um personagem angustiado como centro narrativo, seus filmes procuram ser um estudo deste protagonista, enquanto exploram sua decadência moral e/ou psicológica durante a busca por um objetivo maior, seja este a conciliação familiar e a vitória num ringue, a solução para a conspiração envolvendo um mistério matemático, a perfeição artística na execução de um famoso papel, ou, como aqui, a busca pela vida eterna. O que de uma forma ou de outra, e mesmo que nunca para si mesmo, é o que anseiam os personagens de Hugh Jackman neste Fonte da Vida.

Contando paralelamente três histórias diferentes, o roteiro acompanha um explorador espanhol nos tempos coloniais atrás da bíblica Árvore da Vida a mando de sua rainha (Hugh Jackman e Rachel Weisz, respectivamente). Enquanto isso, no presente, um médico está próximo de achar a cura para o câncer, o qual está matando sua esposa (Jackman e Weisz, novamente). E, por fim, no futuro – ou em algum espaço atemporal – um astronauta (Jackman) segue dentro de sua nave esférica rumo a uma nebulosa, esperando encontrar lá a salvação para uma árvore com propriedades únicas. É inegável que Aronofsky domina a linguagem cinematográfica em todos os seus aspectos, compreendendo que não só de diálogos explicativos são construídas tramas, e que figurinos, cenários, iluminação e a simples forma de enquadrar um filme podem modificá-lo radicalmente. Aqui, o cineasta se vê com um longa-metragem bastante subjetivo e que ainda lida com idas e voltas temporais, o que ele facilmente resolve ao unificá-las através da fotografia que aposta no preto impenetrável e no amarelo tungstênio, às vezes mais puxado para o dourado.

Sem contar que repete movimentos de câmera em ambos os três segmentos, como aquele que, através de uma pan vertical de 180 graus, acompanha a chegada dos personagens de Jackman a algum lugar através de uma estrada – ainda que no caso do astronauta esta rota esteja implícita. Somado a isso, em dois momentos o diretor faz fluir sua montagem apostando em ligações que justamente remetem a enquadramentos de câmera: na primeira vez, vemos uma construção Maia onde se passa o primeiro segmento se tornar um quadro na parede do médico no presente, assim como este observa uma claraboia quadrada no teto do laboratório coberta de neve e iluminada por trás por um poste, até que a câmera avance até fazer aquela imagem transfigurar-se na nebulosa que ambienta o terceiro segmento.

Círculos, ele nos guia em círculos!”, esbraveja um personagem em determinado momento. O círculo, um símbolo geométrico sem começo ou fim que o realizador aqui não ignora, tem presença constante no filme. A forma da nave do astronauta, do anel, do vestido da rainha, da sala de cirurgia, do local de marcação onde um frade acha a pirâmide Maia perdida, do spot de luz sob o qual Izzi (a esposa do médico) perde a consciência, etc. Os círculos se repetem ao longo de toda a duração de Fonte da Vida, seja em falas, conceitos ou literalmente, como os exemplos citados acima. O que reflete a temática dogmatizada pelas personagens de Weisz, que diz respeito à continuidade da vida: “morte e vida não são coisas opostas”, diz Izzi, explicando que morrer era apenas um passo natural da vida, uma extensão, mas não uma condição que coexiste com a mesma. É também sobre este tema que os personagens de Hugh Jackman, menos espiritualizados e mais humanos neste sentido, estão sempre negando, impossibilitados assim de enxergar o sutil momento em que a vida passa a responsabilidade para a morte, reiniciando o círculo outra vez. Deste modo, para as figuras vividas pelo ator, em diversos momentos vemos a solução pra a vida chegar junto com a morte. Isso o leva a ficar preso em outro círculo, o da negação, pois está sempre em busca da cura para a morte. Seus personagens recusam-se a ver que correm atrás do próprio rabo, e por isso estão constantemente um passo atrás de achar o que procuram: a aceitação da morte. Uma lição a qual se dedica o final do terceiro de ato de maneira tocante.

Para nos convencer de tal, Jackman faz do conquistador espanhol ao astronauta homens de cenho fechado, questionadores, ainda que aparentem um carinho imensurável por aquilo que lutam. E, ao falhar a voz falando da esposa, o Doutor Creo (no inglês soa como um apelido da palavra Criação, não por acaso) torna desnecessário que se redima por sua obsessão em salvá-la. Ao mesmo tempo, ignora a beleza da aceitação da mesma em relação a sua finitude, uma que através desta simples modulação somos informados indiretamente do amor incondicional que ele sente pela amada. Igualmente entregue, Rachel Weisz confere a doçura necessária para suas personas, justificando a lealdade e o amor que elas recebem. E, para completar, Clint Mansell compõe uma trilha comovente e cheia de toques épicos que transmite perfeitamente o tom das mensagens que o filme traz. Por fim, podem soar estranhas algumas das imagens vislumbradas, principalmente no terceiro ato. Mas se a cabeça for mantida aberta para a belíssima história que Fonte da Vida conta, de forma alguma tais ousadias devem diminuir os méritos de um dos melhores exemplares dirigidos por Darren Aronofsky, diretor que até então tem mantido um currículo impecável.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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