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Sinopse

Duas grandes amigas, conhecidas por serem os maiores prodígios da escola, estão prestes a terminar o ensino médio. Faltando poucos dias para a formatura, percebem que estão arrependidas por terem estudado tanto e aproveitado tão pouco. Determinadas a não passarem essa etapa da vida sem nenhuma diversão, decidem correr atrás dos quatro anos perdidos em apenas uma noite.

Crítica

É comum, especialmente no cinema norte-americano, o esquadrinhamento de jovens prestes a cruzarem a nebulosa fronteira da adolescência em direção à excitante, porém repleta de responsabilidades, vida adulta. O que diferencia Fora de Série, excelente estreia da atriz Olivia Wilde como condutora de longas-metragens, é uma sutil e efetiva inversão, habilmente maquiada pela manutenção deliberada dos ares de convenção. Em princípio parecem intransponíveis as diferenças que deflagram a estratificação secundarista, com nerds estudiosos de um lado e, do outro, colegas empenhados em curtir o ocaso de um período por muitos tachado como o melhor de suas vidas. No decurso da trama, tais distâncias simbólicas diminuem sobremaneira, algo perceptível pela forma como Molly (Beanie Feldstein), alguém que permaneceu intransigentemente aferrada às lições, para isso negligenciando a convivência social e todas as suas possibilidades, percebe gradativamente que também enxerga os outros a partir daquilo que os estereotipa, portanto desconhecendo suas essências.

Conjugando com muita destreza os chavões desse tipo de filme focado na adolescência e as crescentes quebras orgânicas de expectativas, Olivia Wilde demonstra segurança na capitania do enredo, valendo-se de uma inspirada encenação, cheia de truques bem articulados (vide na bela cena da piscina) para tornar esse percurso cômico levemente agridoce. A melhor amiga de Molly, Amy (Kaitlyn Dever), a fiel escudeira, vive a expectativa de manifestar afeição por uma menina descolada que está sempre sorrindo. Filha de pais espontâneos, estes distantes de uma ideia empedernida de genitores zelosos – sem perderem, nas poucas aparições, traços de amorosidade genuínos –, a hesitante garota embarca, como de costume, no plano da amiga de tirar o atraso na última noite que lhes resta antes da festa de formatura. Tal ímpeto de extravasar sobrevém à descoberta de que os colegas bagunceiros igualmente foram aceitos em universidades prestigiadas, não apenas elas que abdicaram de uma imersão intensa na sua contemporaneidade para preparar o terreno à vivência profissional.

Fora de Série é recheado de personagens carismáticos, a começar pelas cativantes protagonistas. A despeito da conservação de suas singularidades, inclusive as falhas e os senões, o que as torna multifacetadas e complexas, ambas expressam inquietudes praticamente universais. Todavia, ao invés dessa jornada compartilhada banalmente desnudar a principal mensagem do longa, como conviria a uma produção similar presa aos códigos do subgênero, as duas são confrontadas por conjunturas naturais que igualmente as abarca. Mesmo preteridas por boa parte dos demais estudantes, elas reproduzem expedientes nocivos, como a adjetivação pejorativa de alguém por conta de algo supostamente embaraçoso. Ao expor essa dinâmica em meio a um processo tresloucado, numa sucessão de festas diversas, Wilde mostra que todos, praticamente sem exceção, não importando os grupos aos quais pertencem, estão morrendo de medo do porvir. Esse pavor, então comum, torna mais conveniente empurrar as atenções para bem longe do que lidar com as altas expectativas alheias.

As músicas cumprem um papel importante em Fora de Série, auxiliando na construção das modulações emocionais da história, não representando traços de intrusão ou reiteração. Subvertendo uma lógica de protagonismo masculino, a diretora coloca na linha de frente duas meninas com anseios bastante sintomáticos de uma geração que pensa em coisas como identificação de gênero e que, apesar do obscurantismo, tenta seguir adiante sem tantas restrições. Amores platônicos, afetos que desafiam rumos pré-concebidos, encontros de inesperada intensidade sentimental, tudo está condensado nessas horas em que as protagonistas descobrem poder se liberar de determinadas amarras. Peculiaridades, tais como a onipresença da intensa Gigi (Billie Lourd) e os alunos afeitos a trazer uma teatralidade caricatural ao ocaso da juventude, fazem a narrativa mais leve, sem com isso banaliza-la. Diminuindo, também, a distância entre adultos e jovens, assim evitando uma condição antagônica, Olivia Wilde faz um surpreendentemente vibrante e maduro filme sobre crescer.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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