Crítica
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Sinopse
A partir do uso cada vez maior das câmeras através de sua popularização nos telefones celulares, o diretor Lauro Escorel discorre sobre a história da fotografia no Brasil, apresentando e esmiuçando seus principais expoentes desde 1840, ano em que a primeira máquina fotográfica chegou ao país.
Crítica
A primeira imagem vista em Fotografação é, ao mesmo tempo, emblemática e enganadora: a câmera apenas focaliza um telefone celular, prestes a tirar a selfie de alguém desconhecido. Logo a seguir imagens similares percorrem a tela, sempre ressaltando o esforço feito em trazer alegria e sorrisos a uma foto produzida para as redes sociais. Tal abertura, direcionada pela personificação do diretor Lauro Escorel em cena, induz que o foco deste documentário será a mudança de comportamento das pessoas em relação ao ato de fotografar, quase um ensaio sociológico sobre o tema. Não é o que acontece.
Escorel até ensaia caminhar neste sentido, através do contraste decorrente de seu encontro com um grupo de jovens, tão distante em interesses quanto no linguajar. Mas logo o diretor/protagonista aparenta se desinteressar em tais transformações de forma a, apenas, falar de si mesmo a partir de suas inspirações. Inicia-se então uma jornada pela história da fotografia no Brasil, da primeira câmera a aportar em solo nacional em 1840 até o auge da revista O Cruzeiro, sempre dialogando com filmes nos quais o próprio Escorel trabalhou. Se esmiuça vida e trabalho de cada um dos fotógrafos retratados, isto acontece muito devido ao interesse em ressaltar o porquê de cada um deles ter lhe servido de inspiração. Ou seja, trata-se de uma viagem histórica que tem por finalidade interesses absolutamente pessoais.
Tal objetivo fica ainda mais escancarado a partir de detalhes sobre Escorel que vão aquém do contexto deste documentário, como a conversa em que se revela que o diretor e a fotógrafa Maureen Bisiliatt são filhos de diplomatas, sem que tal curiosidade seja desenvolvida. Ou mesmo através de ausências sentidas de ícones contemporâneos da fotografia, como Evandro Teixeira e Sebastião Salgado, ignorados neste estudo. Se historicamente fazem falta, é compreensível diante do caráter personalista aqui implementado.
Apesar das limitações decorrentes, tanto em relação ao alcance obtido quanto à profundidade demonstrada, ainda assim Fotografação tem seu valor. De forma bem professoral, Escorel percorre nuances da fotografia no Brasil e apresenta ícones do meio, como Marc Ferrez, Mario de Andrade, Jean Manzon e José Medeiros, ao ponto de possibilitar ao leigo compreender peculiaridades de cada um, não apenas sob o âmbito estético mas também em relação à forma de trabalho. Tudo seguindo o formato protocolar do documentário, através do trinômio material de época/depoimentos/narração em off, feita pelo próprio Escorel, aliada a uma trilha sonora solene, que confere ao tema uma importância ainda maior.
Por mais que até prenda a atenção de curiosos e quem trabalha na área, Fotografação deixa também uma ponta de decepção pela oportunidade desperdiçada. A escolha pelo ângulo pessoal não só escanteia assuntos e nuances, como também provoca um dirigismo que até mesmo contrasta com a proposta de apresentar a história da fotografia brasileira. Ainda interessante, deixa no entanto a sensação de ser bem aquém do que poderia ser, caso não houvesse tamanha egotrip.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Francisco Russo | 4 |
Bruno Carmelo | 4 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 4.3 |
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