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Sinopse

Rachel é uma mulher que sofre as dores de um divórcio recente. Acostumada à sua rotina solitária, passa o tempo de viagem até o trabalho fantasiando sobre um casal aparentemente perfeito que vive em uma casa no caminho do seu trem. Só que em uma manhã, pela janela do vagão, vê algo surpreendente acontecer e se torna parte de um mistério.

Crítica

As garotas em seus títulos, os best-sellers escritos por mulheres que lhes deram origem, as performances soberbas de suas protagonistas, as tramas que envolvem desaparecimentos. São várias similaridades entre Garota Exemplar (2014) e este A Garota no Trem, mas infelizmente as relações terminam aí. Enquanto o primeiro apresenta uma narrativa intrincada soberbamente dirigida por David Fincher, o outro, preguiçosamente conduzido pelo ator e cineasta Tate Taylor, entrega um thriller sôfrego e tão cambaleante quanto sua personagem principal, alcoólatra desempregada que acredita ter testemunhado um crime.

Baseado no livro homônimo de Paula Hawkins, A Garota no Trem é Rachel (Emily Blunt), inglesa radicada nos Estados Unidos que viaja todos os dias para a ilha de Manhattan enquanto imagina a vida dos moradores das casas pelas quais passa. Uma delas é de Scott (Luke Evans) e Megan (Haley Bennett), casal que ela idealiza como perfeito até a moça desaparecer. Outra das casas já foi sua, mas agora é habitada pela família de Anna (Rebecca Ferguson) e Tom (Justin Theroux), ex-marido de Rachel. Certa de que possui informações importantes para auxiliar a polícia no caso de Megan, passa a se envolver na investigação e, aos poucos, descobre já estar conectada ao caso de várias outras formas.

Ao manter a estrutura original do romance de Hawkins, a roteirista Erin Cressida Wilson sustenta as múltiplas perspectivas de Rachel, Megan e Anna sobre o que acontece ao seu redor, realidades distintas que aos poucos vão se relacionando. O que funciona na literatura, ao envolver o leitor pela expectativa dos próximos capítulos narrados por uma personagem diferente, se perde na adaptação e chega a cansar quando o filme insiste nas narrações em off para explicar tudo o que vemos em tela: o passado de cada mulher, seus dramas pessoais, motivações e conflitos em suas relações já são vistos e reforçados a partir dos diálogos, mas Wilson insiste em descrever cada detalhe para garantir que o espectador incauto não se perca na trama. Esta é a escolha usual das fracas adaptações literárias, talvez motivadas a não decepcionar os leitores que esperam uma versão “fiel” das páginas nas telas.

Previsível em suas resoluções, A Garota no Trem até engata algum suspense a partir de sua sinopse, mas logo derrapa em um terceiro ato que não deveria apostar no modelo whodunit, afinal não existem muitos personagens possíveis para que o espectador brinque de adivinhar quem é o responsável pelo desaparecimento de Megan. É interessante considerar que a premissa do thriller envolve uma história protagonizada por três mulheres e suas lutas para fugir de relacionamentos abusivos, numa atmosfera feminista que ainda tem uma investigadora de polícia empoderada interpretada pela excelente Allison Janney. No entanto, o filme sequer passaria no teste de Bechdel, uma vez que essas mulheres estão sempre às voltas com os homens ao seu redor e ao seu dispor: Rachel se humilha para ajudar Scott, Megan parece só satisfeita quando ao lado de seu psiquiatra e amante (Edgar Ramírez) e Anna não espera nada da vida além de sua rotina suburbana como dona de casa e esposa.

O que impede este A Garota no Trem de se tornar aquela sessão regular de suspense televisivo e descartável é Emily Blunt. A atriz, que brilha quando protagonista de grandes filmes como Sicario: Terra de Ninguém (2015), aproveita as nuances possíveis como a alcoólatra derrotada que se agarra em qualquer ponta de motivação para continuar vivendo. Ao seu lado, o elenco parece todo de coadjuvantes: Blunt domina cada sequência com seus olhos grandes e expressivos, numa performance despida de maneirismos e que exalta a fragilidade de sua personagem.

Ainda engatinhando em suas pretensões cinematográficas, Tate Taylor dá espaço para protagonista e personagem e se esconde atrás destas; sua direção é pouco inspirada e não demonstra quaisquer momentos dignos de nota. Como em Histórias Cruzadas (2011), o cineasta se limita a direcionar suas câmeras para onde a ação acontece e deixa a responsabilidade para atores e roteiro. A estratégia pode ter dado certo em seu drama sobre racismo, mas aqui era necessária uma direção mais segura e ousada. Ele deveria ter se perguntado o que David Fincher faria.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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