Crítica
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Crítica
Há tempos Tim Burton parecia estar perdido em filmes projetados para serem apenas grandes sucessos de bilheteria, mas que não acrescentavam muito ao viés artístico tão conhecido do realizador. A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010), apesar de estrondosos em arrecadação nas bilheterias, foram produções, no máximo, razoáveis. Sweeney Todd (2007) apenas pegou carona na época em que os musicais retomaram a vitalidade em Hollywood e, apesar da estranhice básica do diretor, não foi grande coisa. Já o recente Sombras da Noite (2010) não fez muito sucesso e parece ter ido nessa onda “light” de Burton. Foi preciso retomar um curta-metragem do início da carreira e adaptá-lo para uma animação em stop-motion para que o criador finalmente fizesse as pazes com seus fãs.
Frankenweenie é a volta de Tim Burton como o conhecemos: sombrio, bem humorado, excêntrico, divertido e extremamente humano. É uma mistura de elementos de A Noiva Cadáver (2005), Peixe Grande (2003) e até Os Fantamas se Divertem (1988). Retomando a trama de seu curta homônimo de 1984, aqui acompanhamos o adolescente Victor Frankenstein. Um rapaz tímido, cuja maior diversão é rodar curtas estrelados pelo seu (único) amigo, o simpático cão Sparky, um obcecado adorador de bolas. Com a chegada de um esquisito professor em sua escola e a oportunidade de trabalhar na Feira de Ciências da instituição, Victor decide seguir o caminho destes estudos, até que seu pai sugere que também faça aulas de beisebol. Pois é justamente durante uma partida que o garoto acerta a bola pra fora do campo, Sparky vai atrás e acaba morrendo atropelado por um carro. Com essa tragédia, o rapaz realiza uma experiência que faz jus ao nome Frankenstein e revive o amigo. Os problemas começam a aparecer quando, pouco a pouco, seus colegas e a comunidade descobrem o que aconteceu.
Burton homenageia e faz referência a vários filmes e estrelas de contos de horror a todo o momento, da atmosfera sombria com aquele toque expressionista até personagens baseados fisicamente em clássicos do terror. Temos um colega de escola invejoso que mais parece o Quasímodo (vulgo, O Corcunda de Notre Dame), outro que é a cópia descarada do ícone Boris Karloff (por sinal, o mais conhecido Frankenstein do cinema) e até um japonês que, além do engraçado sotaque carregado, sugere a criação de outro famoso monstro nipônico. Sem contar a “participação especial” de Wandinha e seu irmão Feioso (A Família Addams) e a loira demoníaca de olhos vidrados com seu gato que prevê o futuro através das fezes. Sim, fezes. Não estou brincando. E o que poderia ser algo grotesco torna-se genial neste que, com certeza, é um dos filmes em que o diretor está mais à vontade.
É neste território repleto de bizarrices que o realizador mostra o quanto a história pode agradar até mais aos adultos do que às próprias crianças. Não que elas possam ser excluídas de uma sessão do filme. Pelo contrário. Há tanta diversão, piadas, um enredo fácil de acompanhar, personagens extremamente carismáticos e aquela básica “moral da história” no final, de forma que qualquer pequeno vai ficar feliz com o que acabou de assistir. Afinal, qual menino ou menina não adora um cachorro? Porém, aqueles temas caros à Burton e que refletem na sua visão de mundo, perceptível a um espectador mais maduro, são os principais pontos trabalhados em cena.
Um dos pontos mais relevantes talvez seja a relação ambígua que o Victor tem com seus pais. O patriarca está sempre fora, tanto de casa quanto de seu universo, e a mãe, apesar de ser extremamente carinhosa, vive na lua, sempre lendo romances que mais parecem os clássicos açucarados que são vendidos em bancas de jornais, enquanto que no andar de cima Victor faz mil experiências que nunca são levadas a sério por aqueles que deveriam apoiá-lo. Uma viagem ao mundo da imaginação como válvula de escape de uma realidade em que ele é ignorado. Um tema constante nas realizações de Burton, a figura paterna que é sempre ausente de alguma forma. Os já citados Peixe Grande, A Fantástica Fábrica de Chocolate, os dois primeiros Batman (1989 e 1992) e até A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999) e Ed Wood (1994) tocam nesse ponto, ainda que não de uma forma perceptível à primeira vista.
A belíssima fotografia em preto e branco, aliada a uma ambientação atemporal de época, que mistura elementos dos anos 1930 e 1940 (como o parque de diversões que parece ter saído de Pacto Sinistro, 1950, de Alfred Hitchcock) com a tecnologia atual, servem não apenas para revigorar a forma do autor e seu estilo sombrio, além de homenagear o passado, é claro, mas também elucida o quanto esta história de amor e amizade entre um jovem e seu animal de estimação atravessa gerações sem nunca envelhecer. Afinal, como superar uma perda como a de Victor? Como é sentir que se está só no mundo? Frankenweenie é, antes de qualquer coisa, um belo conto sobre o que estamos dispostos a fazer para não perdermos o que mais amamos. E talvez por este tantinho de pieguice, que não é nada fora da realidade, Burton consegue nos conquistar de novo. Ainda bem.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 8 |
Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.8 |
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