Crítica


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Sinopse

Depois de ser atingida por um terremoto seguido de um tsunami, a usina nuclear de Fukushima pode explodir a qualquer momento. Mesmo arriscando-se em território contaminado, os engenheiros tentam de tudo para evitar um desastre ainda maior.

Crítica

No dia 11 de março de 2011, um enorme tsunami, provocado por um tremor de magnitude 9.0, atingiu a usina nuclear de Fukushima, na costa nordeste do Japão, causando diversos danos à instalação, entre eles, o derretimento de três dos seus seis reatores. O gravíssimo acidente resultou na liberação significativa de material radioativo na região, levando à evacuação de mais 170 mil pessoas, e configurando o segundo maior desastre nuclear da história, atrás apenas do ocorrido na cidade de Chernobyl, em 1986. Em Fukushima: Ameaça Nuclear, o diretor Setsurô Wakamatsu revisita este trágico evento pelo olhar daqueles que estiveram em seu epicentro: os funcionários da usina. Para isso, elege dois reais protagonistas, o diretor da central, Masao Yoshida (Ken Watanabe), responsável pelo comando de todas as ações internas, e um experiente supervisor de pessoal, Toshio Izaki (Kôichi Satô), que preserva uma amizade de longa data com Yoshida.

Sem destinar seu tempo a qualquer tipo de contextualização, Wakamatsu já inicia o longa mostrando o impacto do tremor, desencadeando o efeito dominó de acontecimentos trágicos. Desde o princípio, o realizador se revela muito mais interessado nos procedimentos, estratégias, mecanismos e conceitos técnicos que envolvem o enfretamento do desastre do que na construção dramática e verdadeiramente humana da história. Há a tentativa de dar alguma densidade, ao menos aos protagonistas citados, especialmente ao supervisor Izaki, com Wakamatsu acompanhando os passos de sua família – a esposa, o pai idoso e a filha, com quem vive um conflito, devido ao noivado da garota com um homem mais velho – durante a evacuação. Tal tentativa, contudo, resulta bastante fugaz, relegada a uns poucos clichês e prejudicada por uma encenação frágil, e pela dramatização quase caricatural, que reduz um intérprete competente, como Watanabe, a um mero interlocutor expositivo para os meandros técnicos da trama.

As trocas exaltadas – os personagens passam praticamente toda a projeção gritando uns com os outros, até para informar o menor dos fatos – mesmo dentro do cenário de angústia e desespero no qual todos se encontram, soam sempre um tom acima, exageradas. Fator responsável por criar uma atmosfera de artificialidade que envolve, inclusive, os momentos de mais emotividade. Centrado em sua abordagem procedural, Wakamatsu parece querer expor um contraste entre a conhecida disciplina e organização nipônicas, e o despreparo mostrado particularmente pelo governo do país na condução da tentativa de controle da catástrofe. Em determinadas passagens, fica a sensação de que o cineasta talvez esteja, de fato, buscando um tom crítico, dada a construção que por vezes beira o humor involuntário de figuras como a do o primeiro-ministro, e do retrato de suas ações. É o caso da decisão de visitar pessoalmente a usina em meio ao caos, atitude ao mesmo tempo corajosa e irresponsável, já que sua presença acaba gerando o adiamento de uma importante manobra de contenção.

Outros pontos reforçam essa fragilidade no desenvolvimento dramático e na encenação de Wakamatsu. Um deles é a inserção repentina de fragmentos deslocados no tempo e, em alguns casos, da realidade, como projeções hipotéticas, quando um dos especialistas comenta sobre os possíveis efeitos da destruição total da usina, e flashbacks, como na cena em que um personagem comenta sobre Chernobyl, ou ainda quando o comandante de uma base estadunidense no Japão – personagem totalmente irrelevante dentro da trama – relembra sua infância em Fukushima. A tentativa de acenar ao mercado norte-americano, por sinal, surge como um dos elementos mais descartáveis do longa, incluindo diversas cenas completamente aleatórias trazendo um personagem, que se supõe ser o embaixador dos EUA, isolado em seu escritório e clamando insistentemente pelo auxílio da Casa Branca.

Resta a Fukushima: Ameaça Nuclear alguma capacidade de reter o interesse quando Wakamatsu se limita às convenções do filme-catástrofe. Com a ajuda de um trabalho competente da equipe técnica e de efeitos especiais na criação de sequências como a do tsunami ou das explosões dos reatores, o cineasta consegue estabelecer alguma tensão – a exasperação dos funcionários escolhidos para a missão suicida de resfriar os reatores também é bem captada – ainda que a noção de corrida contra o tempo, com o informe constante das horas decorridas desde o tremor inicial, não obtenha completamente o efeito desejado. Tais fatores, contudo, não compensam a debilidade dramática do longa, especialmente em seu ato final, recheado de frases e atos heroicos. É compreensível o desejo de exaltar a postura destas pessoas que batalharam, colocando suas vidas em risco, para evitar uma tragédia ainda maior. Mas, até por isso mesmo, estas mereciam uma representação mais sólida, que fosse além das simples boas intenções.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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