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Crítica


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Sinopse

Theodomiro começou a lutar contra a ditadura aos 14 anos. Quando tinha 18, foi capturado, matando um militar enquanto tentava resistir. Ele permaneceu 9 anos preso, resistindo à tortura, decidindo então fugir. Mais de 40 anos depois, ele refaz esse caminho rumo à liberdade.

Crítica

Por mais que o cinema brasileiro tenha demorado para colocar o dedo na ferida e falar da Ditadura Militar após o seu término, nos últimos anos temos visto exemplares interessantes que resgatam aquele momento histórico conturbado. Eles servem como complemento às aulas de História, buscando um retrato acurado do período. Ainda que tenhamos bons filmes de ficção que abordam a temática, os documentários têm feito um trabalho mais abrangente e recorrente, fazendo com que sempre tenhamos um novo produto para que jamais esqueçamos daquele período negro. Empossados da História, temos como não a repetir.

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Em Galeria F, a diretora Emilia Silveira (ex-presa política durante a Ditadura) busca novamente a temática dos anos de chumbo, algo que já havia feito no ótimo Setenta (2013). Neste novo trabalho, ela percorre junto do também ex-preso político Theodomiro Romeiro dos Santos, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, o caminho que este empreendeu buscando sua liberdade. Preso aos 18 anos após assassinar um sargento do exército na tentativa de salvar um de seus companheiros, Theodomiro passou nove anos na prisão. Ele foi o primeiro preso brasileiro condenado à morte, mas sua pena acabou sendo revogada e transformada em prisão perpétua. Sua segurança, no entanto, não estava garantida. Ao chegar o momento da anistia, o homem no cárcere tinha certeza de que seria assassinado por um de seus companheiros de prisão à mando da repressão. Sem dúvidas, bolou um plano para fugir e assim o fez. No filme, Theodomiro relembra esse passado ao lado de antigos amigos e de seu filho caçula, Guga.

Emilia Silveira escolhe contar a história de Thedomiro de forma não cronológica. Já sabemos de antemão que ele escapou da prisão e que o doc remontará essa trajetória, mas os fatos que se deram até essa fuga nos são contados fora de ordem. Esse recurso é interessante por acabar se assemelhando à própria memória do retratado. Não lembramos dos eventos de forma cronológica, geralmente. As peças vão sendo contadas e a cada novo fato, outro é relembrado e explanado. A diretora sabe que tem um personagem riquíssimo nas mãos e deixa a história ser contada por ele sem muitas firulas. Vamos visitando locais que serviram de pouso ou de passagem e ele faz uma viagem ao passado para relembrar aqueles momentos. Muito falante, articulado e inteligente, o protagonista é o grande predicado do documentário, nunca deixando a atenção do espectador cair, dada a sua habilidade sem igual de contar histórias.

Em alguns momentos, a cineasta se permite entrevistar amigos e antigos parceiros de Theodomiro para ampliar a história e buscar outros olhares. Mesmo nestes momentos, o protagonista gosta de participar, muitas vezes complementando a fala do colega. Tudo indica que estas inserções não eram planejadas, visto que a câmera parada no entrevistado em questão nunca o abandona, com Theodomiro participando fora do quadro, quase como alguém da equipe de filmagem.

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Galeria F mostra as agruras pelo que passou o retratado e seus parceiros. Tortura, aprisionamento, assédios físico e mental. As cenas na prisão mostram os maus bocados pelos quais viveram aqueles homens em uma realidade que não é tão longínqua quanto poderíamos pensar. Mais um bom documentário sobre os anos de chumbo, Emilia Silveira aponta sua câmera para um homem em específico, mas neste microcosmos consegue expandir a temática para todo um período. Com trama bem estruturada e ótimos depoentes, o filme se mostra um programa obrigatório.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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