Sinopse
Durante uma década, uma jovem torna-se cada vez mais debilitada e disfuncional devido a uma doença mental impossível de ser diagnosticada. Enquanto as pessoas desconfiam que o problema tenha outras raízes, seus amigos e familiares procuram as melhores formas para ajudá-la sem danificar seu cotidiano.
Crítica
No decurso de Fourteen as elipses ganham destaque, deixando de meramente acelerar a trama, de somente torna-la objetiva por meio da supressão de noções identificáveis pelo contexto. Elas passam a acentuar o caráter cotidiano dos distanciamentos. Todavia, antes que esse procedimento se instaure, criando uma sensação prevalente de angústia diante da progressão inexorável que modifica até os vínculos mais antigos e densos, há uma insistência na repetição de dinâmicas, como a troca de parceiros amorosos e toda sorte de ocorrências que atravessam a amizade de Mara (Tallie Medel) e Jo (Norma Kuhling). No começo elas parecem apenas diferentes, com a primeira tendo uma personalidade mais reservada e a segunda apresentando a instabilidade emocional que a define. Mas, aos poucos, essa discrepância assume contornos de entrave, determinando o afastamento gradativo. Até que isso aconteça de fato, porém, as tônicas são bem similares.
O cineasta Dan Sallitt aposta numa linguagem sóbria, composta de planos descomplicados que privilegiam o desempenho das atrizes. Mara frequentemente se mostra preocupada com Jo, dando toques quanto à sua inclinação por não respeitar horários, bem como reprovando o comportamento agressivo com alguns namorados. Ela cumpre a árdua função de amparo à fragilidade psicológica da amiga, mas demonstra insatisfação assim que a recíproca não é verdadeira. Jo vive imersa em seu próprio mundo de problemas, incapaz de perguntar à fiel companheira se atribulações também a afligem. No entanto, Fourteen não observa com consistência essa troca singular, geralmente transitando quase que à deriva por episódios aparentemente banais, às vezes tocando diretamente em feridas expostas e noutras recônditas de semelhante capacidade para deixar cicatrizes significativas. O conjunto é frouxo, com lampejos de pungência e coragem.
Fourteen não é ancorado na deflagração e na posterior resolução dos problemas. Dan Sallitt escrutina Mara e Jo no dia a dia, buscando extrair dessa operação uma verdade profunda acerca das personagens. Os altos e baixos da amizade estão ali, assim como as dificuldades para lidar com estados de ânimo sempre em baixa e as demandas encaradas individualmente por Mara. Aliás, ela, paulatinamente, se transforma na protagonista, uma vez que Jo fica restrita a esparsas aparições em condição degradada que prenunciam um destino não muito animador. O vínculo alimentado desde a escola é apenas esclarecido próximo ao fim, numa cena de natureza expositiva, mas que funciona poeticamente em virtude das circunstâncias e da simbologia daquele momento. Porém, não deixa de ser uma revelação simplória, encaixada estrategicamente pelo roteiro num bloco apropriado às emoções, mas que, justamente pelo surgimento tardio, perde o seu potencial.
Não fosse o reforço que as elipses conferem à atmosfera de melancolia sobressalente no último terço de Fourteen, o filme seria um retrato beirando o monótono dos elos de Mara e Jo. Dan Sallitt não utiliza a proximidade para evidenciar a força da conexão desde a tenra idade e, posteriormente, subaproveita a distância como indício das mudanças ocasionadas pela irrefreável passagem do tempo. Falta densidade à interação que, contingencialmente, parece solapada mais pela direção do que necessariamente por vicissitudes. Tallie Medel e Norma Kuhling dão conta das esferas distintas nas quais as personagens habitam, exibindo composições encorpadas e adequadas para tanto. Entre elementos lapidados e outros não tão bem aproveitados, o conjunto fica num meio termo ora inofensivo (embora haja rasgos de beleza), ora fatigante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6 |
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