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Exibido pela primeira vez dentro da programação do South by Southwest Film Festival, evento que já foi conhecido por apresentar o que de mais inovador e original se tem feito nas mais diversas áreas culturais e tecnológicas, Eu Não Posso Esperar é retrato, na verdade, do ocaso atualmente registrado pelo cinema independente norte-americano, celeiro que anos atrás costumada dialogar com temas urgentes em ambientações calcadas pelo realismo, mas que agora se veem afogados pelo próprio clichê que inventaram, reduzindo-se a meros pastiches daquilo que um dia já foram. Os elementos de sempre estão todos lá, mas tão mal-empregados – apresentados de forma irregular e pouco convincente – que o máximo que conseguem é estimular a dúvida se tais provocações são meramente equivocadas ou não mais do que o registro de um instinto que parece ter ficado perdido no tempo.
Richie (Tye Sheridan) é um rapaz que recém completou 18 anos e, por isso, se vê obrigado a deixar a casa de adoção onde morava para se aventurar por conta própria na vida adulta. Ele consegue um emprego temporário ali, uma ocupação aqui, e assim vai levando. Acompanhamos o garoto com cara de bebê desempenhando serviços como pedreiro ou carregador, atividades difíceis de imaginá-lo envolvido a partir do visual sempre limpo e bastante ordenado que carrega. Nestes dias acaba por conhecer um jovem errático em posição similar a sua (Caleb Landry Jones, de Três Anúncios para um Crime, 2017) e uma garota bem-sucedida (Imogen Poots), porém carente pela recente morte da mãe. E é neste ponto em que a relação entre os dois foge do ordinário para se tornar, no mínimo, inadequada.
Pois se uma das medidas iniciais que o protagonista tomou foi encontrar um lugar para morar, não tardou para descobrir que a escolha que fez foi um tanto problemática. Isso porque, logo no segundo ou terceiro dia, ao chegar em casa, descobre a porta arrombada. E o que fica sabendo pelo novo e não muito confiável amigo é que talvez ele tenha sido vítima de um golpe praticado pela corretora, uma vez que é conhecida por aplicar pequenas trapaças como essa em inocentes que dela se aproximam. Ele, naturalmente, vai tirar satisfações – ou talvez algo mais. E tudo o que sabemos é que, no dia seguinte, ela é encontrada morta. Ao menos para a audiência, Richie é o principal suspeito. Mas teria sido ele mesmo o responsável pelo crime? E se é inocente, por quê insiste em manter segredo do seu envolvimento com o caso para a filha da vítima? Questões que serão de competência do detetive Portnoy (Jeffrey Wright) investigar.
Por mais que o diretor e roteirista A. J. Edwards se esforce para criar um clima de desamparo e inquietação, tudo o que Eu Não Posso Esperar consegue proporcionar é apatia e resignação. Antigo parceiro de Terrence Malick – foi editor dos dramas Amor Pleno (2012) e Cavaleiro de Copas (2015) – Edwards, aqui em seu segundo esforço como realizador, deixa evidente um interesse maior pelos personagens do que pela trama que os envolve. No entanto, ao se debruçar sobre cada um dos tipos que reúne, encontra apenas superfícies problemáticas, e nunca uma profundidade digna de atenção. Tye Sheridan, que flertou com o cinema blockbuster em sucessos como X-Men: Apocalipse (2016) e Jogador Nº 1 (2018), estreou na tela grande também pelas mãos de Malick no etéreo A Árvore da Vida (2011). Dessa vez tenta retornar a um ambiente que lhe permita correr mais riscos, porém agora na condição de protagonista. Não que se saia mal nessa tarefa: o garoto é, de fato, talentoso. Mas com tão pouco em mãos com o que lidar, sua entrega resulta nula, sem os meios para atingir melhores resultados.
Há algo interessante em Eu Não Posso Esperar, no entanto, e isso está na concepção visual que o diretor oferece ao seu filme. À medida em que seus personagens vão se sentindo cada vez mais enclausurados, sejam em suas mentiras ou pelas condições proporcionadas pelo contexto social ao qual são inseridos, assim também vai se fechando o quadro ao redor deles. A fotografia e a edição colaboram para criar essa sensação de encerramento, refletida na experiência do espectador. Da mesma forma, no único momento em que se sente de fato livre, durante um passeio apaixonado pelo interior, o vemos através de uma lente ampliada, com alcance potencializado, elevando a trama a uma nova dimensão. É um recurso curioso, mas não mais do que um detalhe dentro de um conjunto que pouco tem a oferecer de novo. O debate que emula – a situação de ex-órfãos obrigados a enfrentar uma sociedade que não os quer, sem estarem preparados para tal desafio – é válido. A oportunidade, entretanto, é desperdiçada. Essa é uma discussão que merece cuidado, e não ser tratada por meio de reviravoltas vazias e armadilhas de estilo que indicam estudo da forma, mas ausência de conteúdo.
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