Crítica
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Sinopse
A diretora teatral Camille Dixon encontra sua tia morta ao lado de uma nota de suicídio. Temendo que o nome da família seja manchado, ela modifica a cena para forjar uma probabilidade de assassinato. A polícia acaba suspeitando do melhor amigo da falecida.
Crítica
A carreira de Robert Altman é permeada pelo desfile nos mais diversos gêneros, das sátiras como M.A.S.H. (1970), a densidade de Kansas City (1996) ou o suspense comedido de Assassinato em Gosford Park (2001). Todos, é claro, com um coral de personagens verdadeiros, que parecem amigos ou parentes nossos de tão humanos que são retratados. Não é nenhum espanto que o mesmo ocorra em A Fortuna de Cookie (1999). Porém, desta vez, o clima parece ser mais light que o normal, como se o diretor filmasse na mesma leveza que a história na tela.
Nem por isso Altman deixa de fazer pegadinhas com o espectador. Nos primeiros 20 minutos de introdução, o roteiro de Anne Rapp expõe todos os personagens que serão esmiuçados ao longo do filme tendo como fio condutor Willis (Charles S. Dutton). Das várias doses que o personagem está tomando em um bar de amigos, ele quebra uma garrafa de uísque na rua e retorna para “tomar emprestado” uma outra. No caminho para casa, ele se depara com uma van onde Emma (Liv Tyler) está quase dormindo. Enquanto isso, dois policiais vigiam as ruas nada turbulentas da cidade, entre eles Lester (Ned Beatty). Na mesma hora, ocorre na igreja o ensaio do espetáculo Salomé, de Oscar Wilde, preparado por Camille (Glenn Close). Quem interpreta a personagem título é a irmã da diretora da peça e mãe de Emma, Cora (Julianne Moore). E voltamos a Willis, que está chegando de forma sorrateira a uma casa pela janela da cozinha e se depara com uma estante cheia de armas. Logo sabemos que esta é a casa de Cookie (Patricia Neal) e os dois são grandes amigos. Tanto que ela acorda com o barulho e os dois conversam madrugada adentro.
O fato do personagem/ator ser negro não é à toa. Esta sequência inicial pode incitar que teremos uma trama recheada de questões de raciais e preconceitos. Porém, na sociedade construída no filme, tudo o que se vê é ao contrário, quase uma utopia no interior sulista dos EUA, onde todos são amigos. Aliás, a cidade por si é quase fora da realidade já que ninguém parece “desgostar” ou querer derrubar os outros. Isto, é claro, até as máscaras começarem a cair quando a fortuna do título vir à tona após um aparente suicídio. Cookie aparece morta com um bilhete ao lado e são Camille, a sobrinha que tem implicância com ela, e Cora, a desmiolada, que descobrem tudo. Para evitar um escândalo na cidade, ela forja um assassinato que a culpa cai justamente nas costas de Willis, o melhor amigo da personagem título.
O que poderia se transformar num suspense pesado acaba por virar uma comédia quase inocente, com Altman apontando as ironias da vida e também as injustiças. Porém, tudo num clima muito mais leve do que se esperaria. As confusões geradas pelas atitudes de Camille e Cora avançam na trama, num intrigante jogo de gato e rato. Os personagens são humanos, mas aqui adquirem um ar ade desenho animado, como “vilões” que fazem tudo errado e “mocinhos” que vão até as últimas consequências para descobrir a verdade. E o elenco, impecável, segura toda a projeção. Sabe quando o feijão com arroz se torna o melhor prato? É o caso aqui. Com um Altman relaxado, temos uma produção que pode não ser das mais geniais de sua carreira, mas com certeza está acima da média pela falta de pretensão. E divertir com inteligência não é tarefa para qualquer um.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 8 |
Ailton Monteiro | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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