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Sinopse

Depois que um de seus filhos gêmeos morre num trágico acidente, Rachel e Anthony se mudam com o menino remanescente com o intuito de construir uma nova vida. No entanto, não demora para surgirem forças do mal.

Crítica

O cinema de horror sempre se valeu da venda de fortes emoções para captar espectadores. Na virada do último século, outras linguagens se uniram ao gênero para reforçar ainda mais as sensações de abalo. É o caso do plot twist, que se tornou quase uma regra a partir do sucesso de O Sexto Sentido (1999). Entretanto, é necessário mais do que apenas embaralhar as cartas e reorganizá-las ao final da trama para gerar tal perturbação. Gêmeo Maligno tenta seguir os passos de um obra do início da carreira de M. Night Shyamalan, mas acaba por se enterrar na vala de projetos como Boneco do Mal (2016), por exemplo.

O enredo escrito por Aleksi Hyvärinen e pelo diretor Taneli Mustonen, ambos responsáveis por Lago Bodom (2016), segue a mãe, Rachel - interpretada de maneira esforçada por Teresa Palmer -, atormentada após perder um de seus gêmeos em um acidente de carro. Na busca por conforto familiar, ela, o marido, Anthony (Steven Cree), e o filho restante, Elliot, se mudam para um casarão no interior da Finlândia. Lá, o escritor e patriarca da família poderá desenvolver seus livros na paz do meio rural e aconchegar a esposa e o garoto.

Um destaque dos filmes que se ancoram no recurso das reviravoltas, é deixar peças soltas ao longo da trama para que se conectem pouco a pouco. Esse é um demérito do filme em questão. Geralmente, há uma narrativa e outra sub-narrativa enganosa por cima da real. Aqui, temos uma terceira exposição, evidenciado um claro rastreio do diretor em dificultar uma percepção do objeto final. Nesse momento, surgem os conflitos do roteiro, pois a fábula soa mentirosa. O desenrolar da trama leva o espectador a um culto nos moldes de O Bebê de Rosemary (1968), dando tons de conspiração por parte do marido de Rachel e dos moradores do vilarejo escandinavo. A teoria criada pela mãe é que teriam feito algum ritual com o filho perdido e podem querer mais com o que ainda está vivo. Na sequência, após diversas teorias desconexas, descobre-se que ela sempre teve apenas um filho, e que o falecido no infortúnio automobilístico seria aquele único mesmo. Ou seja, não possui mais nenhum e delira com a existência de dois. 

Para além do desafinamento de ideias, há outro ponto problemático em Gêmeo Maligno. A protagonista adota um caráter semelhante à de Julianne Moore em Os Esquecidos (2004), uma mãe implacável e que fará de tudo para recuperar a prole. Mas diferente da vencedora do Oscar, Teresa é exposta ao espectro da loucura. Rachel não passa mais do que a imagem de uma moça confusa e problemática. Esse julgamento é reforçado no terceiro ato, no qual além de descobrirmos que todos os conceitos surgiram de uma cabeça repleta de traumas, o cônjuge surge com um herói. Exato, Anthony enfrentou a tudo e a todos para proteger sua família. Como recompensa, recebe um fim trágico pela loucura de sua mulher.

Conclusivamente, nem o título da empreitada é sincero e a impressão final é de que Mustonen poderia ter recorrido a outras ferramentas. Todavia, o responsável por esse terror de aspecto nórdico aproveita-se, basicamente, do reforço aos estereótipos para finalizar o script frágil. Ao final de tudo, ficamos com o "melhor esposo do mundo", que preferiu uma esposa desequilibrada e reclusa ao invés de buscar um tratamento psicológico para a amada.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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