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Crítica

O criativo músico e comediante inglês Chris Sievey e seu excêntrico personagem Frank Sidebottom serviram como base para Frank, comédia dramática que talvez se torne mais notória como o filme em que Michael Fassbender se esconde dentro de uma cabeça gigante de papel machê. No entanto, além de sua premissa e referências inusitadas, a produção dirigida pelo irlandês Lenny Abrahamson funciona como uma estranha e divertida fábula sobre arte, inspirações, aspirações, fama e as máscaras sob as quais nos escondemos.

Adaptado de uma memória de Jon Ronson, que co-escreveu o roteiro com Peter Straughan, Frank segue as vivências de Jon como um aspirante a compositor, frustrado por viver com os pais e não manter muitas perspectivas além de um trabalho burocrático e nada artístico. Sua grande oportunidade aparece quando o tecladista da banda Soronprfbs (não tente pronunciar) tem um surto psicótico e ele é subitamente convocado para substituí-lo na gravação de um novo álbum. Repleto de tipos curiosos, o grupo é liderado pelo frontman que dá título ao filme, oculto por uma cabeça artificial com cabelo vintage, boca perpetuamente aberta e grandes olhos fixos.

Abrahamson, que já demonstrou considerável talento na condução do suspense What Richard Did (2012), tem uma abordagem completamente diferente para Frank. Acompanhando de perto o rico universo de seus personagens, o diretor assume um tom quase documental, enquanto deixa o trabalho difícil para a narrativa e seus atores – que compõem muito bem uma história agridoce com interpretações marcantes. Ronson e Straughan pontuam seu roteiro com atos que se dividem entre Jon e o primeiro contato com a banda, suas desventuras numa cabana/estúdio de gravação e a primeira turnê do grupo nos Estados Unidos, quando são convidados para o festival de música South by Southwest, em Austin, Texas.

Fassbender e seu Frank são a alma do filme. O ator, que compreendeu perfeitamente o tom e tempo de seu personagem, se vale de uma expressão corporal meticulosamente estudada para dar vida e melodia a um tipo essencialmente controverso, que poderia desaparecer oculto por uma máscara inexpressiva. Maggie Gyllenhaal também se faz notar na pele da tempestuosa intérprete de teremim, instrumento eletrônico que ela manipula como num transe, emulando a verve de uma Régine Chassagne depressiva. Mas há espaço também para o simpático Domhnall Gleeson como Jon, que serve como guia para o espectador pelo singular universo musical dos Soronprfbs. A banda inclusive experimenta sons estranhamente bons, numa trilha sonora que faz valer algumas revisitas ao filme por meio de sua música – com destaque para a melancólica I Love You All, que aparece com os créditos finais.

Tocante sem ser piegas e memorável, porém não inesquecível. Frank é um filme que pode passar despercebido pelo circuito cinematográfico e ficar destinado a festivais independentes – o filme gerou burburinhos no SWSX e em Sundance. Ainda assim, garante sorrisos e até mesmo algumas lágrimas. Com sorte, você vai sair da sessão pensando em construir uma cabeça de papel machê (ou fibra de vidro, mais resistente) para se tornar Frank de vez em quando.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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