Crítica
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Sinopse
Mike é advogado e faz um bico como treinador de luta para um time escolar. A chegada de um novato promissor à cidade o enche de esperanças de voltar aos velhos e bons tempos.
Crítica
No meio de tantos títulos de destaque que a temporada de premiações do Oscar traz à tona, volta e meia alguns acabam perdidos na poeira. Neste ano, um deles é esse Ganhar ou Ganhar, um produção pequena e independente que faturou cerca de US$ 10 milhões nas bilheterias americanas (a metade do salário médio da Julia Roberts) e que aqui no Brasil permanece inédito nos cinemas, tendo sido lançado diretamente em home vídeo (em blu-ray e DVD). E, após conferi-lo, temos mesmo a impressão que foram baixas também as pretensões do projeto, que certamente não irá mudar a vida de ninguém que resolver investir nele. Mas talvez seja justamente por isso que seu charme conquiste, prendendo a atenção do início ao fim enquanto acompanhamos as desventuras do protagonista vivido pelo acima da média Paul Giamatti (Tudo pelo Poder, 2011).
Poucos atores possuem uma cara tão perfeita de fracassado quanto Giamatti. Não foi à toa que seu primeiro papel de destaque foi como o loser derrotado de Sideways: Entre Umas e Outras (2004). Dessa vez ele aparece como um advogado à beira da falência que divide seu tempo entre o escritório humilde, a família amável (duas filhas ainda crianças e uma esposa atenta e participativa, interpretada pela competente Amy Ryan) e um hobby que desenvolve nas horas livres como técnico do time de luta livre da escola do bairro. Ou seja, estamos diante de pessoas normais, que enfrentam dilemas do cotidiano, como falta de dinheiro, a velhice que vem chegando aos poucos, a preocupação com o futuro, mas que seguem vivendo, apaixonados, felizes e bravos em suas lutas. Ninguém é perfeito, como qualquer ser humano que erra e acerta. Isso fica evidente quando o protagonista decide dar um pequeno golpe na justiça ao se encarregar pela guarda legal de um idoso e, assim, ficar de posse de uma mensalidade oferecida pelo senhor.
É importante perceber que, mesmo tendo agido errado, tal feito não foi fruto de uma artimanha ou de um golpe maquiavélico. Isso não o torna um vilão. Nada mais é do que consequência das circunstâncias, e quem faria diferente caso enfrentasse a mesma situação? E realmente tudo teria dado certo, sem maiores problemas, caso o neto do homem, que até então não possuía família, não decidisse aparecer de uma hora para outra. Mas o jovem não está atrás de vingança ou com motivos escusos. Ele quer apenas se encontrar. E isso acaba acontecendo ao ser abraçado pelo próprio advogado, que o leva para casa e passa a tratá-lo como filho. Neste ponto é que se farão presentes as duas surpresas que mudarão o rumo de Ganhar ou Ganhar: o garoto se revela um mestre da luta livre, mudando os rumos do time local, ao mesmo tempo em que a mãe dele – e filha do velho – aparece, complicando aquelas relações tão fragilmente estabelecidas.
Nos Estados Unidos costuma-se dizer que uma troca é win win quando ambos os lados saem ganhando. Ou seja, é Ganhar E Ganhar, sem outras possibilidades. Isso pode ser aplicado ao esporte, mas também à vida, quando percebemos que toda discussão, roubo, golpe, trapaça, mentira só leva à desgastes e desperdícios. Todo mundo só tem a ganhar quando nos abrimos e aceitamos a verdade, com sinceridade e honestidade. É o que aqui acontece, e muito disso se dá pela ótima performance do elenco e pelo excelente e delicado roteiro de Tom McCarthy (também diretor da produção e intérprete em filmes como Conduta de Risco, 2007, e A Conquista da Honra, 2006). Seu texto foi indicado ao Critics Choice Awards, ao Independent Spirit Awards e ao Writers Guild of America Awards, e sua exclusão do Oscar foi considerada uma das grandes injustiças do ano. Porém, a despeito das premiações, o que sobre no final são os bons filmes, e esse é um que merece ser descoberto.
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