Crítica
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Sinopse
Ator passando por dificuldades emocionais e financeiras, Jérémie decide ir para Paris a fim de mudar de ares. Na companhia de sua mãe, ele não demorará a perceber que a nova rotina pode ser ainda mais angustiante.
Crítica
Jérémie está triste. Ou talvez fosse melhor dizer que Jérémie é triste. É mais o seu jeito de ser, e menos uma sensação passageira. Um estado de sobrevivência, para diminuir as expectativas e se preparar para o pior. Seja no trabalho, nas relações familiares, ao lidar com estranhos ou até para sobreviver a um namoro que, cedo ou tarde, chegará ao fim. Ele sabe disso. Está convencido. Tanto é que agirá de modo como se a separação fosse o próximo passo lógico a ser dado. Sem se dar conta, é claro, que será o seu comportamento que levará ao desfecho que tanto teme e espera. É quase como o antigo paradoxo: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? O casal irá terminar por sua culpa, ou estaria apenas antevendo algo inevitável? Em meio a um turbilhão de emoções que o deixa sensível a um ponto quase incontrolável, há apenas um refúgio no qual lhe é possível se recolher: o afeto materno. Garoto Chiffon é mais do que um apelido carinhoso ou um dengo íntimo: é um modo de ver a vida. Mas se quiser sobreviver ao seu próprio caos, outras lições precisarão ser aprendidas.
Por mais incrível que possa parecer, Jérémie trabalha como ator, e leva uma existência independente em Paris. Mora sozinho, paga seu aluguel em dia e possui contatos funcionais com diversas pessoas ao longo do dia. Essa superfície de normalidade se afasta no instante seguinte ao que é deixado sozinho, quando se recolhe aos pensamentos internos e permite que a insegurança tome conta de si. Abandonado diante da tela grande, pensa encontrar a atenção pela qual tanto anseia quando, na porta de saída, se depara com o namorado lhe aguardando. O sorriso surge em seu rosto de forma imperativa, mas os fantasmas que desde muito o acompanham não permitem que essa felicidade se sustente por mais do que por alguns instantes. Logo os dois estarão discutindo, os ânimos exaltados, e o que se antecipava como um final de noite apaziguador, rapidamente se vê trilhando caminhos distantes dessa possibilidade. Jérémie não percebe, mas não está só. Nem mesmo antes, no isolamento que pensava ter alcançado dentro do pequeno cinema que escolheu para se esconder.
Entre idas e vindas, novas chances que não se confirmam e apostas que resultam vazias de mudanças concretas, Jérémie se vê sem amor, sem emprego, sem amigos. Quando na situação pela qual tanto se preparava, percebe não saber como lidar com ela, e por isso recorre a uma ajuda superior. Será na volta às origens que partirá em reencontro com a mãe, aquela que surge como a única capaz de entendê-lo, por mais que deixe transparecer não ter mais a paciência de antes, quando o mimava sem limites. Essa mulher o reconhece como parte de si, mas também como pertencente a um passado que ela não mais ambiciona. A volta para casa se dá por um motivo disruptor – a morte do pai – mas para ela as razões se confundem (não se vê como viúva, os dois estavam há anos separados). Assim, precisa acolher o filho, mas também mostrar que o caminho que escolheu para si não é o de antes. Optou por trilhar escolhas mais excitantes. E espera que o jovem possa seguir seu exemplo.
Nicolas Maury possui uma carreira que começou na virada do século XXI. Popular após sua participação na série Dez Por Cento (2015-2020), dá o passo mais ousado de sua filmografia com Garoto Chiffon, não apenas por assumir um personagem quase autobiográfico, mas também por tomar as rédeas do projeto nos bastidores. É sua estreia como diretor e roteirista, e o resultado evidencia essa inexperiência. Há soluções apressadas por um lado, e demoras além da conta por outro. Ao mesmo tempo, porém, se sobressai uma vontade de alcançar algo diferenciado, sobretudo pessoal, e portanto, singular. Não recai em escolhas fáceis ou desfechos óbvios. Assume os riscos, e mesmo que nem sempre consiga superá-los com efeito, ao menos deles consegue se desvencilhar. Os méritos vão além das armadilhas que apenas o tempo poderá lhe precaver.
Por trás de muito do que é discutido em cena, um sentimento se repete, se reconfigura e se mostra constante: o ciúmes. Jérémie se confunde com Maury, que traz para esse personagem muito do que já fora visto em Hervé, criação do programa que o tornou conhecido. São os detalhes que o tornarão único. O medo de perder o homem que ama, o papel com o qual sonhou, o carinho da única mulher que dele conseguiu se aproximar. São essas variantes de um mesmo pedido de socorro. Garoto Chiffón pode se imaginar deslumbrante como um vestido de gala, mas na maior parte do tempo se acredita ultrapassado, descartável e superado. Será no esforço para encontrar um meio termo entre esses extremos que precisará entregar sua sanidade, para que a partir dela descubra como seguir em diante, levando consigo as lições dos tropeços passados e as expectativas das descobertas futuras. Um equilíbrio delicado, mas possível de ser alcançado. Para tanto, basta abrir os olhos e enxergar o que tão perto está. Parece simples, mas pode fazer toda a diferença do mundo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Francisco Carbone | 7 |
Bruno Carmelo | 8 |
MÉDIA | 6.8 |
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