Crítica
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Sinopse
Mike e Scott são dois garotos de programa que moram nas ruas de Portland, Oregon. Fazem parte de um grupo de excluídos sociais, que se juntam num prédio condenado para fazer tumulto e se venderem a quem esteja disposto a pagar por eles. Apesar de insatisfeitos e perturbados, têm personalidades bem diferente: Scott é rebelde e se prostitui para humilhar sua família, já Mike é um sonhador, um rapaz gentil que está apaixonado pelo melhor amigo, e quer encontrar a mãe. Juntos se metem em diversas encrencas e vão do Idaho até a Itália para encontrar a mãe de Mike.
Crítica
Quando Gus Van Sant estreou no cinema, com o independente e autoral Mala Noche (1986), ele foi alçado à condição de nova voz e muitos estúdios o procuraram, interessados em investir no próximo passo do cineasta – desde que, é claro, esse movimento atendesse a um equilíbrio entre o experimental e o comercial. Foi por isso que Garotos de Programa precisou dar espaço ao elogiado Drugstore Cowboy (1989) – segundo filme do diretor, que chegou a ser premiado no Festival de Berlim. Pois foi somente com o sucesso deste trabalho que Van Sant conseguiu a segurança necessária para realizar este que era o seu projeto dos sonhos exatamente da forma como havia concebido, sem a interferência de forças externas. E o resultado é um longa que se mantém em pé pelas próprias pernas, ainda que se demonstre hermético em alguns momentos, justamente por sua recusa em fazer concessões.
Por mais poético que seja o título original – My Own Private Idaho, ou seja, Meu Idaho Pessoal, em tradução livre, que fala da relação do protagonista com seu estado natal – o nacional Garotos de Programa foi uma escolha acertada, ainda que genérica. Afinal, o que temos em cena em grande parte da trama é o cotidiano de dois michês, rapazes que vivem de fazer sexo em troca de dinheiro, tanto com homens quanto com mulheres. Os personagens principais são vividos por River Phoenix, em um de seus papéis mais arriscados e ousados, e Keanu Reeves, que também soube assumir um risco calculado. O primeiro é Mike, um jovem desgarrado, sem pai e filho de uma mãe da qual não sabe o paradeiro. Ele quer reencontrar suas raízes, mas a constante narcolepsia – que vive lhe derrubando nas condições mais impróprias – e a paixão que sente pelo o amigo complicam sua jornada. O segundo é Scott, filho de família rica que se rebelou contra as mordomias paternas e decidiu ir para as ruas como sinal de protesto. Para um, tudo é extremo e irremediável. Para o outro, a situação é oposta, como uma grande brincadeira em que uma rede de proteção o espera no final.
O estilo de filmar de Van Sant ainda estava se firmando neste terceiro longa, e muitas das experiências que ele tenta com a linguagem denotam um realizador em busca de uma voz própria. Algumas são certeiras, como as cenas de sexo – homo e heterossexual – que fazem uso de frames fixos para darem luz a uma beleza plástica e anticonvencional. Outras parecem equivocadas, como o uso de depoimentos reais de prostitutos em estilo semidocumental, que terminam por soar anacrônicos dentro da proposta de mundo quase onírica perseguida pelo resto da trama. Há ainda algumas escolhas de roteiro que poderiam ser questionadas, como a comunidade do submundo dos meninos de programa – quase como os Garotos Perdidos de Peter Pan – ou toda a etapa italiana, que resulta em um desvio que exige do enredo um desenvolvimento que termina por não se justificar. Talvez se apostasse mais na concisão, os resultados fossem mais efetivos.
Estes detalhes, no entanto, de forma alguma apontam para um filme que no seu todo poderia ser qualificado como problemático. Garotos de Programa é um longa bastante diferenciado, seja pela coragem dos envolvidos – Phoenix tem aqui o ponto alto de sua curta trajetória, em uma atuação de total entrega, a qual participou contra o desejo do seu agente – e pela audácia de algumas opções, como a cena das capas de revistas gays – genial pela sua simplicidade – ou pelo formato dos diálogos, construídos de modo shakespeariano, porém inseridos em um contexto contemporâneo – algo que Baz Luhrmann faria com maior impacto cinco anos depois em Romeu + Julieta (1996), evidenciando o vanguardismo de Van Sant. Imprescindível para qualquer um dos admiradores destes artistas, esta é uma obra muito à frente do seu tempo, e as mais de duas décadas que nos separam do seu lançamento servem de forma decisiva para comprovar a veracidade deste fato.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Thomas Boeira | 8 |
Wallace Andrioli | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
MÉDIA | 9 |
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