Crítica
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Sinopse
A cidade de Londres está em pânico por conta de um meliante que mata suas vítimas após estupra-las. Tido como principal suspeito, um ex-piloto da Força Aérea Britânica precisa provar sua inocência.
Crítica
É arriscado vestir-se mal em Londres. Ao acentuar o tom que lhe caracterizou, Alfred Hitchcock retorna a casa para realizar o seu penúltimo trabalho, o último em solo inglês. Na trama, adaptada do romance Goodbye Piccadily, Fareweell Leicester Square, de Arthur Le Bern, encontramos um diretor seguro ao manejar ferramentas dramáticas há muito dominadas.
O grandioso plano inicial a sobrevoar o Tâmisa, espécie de afago no ego dos conterrâneos, abre o filme em um convidativo dia de sol, algo que muitos ingleses estão por ver. Mas a construção não foge da sua conhecida verve quando a imagem positiva do cartão postal britânico se desfaz na presença de uma mulher boiando – morta. Estão dadas as boas-vindas. Temos um corpo e um serial killer. Temos Hitchcock. Não precisamos de muito mais. Em Frenesi, a estrutura do enredo se aproxima à de O Homem Errado (1956). No clássico, o diretor conduz Henry Fonda para o claustrofóbico contexto kafkiano, em que um homem inocente é condenado pelo crime de outro. O perigo está sempre por perto. Mas se no robusto filme dos anos 50, Hitchcock tinha alicerces profundos – como a relação entre justiça e moral –, aqui os movimentos são artífices para um acontecimento mais superficial – o suspense pelo suspense.
Nele, Richard Blaney (Jon Finch) rememora o posto de Fonda quando Brenda (Barbara Leigh-Hunt), sua ex-mulher, é encontrada morta após terem sido vistos conversando em tom acalorado. Por meio de uma investigação parcial – a desconfiança na polícia é um dos trunfos recorrentes do gênero –, todos os indícios levam a crer na culpa de Blaney, exceto para o espectador, que pôde acompanhar a ação do verdadeiro assassino nas minúcias. Além de distinguir como poucos os personagens e o público por aquilo que sabem, o diretor constrói três ou quatro cenas que fazem Frenesi assumir e o posto de seus filmes mais fortes. No sentido contrário do que marcou toda a obra, ou diferentemente de Psicose (1960), por exemplo, em que a técnica preenche o lugar do óbvio, Hitchcock apresenta o sexo e a violência sem véu, no claro intuito de chocar.
Os momentos impactantes, porém, não estão em detrimento do domínio técnico e psicológico da narrativa. A cena emblemática é a do assassinato de Brenda, quando ela encontra o carrasco Robert Rusk (Barry Foster) na agência em que trabalha. Durante a aproximação do assassino, a discussão toma a forma alternada dos planos plongée/contre-plongée e o clima de intimidação está pelo contraste dos rostos. Envolvido pelo que se passa, os diálogos afiados e a expectativa do acontecimento, o público raramente tem consciência de como a precisão de Hitchcock o envolve e domina. Depois de agir nos momentos certos, o restante fica por conta da história, sólida pela estrutura literária invariavelmente marcada.
Para além das cenas de ação, Frenesi consegue momentos e reviravoltas que garantem o seu mérito. Invariável está a qualidade do humor, que continua não escolhendo as suas vítimas. E, ao contrário do enredo, parece verdadeiramente inspirado. Mais próximo da despedida que Hitchcock merecia deixar em seu país.
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