Crítica
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Sinopse
No Hotel Fortaleza, Pilar trabalha como camareira, mas planeja se mudar definitivamente para Dublin após o Ano Novo, em busca de vida melhor. Ela conhece Shin, hóspede sul-coreana que veio ao Brasil para levar o cadáver do marido e volta ao seu país. As duas se aproximam e, conforme os planos delas dão errado, formam um laço inesperado e passam a ajudar uma à outra.
Crítica
Pilar não quer partir, mas precisa. Também indo contra seus anseios naturais, Shin se vê obrigada a ir aonde não quer, por um motivo que não desejava. Mesmo assim, as duas se encontram em momentos distintos de suas vidas: uma de partida, a outra de chegada. Essas duas mulheres formam a base de Fortaleza Hotel, segundo longa-metragem de Armando Praça, exibido pela primeira vez no Brasil na sessão de abertura – e como parte da mostra competitiva – do 31º Cine Ceará, justamente em Fortaleza. Mas a despeito do nome, é bom que o espectador não espere encontrar por aqui uma capital cearense digna dos folhetos de turismo. Quem acompanha o diretor desde seu longa anterior, o premiado Greta (2019), sabe que o universo em que ele habita é outro, distante dos cartões-postais. Uma ambientação que também se encontra por aqui, mas num registro longe dos inferninhos e de desejos sexuais mais básicos. A fome aqui não está apenas em viver, mas em sobreviver.
Na primeira cena do filme, Pilar (uma excelente Clebia Souza, finalmente estreando como protagonista, mostrando que há muito poderia ter assumido tal função) treina seu inglês para a entrevista na imigração ao chegar na Irlanda. Diz que está no país apenas para uma temporada de três meses, com a intenção de visitar uma amiga. Não demora para o espectador descobrir que a verdade não é bem essa. Mulher batalhadora, foi mãe aos treze anos e agora trabalha como camareira no estabelecimento do título. Ganha, basicamente, o necessário para se manter, mas não o suficiente para sonhar. É por isso que há tempos programa o momento de ir embora. De partir para o exterior, em busca de uma vida melhor, de condições mais humanas de trabalho, de moradia, e existência. Para tanto, está preparada para deixar para trás o namorado, que nem sempre lhe é uma companhia presente, e mesmo a filha, já adolescente, que mais lhe dá dor de cabeça do que alegrias. Mas nunca conseguirá abandonar quem, de fato, é.
Shin (Lee Yeong-ran, atriz sul-coreana premiada no Festival de Berlim e no Asia-Pacific Film Festival, estreando no cinema brasileiro), por sua vez, se viu obrigada a deixar a própria casa e ir até o outro lado do mundo, onde o marido cometeu suicídio. As condições ao redor da morte dele são confusas, e ela está no Fortaleza Hotel não apenas para descobrir o que aconteceu, mas também para cuidar do corpo e colocar um ponto final nessa história. A questão maior é a necessidade de amparo: o homem foi demitido de sua função dias antes, e agora a empresa se recusa a arcar com as despesas do transporte e funeral. A mulher, portanto, está em situação de desespero provocada pela impetuosidade da morte. Ao mesmo tempo, Pilar se vê na luta por uma urgência que a vida lhe impõe. Se a estrangeira quer se livrar da morte, a daqui busca apenas seguir vivendo. No meio desses caminhos, se encontram. E será num passo desajeitado de tango que acabarão entrando uma em sintonia com a outra.
Há um cuidado grande por parte do realizador na construção dessas realidades aqui expostas. O hotel por onde transitam não possui grandes chamativos, nem mesmo desperta interesse ou curiosidade. Até pela ausência de um olhar amplo – a fachada só é vista de modo enviesado, de dentro para fora – ao concentrar a ação dentro desses espaços (no trabalho, em casa, nas lojas), foca-se também nos debates internos dessas personagens. Fala-se pouco, porém expressa-se o suficiente através de olhares, atitudes derradeiras, súplicas por debaixo da porta e despedidas íntimas que não encontram ressonância nos abraços dados em público. Se por um lado fingem estar tudo bem, apenas as duas deixam claro o turbilhão que enfrentam, e como é difícil para ambas lidar com essas dificuldades. A ausência – seja do ex-companheiro, ou da filha desaparecida – também se reproduz pelo deslocamento geográfico, tanto o já percorrido, como naquele que se anuncia.
Armando Praça, trabalhando aqui a partir do roteiro escrito por Pedro Candido e Isadora Rodrigues, abre diversas portas no decorrer dessa história, mas demonstra não estar preocupado em por elas atravessar. Fica claro que o importante é explorar essas possibilidades, sem, no entanto, desenvolvê-las até o esgotamento. Por outro lado, as protagonistas se revelam alicerces de uma trama que, de outra forma, talvez não se sustentasse com tamanha desenvoltura. É por elas que Fortaleza Hotel não apenas se justifica, mas também se revela além do que se poderia suspeitar num instante inicial. Elas se olham, se entendem, erram como qualquer pessoa, e mesmo assim seguem buscando, uma na outra, o acolhimento que o mundo ao redor parece lhes negar. E por essa sinergia que transborda da tela, as jornadas delas se mostram tão válidas quanto dignas de (muita) atenção. São os detalhes quase imperceptíveis que estabelecem sem pressa, mas com autoridade, que prova o quanto essa sororidade chega não só em boa hora, mas no momento que pode, enfim, fazer diferença.
Filme visto de modo presencial durante o 31º Cine Ceará, em Fortaleza, em novembro de 2021
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
Ailton Monteiro | 6 |
Alex Gonçalves | 5 |
Rodrigo Passolargo | 7 |
Arthur Gadelha | 7 |
MÉDIA | 6.3 |
Olá Não sei se entendi o final do filme: A sul coreana foi embora sem se despedir ? Daí a Pilar assistiu aos fogos sozinha.. seria isso mesmo ou perdi alguma coisa ?